Para alguns, eram as “bestas da neve”, que aterrorizavam os seres humanos quando debandavam. Para outros, eram gigantes que garantiam a sobrevivência humana. Hoje, há até alguns que sonham em “ressuscitá-los” através da genética. São os mamutes, os mamíferos lanudos que conviveram com diferentes espécies de hominídeos até desaparecerem há apenas 3.800 anos. Estes enormes herbívoros de origem africana colonizaram o continente euro-asiático durante quase quatro milhões de anos. Os seus antepassados eram os elefantes, que se adaptaram ao frio da Idade do Gelo, como o fizeram, mais tarde, os humanos primitivos com os quais conviveram, também oriundos de África. A antiga relação entre uns e outros está patente nos restos fossilizados de um cemitério de mamutes em Orce (Granada) escavado pelo paleontólogo Bienvenido Martínez-Navarro. Sabe-se que os paquidermes se dirigiam ali quando estavam a morrer, situação aproveitada pelos hominídeos há 1,4 milhões de anos para obter a sua carne, tal como o tinham feito os seus antepassados em África com os elefantes. Dadas as suas dimensões (podiam pesar oito toneladas e atingir cinco metros de altura), a sua caça deveria ser complicada, pelo que os humanos aproveitariam a carne dos exemplares mortos, das crias ou de indivíduos débeis ou doentes.

Cemitério de mamutes

No Paleolítico Médio, os mamutes devem ter-se transformado num recurso gastronómico habitual para os hominídeos. Isto é demonstrado por diversos sítios arqueológicos, incluindo em algumas regiões da Península Ibérica. No início do século XXI, foi anunciada a descoberta de uma lamela dentária de mamute no fundo do estuário do Tejo, em frente da Cruz Quebrada. Em Madrid, o cerro de Santo Isidro apresentava tamanha acumulação de ossos que no século XIX se chegou a pensar que pertenciam aos elefantes que Aníbal terá usado para atravessar os Alpes.

A relação entre hominídeos e paquidermes foi tão profunda que alguns investigadores cunharam o termo “etno-elefantologia”. Os proboscídeos têm consciência de si mesmos e uma enorme memória. Criam complexos mapas mentais e controlam o território. Assim, podem encontrar água quando há seca, pelo que é provável que os humanos soubessem que se os seguissem poderiam chegar a locais interessantes e desconhecidos.

mamutes

A caça ao mamute, uma visão idealizada da luta dos humanos para abater um destes animais.

Apesar desta aparente aliança, os humanos caçavam os mamutes para aproveitar a sua carne. Em Getafe, também em Espanha, localizaram-se vestígios de um banquete neandertal de há cerca de 84.000 anos: 82 fósseis de mamute e 754 ferramentas usadas para cortar a carne e para esmagar os ossos para obter a medula. Os neandertais foram grandes consumidores de carne de mamute e rinocerontes-lanudos, que chegaram a perfazer 80% da sua dieta. Na Sibéria, foi descoberta uma ponta de lança Musteriense (de há cerca de 40.000 anos) cravada numa vértebra de mamute e restos fósseis com feridas mortais, prova evidente de que eram caçados. Não se conhecem com segurança as estratégias de caça então utilizadas.

Há alguns anos, na ilha de Jersey, surgiu uma acumulação de ossos de mamute, o que levou a pensar que os seres humanos os acossavam até conseguirem que os animais caíssem por um precipício. Esta tese foi repetida, mas novos estudos indicam que essa acumulação talvez tenha tido origem natural. Com a chegada do Homo sapiens, a caça ao mamute expandiu-se, mas não existem evidências suficientes sobre as técnicas de caça.

O declínio do mamute começou há cerca de 21 mil anos. A sua baixa taxa de reprodução não favorecia a sobrevivência (o período de gestação atingia 22 meses) e o seu desaparecimento definitivo pode ter sido provocado pela caça, pela subida das temperaturas, por uma doença ou, porventura, por uma mistura de todas estas razões.

Adornos e pinturas

A imagem do mamute ficou imortalizada em numerosas obras de arte que mostram a sua ligação aos humanos. Conservam-se muitas pequenas imagens e adornos feitos com o seu marfim (como a escultura do Homem-Leão de Ulm de há cerca de 40.000 anos) assim como múltiplas representações parietais, como as da gruta francesa de Rouffignac, com mais de cem mamutes pintados, e do Cantábrico, as grutas de El Pindal ou El Castillo. Os seus grandes ossos também foram utilizados para construir cabanas durante o Paleolítico Superior, como as que foram encontradas na Rússia, na Ucrânia e na Polónia.

Mamute

Figura de mamute gravada num osso do mesmo animal encontrado em 1864. Abrigo de La Madeleine.

Nos últimos anos, a descoberta na tundra siberiana de DNA de mamute bem conservado alimentou a discussão sobre a possibilidade de clonar estes animais através de técnicas que fariam uso de genes do elefante-asiático. De momento, a ressurreição destes gigantes continua a ser apenas uma quimera.