O pôr do Sol derrama um brilho dourado sobre os corais que florescem ao largo da costa meridional do país. Baptizado por Cristóvão Colombo em homenagem à rainha Isabel, este conjunto isolado de ilhéus, mangues e recifes parece quase intacto, imune ao tempo e à mão humana.

Passaram 15 anos desde a última vez que explorámos os Jardins da Rainha. Neste colar de ilhéus, ilhotas de mangues e recifes, a cerca de oitenta quilómetros da costa, descobrimos um mundo marinho que nos maravilhou.

Regressámos a Cuba ansiosos pela visita a este parque nacional, com uma dimensão actual de 2.200 quilómetros quadrados. Não tinham passado apenas anos preciosos: com a aceleração das alterações climáticas, não saberíamos o que encontraríamos. No primeiro mergulho, descemos até um banco de coral da espécie Acropora palmata, criticamente ameaçada, e cuja presença está a regredir nas Caraíbas. Demos por nós no meio de um emaranhado denso, maravilhados enquanto observávamos vários peixes em luta pelo espaço entre os ramos largos. Era exactamente isto que esperávamos ver. Fôramos transportados para o passado, até um mundo de corais drapeados com peixes, como as Caraíbas eram há décadas.

O recife parecia ainda mais povoado de peixes grandes e tubarões do que na nossa primeira visita.

O instrutor de mergulho Noel López conduziu-nos até um recife mais profundo onde encontrámos quatro espécies de garoupa, incluindo uma gigante, do tamanho de um fogão. O recife parecia ainda mais povoado de peixes grandes e tubarões do que na nossa primeira visita.

Certa manhã, entrámos nos mangues e nadámos através de nuvens de peixes-rei. Aventurámo-nos para acompanhar dezenas de elegantes tubarões-luzidios. Ao fim da tarde, regressámos aos mangues e mergulhámos na água escura com luzes potentes. Seguimos um crocodilo-americano enquanto este caçava. Foi impressionante encontrar tantas presas e superpredadores num só sistema e num único dia.

Este oásis oceânico mantém-se próspero porque Cuba protege activamente esta reserva. Até agora, diz o cientista marinho Fabián Pina Amargós, o ecossistema marinho provou a sua resiliência face à lixiviação do coral, mas enfrenta a mesma ameaça de outros recifes à medida que o oceano aquece, ganha maior acidez e as águas sobem.

Com o fim do embargo norte-americano, o encanto romântico das águas de Cuba atrairá certamente mais norte-americanos. Há uma necessidade urgente de alcançar o equilíbrio entre o ecoturismo e a conservação. Cuba sabe o que está em jogo: as jóias vivas da coroa das Caraíbas. 

Peixes-rei rodopiam entre os mangues. A floresta de raízes oferece abrigo para este peixe do tamanho de um dedo, que forma cardumes de grandes dimensões para confundir os predadores. Os mangues fortalecem os recifes, proporcionando refúgios a criaturas vulneráveis e retendo sedimentos que podem asfixiar o coral. Também armazenam carbono que poderia, de outra forma, contribuir para o aquecimento global.


 

Um trio de tubarões-luzidios reluz contra o mar azul das Caraíbas. Os recifes saudáveis sustentam uma cadeia alimentar que liga o plâncton aos predadores. 

 

Os predadores incluem ainda tubarões dos recifes e peixes de grandes dimensões como o badejo-quadrado (na imagem, comendo um luciano).

 

O mar nocturno pulsa com vida invisível durante o dia. Vermes marinhos atraídos por luz formam um véu vivo.

 

Um esquadrão de lulas, conhecidas pelo seu apetite voraz e pela capacidade de comunicar através de alterações rápidas da cor e padrões da pele, caça uma refeição.

 

Uma cria de tartaruga-de-pente, espécie criticamente ameaçada, com cerca de oito centímetros de comprimento, afasta-se da costa sob a protecção do pôr do Sol. Cuba baniu a captura de tartarugas marinhas em 2008.

 

Cardumes de Haemulon sciurus e Lutjanus apodus preenchem o espaço existente entre os ramos largos de Acropora palmata. De crescimento rápido, mas frágil, este coral é uma espécie criticamente ameaçada, tendo praticamente desaparecido da maioria das Caraíbas, embora as suas populações subsistam ainda nos Jardins da Rainha.

 

Um crocodilo-americano submerso levanta-se após uma sesta nocturna numa cama de ervas marinhas para regressar ao labirinto de raízes de mangue que oferece um abrigo quase impenetrável. Para os cientistas, os crocodilos são os engenheiros do ecossistema de mangue porque criam caminhos que melhoram a circulação dos nutrientes. O número crescente de superpredadores, como crocodilos e tubarões, é um indicador essencial do equilíbrio do ecossistema.