Este ecossistema inclui muitos nomes – turfeiras, pântanos, pauis, lamaçais, poças primaveris, lagunas, bayous, billabongs, charcos e outros tipos de campos e florestas encharcados em água, mas pertencem todos à ampla categoria das zonas húmidas. É a presença de água, seja doce ou salgada, acima ou imediatamente abaixo do solo, que caracteriza uma zona húmida. Saberá que está numa zona húmida quando as suas pegadas ficarem enlameadas e molhadas.

As zonas húmidas compõem apenas 6 por cento da superfície terrestre. Apesar da sua presença pequena, as zonas húmidas desempenham um papel importante, fornecendo água doce e habitats e combatendo as alterações climáticas.

Historicamente, as zonas húmidas eram consideradas inaproveitáveis. Muitas foram drenadas e cobertas com sedimentos para se tornarem terrenos sólidos para construir estruturas como casas, auto-estradas e edifícios comerciais. No entanto, proteger estes ambientes pouco compreendidos pode ajudar a vida selvagem a prosperar e proteger-nos do clima em mudança.

O que são zonas húmidas?

Estes ecossistemas diversificados existem em todos os continentes excepto na Antárctida.

De um modo geral, estão divididos em duas categorias: costeiros ou interiores. As zonas húmidas costeiras são uma mistura de água doce e salgada: uma combinação denominada água salobra. Este tipo de zonas húmidas assume a forma de sapais de água salgada repletos de erva e florestas de mangue.

Zonas húmidas

Um cardume de peixes-rei nada numa floresta de mangue. Estas florestas de zonas húmidas costeiras impedem a erosão e protegem habitações de tempestades causadas por furacões. Fotografia de David Doubilet, Nat Geo Image Collection.

As zonas húmidas interiores incluem poças primaveris, pântanos em bosques, turfeiras ou pradarias alagadas junto a rios e lagos. Embora muitas zonas húmidas interiores contenham água doce, algumas são salgadas. O seu aparecimento deve-se a climas chuvosos ou a água subterrânea que aflora à superfície. Algumas são sazonais, surgindo apenas durante as estações chuvosas.

Protegendo contra as cheias e purificando a água

Eternamente no limbo, as zonas húmidas são “zonas de transição” entre a terra seca e a água. Durante as cheias, absorvem a chuva em excesso que, de outro modo, causaria cheias e danificaria habitações. Meio hectare de zonas húmidas pode armazenar cerca de 4 milhões de litros de água de cheias.

Desde o século XVIII, foram destruídos cerca de 30 milhões de hectares de zonas húmidas na zona superior da bacia do rio Mississippi para empreender desenvolvimentos agrícolas e urbanos. Essa perda ambiental contribuiu para a desastrosa cheia ocorrida na região em 1993, que causou danos no valor de mil milhões de dólares.

No entanto, a protecção das zonas húmidas sob a forma de parques urbanos e espaços verdes junto ao rio Charles, em Boston, preveniu um prejuízo estimado em 17 milhões de dólares em potenciais danos causados por cheias, segundo um estudo efectuado pelo Corpo de Engenharia do Exército dos EUA.

Zonas húmidas

Flamingos acorrem à Reserva Pantanosa de Al Wathba, nos Emirados Árabes Unidos. As zonas húmidas sustentam diversas espécies de vida selvagem e são criticamente importantes para as aves que as usam para acasalar, caçar e descansar durante as suas longas migrações. Fotografia de Matthieu Paley, Nat Geo Image Collection.

Junto à costa, as zonas húmidas ajudam a conter a fúria das tempestades que se dirigem para terra, nomeadamente furacões.

Quando o escoamento de águas contém poluentes como adubos agrícolas, as zonas húmidas funcionam como filtros de água naturais que absorvem esses nutrientes e os impedem de alcançar lagos e rios. Presos nas partículas do solo, os químicos são abrandados por plantas que crescem nas zonas húmidas, ficando suspensos, e os poluentes são travados pelas raízes das plantas.

O pântano Congaree Bottomland Hardwood, na Carolina do Sul, filtra tanta poluição todos os anos que seria necessária uma fábrica de filtragem no valor de 5 milhões de dólares para filtrar a mesma quantidade de água, segundo a Agência de Protecção Ambiental (EPA).

Sustentando a vida

Espécies de fauna e flora conhecidas, como aligatores, tartarugas e serpentes, vivem em zonas húmidas de todo o mundo. Na América do Norte, as aves migratórias usam estes habitats como pontos de paragem nas suas viagens de travessia do país. Dos 12 milhões de aves aquáticas existentes nos EUA, até dois terços reproduzem-se em zonas húmidas do Midwest.

Zonas húmidas

Uma expedição rema no rio Okavango, em Angola. As zonas húmidas formam-se durante a estação das chuvas e servem de lar a dezenas de milhares de flamingos todos os verões. Fotografia De Pete Muller, Nat Geo Image Collection.

Estes ecossistemas também são importantes para os seres humanos. As suas águas calmas são zonas de reprodução para valiosas espécies de peixe e marisco como robalos e ostras. As zonas húmidas desempenham um papel no ciclo vital de 75 por cento destas espécies exploradas comercialmente nos EUA.

Globalmente, dois terços de todos os peixes que consumimos passam pelo menos parte da sua vida em zonas húmidas. Estima-se que mil milhões de pessoas em todo o mundo dependam das terras húmidas para o seu sustento e actividades como a pesca, orizicultura, caça ou turismo.

Combatendo as alterações climáticas

Uma vez libertados, a maioria dos gases com efeito de estufa permanece na atmosfera, aquecendo o planeta. No entanto, cerca de 26 por cento são absorvidos por plantas que crescem em terra. Estes tipos de ecossistema denominam-se sumidouros de carbono e absorvem milhões de toneladas de carbono todos os anos.

As zonas húmidas são sumidouros de carbono que, quando destruídas, podem tornar-se uma grande fonte de emissões de gases com efeito de estufa. No seu conjunto, as zonas húmidas contêm cerca de um terço do carbono mundial e, quando se degradam, as emissões retidas nos seus solos são libertadas.

Zonas húmidas

No Parque Nacional de Muddus, na Suécia, turfeiras ligam bosques de coníferas. Estas zonas húmidas armazenam enormes quantidades de dióxido de carbono, que é perigoso quando libertado novamente na atmosfera. Fotografia de Orsolya Haarberg, Nat Geo Image Collection.

É particularmente importante preservar as turfeiras, se quisermos impedir que as zonas húmidas se transformem numa fonte de poluição atmosférica. As turfeiras ocupam apenas 3 por cento da superfície terrestre, mas os seus solos encharcados em água armazenam duas vezes mais carbono do que as florestas do planeta – cerca de 30 por cento de todo o carbono retido nos solos. Degradá-las seria dar início àquilo que alguns cientistas descreveram como “bomba de carbono”.

Quais as ameaças enfrentadas pelas zonas húmidas?

Embora as zonas húmidas sejam cada vez mais reconhecidas como ecossistemas importantes, a sua drenagem para fins de desenvolvimento ainda hoje é praticada. Só nos EUA desaparecem cerca de 40.000 hectares de zonas húmidas todos os anos. O estado do Louisiana perde cerca de um campo de futebol de pântanos a cada hora.

Em países como a Escócia e a Argentina, onde as turfeiras são comuns, as zonas húmidas são destruídas pela remoção de turfa para ser queimada como fonte de energia.

As espécies invasoras de fauna e flora também podem destruir os habitats das zonas húmidas. Os castores e as lontras, um tipo de roedor invasor, danificam-nas, devorando plantas que agregam o solo.

Terras húmidas em tribunal

Este ano, o Supremo Tribunal dos EUA irá pronunciar-se sobre um caso chamado Sackett v. EPA, que poderá ter consequências profundas na forma como a protecção das zonas húmidas é regulada nos Estados Unidos. Em 2007, a EPA impediu a família Sackett de construir a sua casa, alegando que a propriedade incluía uma zona húmida que alimentava um lago situado nas proximidades que pertencia à sua jurisdição. Para construir a sua casa, a família teve de cobrir a terra com sedimentos. Os Sackett processaram a EPA em 2008, afirmando que a sua propriedade não era suficientemente húmida para ser classificada como zona húmida.

O veredicto dependerá de a zona húmida existente na propriedade dos Sackett ser, ou não, considerada relevante para as águas federais que existem nas suas proximidades. As zonas húmidas mais obviamente ligadas a rios, lagos e orlas costeiras tendem a beneficiar de mais protecção do que aquelas cujas ligações a águas navegáveis são menos evidentes – frequentemente zonas húmidas que não são adjacentes a um corpo de água ou que são sazonais.

Os advogados da EarthJustice, um escritório dedicado à protecção ambiental, dizem que a decisão do Supremo Tribunal poderá reduzir dramaticamente a quantidade de zonas húmidas protegidas pela lei Clean Water Act.

O que estamos a fazer para protegê-las?

Em 1971, líderes mundiais encontraram-se na cidade iraniana de Ramsar para redigir um tratado global de protecção das zonas húmidas – a Convenção sobre Zonas Húmidas de Importância Internacional. O tratado foi assinado por 171 países até à data, mas desde que entrou em vigor, em 1971, mais de um terço das zonas húmidas de todo o mundo foram destruídas.

Em 2021, cientistas publicaram um artigo argumentando que as zonas húmidas deveriam ter direitos legais devido ao papel que desempenham no suporte da vida na Terra.

Empresas privadas também estão a ver as zonas húmidas como possíveis fontes de créditos de carbono, que permitem a indivíduos e empresas “compensar” teoricamente as suas emissões de carbono, contribuindo para a conservação ou restauro de ecossistemas que absorvem as suas emissões equivalentes.

Nos locais onde as zonas húmidas já foram destruídas, existem alguns projectos ambiciosos que esperam recuperá-las.

Os mangues pantanosos de Miami Beach foram destruídos há 100 anos, mas a cidade planeia restaurar o ecossistema para limitar a erosão da linha costeira e prevenir cheias. E o estado do Louisiana tem um plano ambicioso para permitir que os rios recuperem a sua forma natural e depositem sedimentos fluviais nos pântanos a sul, ajudando a reconstruir as zonas húmidas da orla costeira.

Um relatório publicado pela Convenção de Ramsar diz que as terras húmidas do planeta continuam a desaparecer a uma velocidade alarmante, mas os projectos de conservação e restauro oferecem esperanças de salvação.

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