Vislumbres do mundo em perigo que se encontra sob a superfície de rios, riachos e lagos.
A água doce representa menos de 3 % da água do planeta, mas dá abrigo a mais de metade de todas as espécies de peixes.
David Herasimtschuk passa frequentemente dez horas dentro de água a temperaturas pouco superiores a 0ºC. Flutua no seu fato de mergulho, segurando a câmara, e espera. A avaliar pela sua enorme paciência, ninguém diria que tem pressa. “Muitas destas espécies existem há milhões de anos e só começaram a desaparecer nos últimos cem”, comenta.
David é fotógrafo e cineasta da Freshwaters Illustrated, uma organização sem fins lucrativos na área da conservação que o envia em missão pelo mundo fora para documentar espécies de vida selvagem em perigo em lagos, rios e riachos. Os cientistas pensam que mais de 20% das espécies de peixes de água doce se encontram sob ameaça ou já extintas, pois as barragens inibem as rotas migratórias e os habitats tornam-se inóspitos devido à poluição e à subida da temperatura da água.
Estas perdas também afectam os seres humanos. A água potável depende da prosperidade dos ecossistemas. Os bivalves e as plantas das zonas húmidas absorvem os poluentes e alguns animais consomem detritos que diminuem a qualidade da água. O papel por eles desempenhado tem sido frequentemente menosprezado, mas a poluição agravou-se de tal maneira que já ningu��m a consegue controlar.
Muitos fotógrafos subaquáticos preferem os animais majestosos do oceano, como as baleias e os tubarões, e os recifes de coral. Os alvos de David Herasimtschuk são muito mais pequenos: peixes endémicos, salamandras aquáticas, cobras de água. A poluição que invade os seus habitats pode sufocá-los. Sentem-se nervosos na presença de seres humanos e, por isso, a paciência de David nem sempre colhe resultados. No entanto, o fotógrafo persiste, consciente de que compete com o relógio da extinção. “Há tanta vida a desaparecer”, afirma. E o tempo está a esgotar-se.