Um dos locais mais afectados foi a pequena comunidade piscatória de Otsuchi, na extremidade noroeste de Hondo, a maior ilha do Japão.
O tsunami subsequente destruiu uma vasta extensão de território, causando quase 16 mil mortes e cerca de 184 mil milhões de euros de prejuízos. A vida dos sobreviventes foi virada do avesso.Alejandro Chaskielberg chegou a Otsuchi em Outubro de 2012. O fotógrafo argentino ouvira falar da cidade através de um amigo com familiares no local e esperava documentar a catástrofe. O cenário incluía “pilhas de destroços” com bandeirolas vermelhas assinalando pontos onde tinham sido descobertos cadáveres.
“Decidi fotografar a preto e branco, a melhor opção para captar toda a tristeza”
“Decidi fotografar a preto e branco, a melhor opção para captar toda a tristeza”, comenta. “Além das bandeiras, não restava cor nenhuma.” Quando Alejandro descobriu na rua um álbum fotográfico, verificou que as cores se tinham esbatido. Na verdade, aquelas tonalidades saturadas eram cores criadas pelo próprio tsunami.
Com essa paleta em mente, o fotógrafo começou a transformar a tragédia num quadro. Pediu aos residentes que posassem durante a noite, estáticos e silenciosos, nas ruínas dos antigos lares ou locais de trabalho. A princípio, muitos mostraram-se desconfiados, mas a confiança foi conquistada pouco a pouco. Em breve, Alejandro organizou um workshop de fotografia para os estudantes locais e levou a sua filha de 4 meses para Otsuchi. O projecto acabou por integrar-se no processo de reconstrução da cidade.
Alejandro iluminou os seus sujeitos com a luz do luar, candeeiros de rua e lanternas e exposições longas. Posteriormente, após a digitalização dos negativos, tingiu as imagens no seu quarto escuro para obter cores vivas semelhantes às do álbum fotográfico.
Segundo ele, os resultados são solenes e íntimos. É um registo de contemplação, “tentativas para recuperar memórias e ligar o passado ao presente. Os retratos de família fazem parte das nossas memórias e das nossas identidades. Estas pessoas perderam tudo com o tsunami. Isto foi uma maneira de ajudá-las a criar novas memórias”. É uma abordagem tão portátil como útil, acrescenta. “Quero mostrar como podemos usar a fotografia para reconstruir as nossas vidas”, afirma. “Não só devido a esta atrocidade, mas sempre que uma atrocidade destas acontecer.”