Não é fácil estudar peixes esquivos que habitam cavidades de lama escura. Por essa razão, o estudo de muitas espécies de cabozes é incompleto e alguns comportamentos conhecidos são um pouco estranhos. Por exemplo: os cabozes de uma determinada espécie mantêm os olhos salientes húmidos, recolhendo-os profundamente nas suas órbitas e fazendo-os “saltar” novamente, capacidade que deu o nome ao género Boleophthalmus, ou “olho ejectado”.

Quando chega a altura de estes peixes anfíbios acasalarem nas zonas intertidais tropicais, o macho desenvolve exuberantes exibições de corte, agitando as barbatanas e saltando para o ar. A fêmea impressionada segue o macho até uma câmara-ninho para acasalarem longe de olhares indiscretos. Graças a um endoscópio e a ferramentas para escavar, Atsushi Ishimatsu, da Universidade de Nagasáqui, no Japão, e a sua equipa reuniram elementos que permitem algumas conclusões sobre a forma de reprodução destes cabozes.


O macho constrói uma câmara que servirá de ninho. A cavidade enche-se parcialmente de água, mas tem um tecto abobadado para manter uma bolsa de ar. A fêmea deposita os ovos no tecto e o macho fertiliza-os. Depois de a fêmea sair, o macho cuida dos ovos durante a gestação. Para manter o nível de oxigénio de que os ovos precisam, o macho nada até à superfície, engole ar, trá-lo de volta e expira repetidamente.

Ao ver a filmagem da equipa de Ishimatsu, a colega Karen L. M. Martin deduziu que um macho pode levar “aproximadamente 100 ‘bocas cheias’” para criar a bolha de ar. O macho expectante “vigia as marés e o horário” e, no momento certo, começa a sugar o ar dentro da câmara, soprando-o para fora. A água entra, provocando o nascimento dos alevinos. Estes nadam para fora do refúgio e afastam-se.

O macho, diz Karen, é “realmente um pai carinhoso”.