“Não tenha medo. É impossível perder-se.”
As palavras de Larisa Pozdnyakova, no seu sotaque russo cerrado, flutuam até mim no negrume vazio aparentemente interminável da gruta. Nas últimas horas, esforcei-me por acompanhá-la enquanto ela me conduzia mais para baixo num mundo subterrâneo gelado conhecido como Dark Star (a estrela negra).
Larisa, uma espeleóloga veterana com mais de três décadas de experiência, originária dos Urales, desloca-se com fluidez, à vontade, como uma serpente, insinuando-se ao longo do nosso caminho retorcido, enquanto eu grunho e avanço atrás dela como o novato desastrado que sou.

A escuridão fria engole a luz emitida pelas lanternas dos nossos capacetes, obrigando-nos a andar como toupeiras.

A escuridão fria engole a luz emitida pelas lanternas dos nossos capacetes, obrigando-nos a andar como toupeiras – arrastando-nos, deslizando, apalpando o caminho ao longo de centenas de metros de cordas rijas e cobertas de lama seca que nos ajudam a encontrar o caminho certo entre a miríade de passagens.
Estas passagens já foram cartografadas, mas sinto-me desorientado. Para um montanhista como eu, isto é um tipo de navegação completamente diferente. Estou habituado a deslocar-me em terreno perigoso, mas aqui em baixo os mapas impressos são frequentemente inúteis, o GPS não funciona e não há pontos celestes para nos tranquilizar.
E apesar do que Larisa me diz, eu nunca conseguiria encontrar sozinho o caminho de volta neste labirinto sugador de almas.
Quando finalmente a apanho, ela parou numa plataforma a partir da qual as lanternas dos nossos capacetes iluminam um corpo de água – um dos vários lagos subterrâneos de Dark Star. Ela agarra a cinta de segurança presa no seu arnês e segura-se a uma corda áspera presa a uma fixação existente na rocha por cima de nós.

Cristais de gelo povoam a Sala da Lua Cheia. A câmara, com 250 metros de comprimento, é a maior até hoje descoberta em Dark Star. O sistema de grutas é uma cápsula do tempo geológica. Depósitos minerais revelam milénios de história climática. 

A corda passa sobre o lago e desaparece na escuridão. O dispositivo funciona como uma espécie de tirolesa que serve para transportar os espeleólogos para a outra margem do lago gelado. Ela faz-me um sorriso entusiasmado e lança-se da plataforma, deixando-me a sós com os meus medos.
Estou metido neste sarilho porque me inscrevi numa expedição com 31 membros – maioritariamente composta por russos que não falam inglês – para explorar este sistema de grutas calcárias no interior de uma montanha num recanto distante do Usbequistão. Os russos descobriram uma entrada para a gruta em 1984, mas foram espeleólogos britânicos os primeiros a alcançá-la e a iniciar a exploração do sistema na década de 1990, dando-lhe o nome de um filme de ficção científica satírico norte-americano da década de 1970. 

Estou metido neste sarilho porque me inscrevi numa expedição com 31 membros para explorar este sistema de grutas calcárias no interior de uma montanha num recanto distante do Usbequistão.

Nas décadas que se seguiram, Dark Star, juntamente com o sistema vizinho de Festivalnaya (talvez um dia se descubra que os dois estão ligados), atraiu espeleólogos de todo o mundo.
Este enorme sistema exerce um fascínio semelhante ao exercido pelas grandes montanhas sobre os alpinistas, com uma diferença: sabemos que o Evereste é o pico mais alto da Terra, mas o potencial de conquista de novos e enormes vazios subterrâneos é quase ilimitado. A gruta de Krubera, na República da Geórgia, é actualmente a gruta mais funda que se conhece, com 2.197 metros. Mas Dark Star, com tantas zonas ainda por investigar, é um excelente candidato a esse título.

Do lado de fora da gruta, a temperatura é escaldante: 38°C. No interior, oscila entre -1°C e 3°C — uma variação com fortes repercussões no cenário. À medida que a equipa vai descendo, o gelo azul dá lugar a rocha árida.

Até à data, oito expedições identificaram quase 17,4 quilómetros de passagens em Dark Star, a mais profunda das quais situada cerca de 900 metros abaixo da superfície. No entanto, o sistema ainda não foi inteiramente cartografado, em parte devido à sua localização distante numa região politicamente instável, mas também porque a sua vastidão exige capacidades técnicas avançadas e muito equipamento. Muitas expedições ficaram, simplesmente, com falta de corda. Emparelharam-nos no acampamento: a missão dela é guiar o “amerikanski” (tenho a certeza que os ouvi usar essa palavra) até ao acampamento Gótico.
O melhor é esquecer o perigo da caminhada atrás de Larisa até ao acampamento Gótico — a viagem à superfície desde o sopé da montanha até ao nosso acampamento-base também não foi brincadeira. Para me encontrar com a equipa da expedição, um grupo de espeleólogos e cientistas com idades compreendidas entre 22 e 54 anos que, além de russos, incluía italianos, israelitas e um alemão, viajei até Tashkent, capital do Usbequistão. Dali, percorremos uma distância ligeiramente superior a 185 quilómetros, num autocarro carregado com centenas de quilogramas de comida e equipamento para as três semanas que passaríamos no terreno. Depois, rumámos para sul, até Boysun, onde metemos tudo numa carrinha de transporte de tropas da época soviética.

Enquanto nos arrastávamos até à cordilheira de Boysuntov, a cota ia aumentando, superando a partir de certa altura 3.500 metros de altitude.

Enquanto nos arrastávamos até à cordilheira de Boysuntov, a cota ia aumentando, superando a partir de certa altura 3.500 metros de altitude. Depois, descia numa linha denteada de penhascos espectacularmente recortados. Nos vales profundos aninhados entre eles, conseguíamos distinguir conjuntos de pequenas aldeias habitadas há séculos por tajiques e usbeques.
Foi há cerca de trinta anos que Igor Lavrov, o geólogo sentado neste instante à minha frente na carrinha, descobriu o penhasco calcário chamado Xo‘ja Gurgur Ota que ele e os seus colegas espeleólogos ainda exploram tantos anos depois. Esta vertente rochosa formou-se quando forças tectónicas empurraram leitos de calcário ancestrais contra paredes verticais de rocha. Igor tinha 24 anos e era membro do Clube Espeleológico de Sverdlovsk, que descobriu Boysuntov estudando antigos mapas geológicos soviéticos. Um dia, seguindo a dica de um pastor itinerante, ele e o seu amigo Sergei Matrenin reuniram-se com o director da escola de uma pequena aldeia chamada Qayroq. O homem passara anos a explorar grutas nos arredores com tochas artesanais. “Onde posso encontrar essas grutas?”, perguntou Igor. “Ali”, disse o director, apontando para a monolítica parede calcária situada no fundo do vale. Foi do sopé da vertente rochosa que os dois espeleólogos avistaram pela primeira vez, a meio do penhasco, o buraco misterioso que viria a ser a nossa porta de entrada em Dark Star.

Foi do sopé da vertente rochosa que os dois espeleólogos avistaram pela primeira vez, a meio do penhasco, o buraco misterioso que viria a ser a nossa porta de entrada em Dark Star.

Quando o trilho se tornou demasiado íngreme para a carrinha, caminhámos durante dois dias, com 15 burros transportando os nossos equipamentos e provisões até ao acampamento-base, empoleirado em socalcos no sopé da escarpa calcária. Todas as sete entradas conhecidas de Dark Star ficam nesta vertente e só podem ser alcançadas através de escalada técnica, ou rappel
Precisámos de vários dias para instalar cordas, aceder à gruta e içar equipamento. Finalmente, icei-me 137 metros agarrado a uma corda até à entrada principal da gruta (denominada Izhevskaya, ou R21). Comecei a perceber a razão pela qual os espeleólogos consideram Dark Star uma entidade com vida própria. No acampamento-base, a temperatura rondava 38ºC, mas cá em cima, fiquei assombrado ao sentir um vento gélido proveniente da boca de Dark Star.
Ninguém compreende inteiramente o sistema de ventilação da gruta, mas esta entrada em particular “expira” quando a pressão barométrica no exterior é alta e “inspira” quando a pressão é baixa. Se Dark Star está a expirar aqui, deveria estar a sugar ar noutro sítio. Mas onde? Enquanto corro por uma descida coberta de geada na gruta, não consigo evitar a clara sensação de estar a entrar na boca de um monstro pré-histórico.


Um membro da equipa desce a vertente de um penhasco para investigar um de dois grandes portais que podem revelar uma nova entrada. Esperava-o uma desilusão: as duas cavidades terminavam em gelo sólido.

Imediatamente após a entrada, a russa Tonya Votintseva, especialista em biologia molecular, fixou um pequeno disco branco à parede. A sua missão oficial é cartografar quaisquer áreas recém-descobertas da gruta, mas ela admite estar mais interessada na ciência do que na exploração. Este aparelho é um de vários que ela instalará na gruta para registar a temperatura, humidade, dióxido de carbono e pressão barométrica ao longo dos próximos dois anos, dados esses que serão posteriormente recolhidos e submetidos a análises laboratoriais.
É possível recolher muita informação científica no subsolo, muita da qual contida em espeleotemas — depósitos de minerais em estalagmites e estalactites. Da mesma forma que utilizam amostras de gelo retiradas do interior de glaciares, os cientistas conseguem recolher dados dos espeleotemas. Analisando os componentes químicos depositados nestas formações pelas gotas de água ao longo de milénios, podem obter pistas sobre o clima da Terra em vários momentos da história.

É possível recolher muita informação científica no subsolo, muita da qual contida em espeleotemas — depósitos de minerais em estalagmites e estalactites.

Todos os anos, a equipa recolhe amostras em diferentes zonas do sistema de grutas para ganhar conhecimentos não só sobre a história do clima da Ásia Central, mas também sobre o sistema de ventilação e a arquitectura da gruta. Esse conhecimento ajudará futuros espeleólogos a determinar onde poderão encontrar novas e prometedoras passagens para explorar. Seguindo Tonya, agacho-me sob um arco de gelo azul-translúcido e entro numa enorme câmara com cerca de 250 metros de comprimento e 30 metros de altura — a Sala da Lua Cheia. Acendendo a minha lanterna à intensidade máxima, examino a câmara. As paredes estão cobertas por delicadas plumas de geada que reluzem à luz como milhões de espelhos minúsculos, iluminando a câmara como galáxias de estrelas num límpido céu nocturno. 

Zhenya Tsurikhin sobe por uma corda suspensa no vazio. Embora bastante profundas, algumas passagens subterrâneas de Dark Star situam-se 3.000 metros acima do nível do mar. A atmosfera rarefeita àquela altitude aumenta o desafio físico imposto pela exploração da gruta.

Dois dias mais tarde, estou à beira de um lago com Larisa, que me aguarda na outra margem, fora do meu alcance visual. Pelo menos, assim o espero. Desde que me juntei ao grupo, os russos parecem determinados em recordar-me que sou um novato, reunindo-se à volta da fogueira à noite para contarem histórias de espeleólogos com fins trágicos, incluindo a de um jovem explorador que seguiu pelo caminho errado e se perdeu numa gruta da Grã-Bretanha. “Um ano mais tarde, encontraram o seu cadáver”, diz-me um deles. Também me têm provocado com desafios aleatórios, aparentemente concebidos para determinar se o amerikanski está apto a fazer parte do grupo – testam quanto peso consigo carregar, se sou mesmo bom com uma corda ou quanto permito que façam troça de mim.
Só me resta uma decisão: prendo o arnês à corda e deslizo para a outra margem do lago, aterrando numa plataforma que conduz a uma pequena câmara abobadada do tamanho aproximado de um grande igloo.
Larisa não está lá. Parece-me que o novo desafio consiste em apurar se sou capaz de descobrir o caminho sozinho. Até agora, passei nos testes com competência e uma gargalhada bem-disposta. Mas não me estou a rir agora. Uma rápida olhadela em redor iluminada pela minha lanterna revela duas passagens saindo da câmara.

O caminho límpido contorcido que avança montanha adentro restringe a luz que incide sobre estas paredes.

Enquanto pondero as minhas opções, desligo a luz para poupar bateria. A escuridão que me envolve é absoluta. Os fotões de luz viajam milhares de milhões de quilómetros no universo em linhas rectas desobstruídas, mas não conseguem dobrar-se. O caminho límpido contorcido que avança montanha adentro restringe a luz que incide sobre estas paredes. Penso como se deve ter sentido o espeleólogo britânico perdido quando a sua lanterna se apagou, morrendo sozinho no local que viria a ser a sua sepultura.
“Larisa!”, berro, mas o som ressalta nas paredes da câmara minúscula. De repente, tudo fica claro. Quando ela disse “não se preocupe, é impossível perder-se”, era uma espécie de piada privada, porque na verdade, mais do que possível, é fácil perdermo-nos.
A primeira passagem por onde enveredo revela-se, bem cedo e por misericórdia, um beco sem saída. A segunda conduz-me a uma plataforma lustrosa em manto estalagmítico, formado por camadas finíssimas de minerais depositados por um fluxo de água regular. Larisa está sentada nela.

Charles Preppernau. Fontes: Antonina (Tonya) Votintseva e Zhenya Tsurikhin, Clube Espeleológico de Ekaterinburg; Paz Vale, Eldon Pothole Club. Imagem de satélite: Digitalglobe.

Chegamos a um entroncamento onde duas tendas de cores vivas, emanando luz do interior, foram montadas sobre uma pilha desordenada de pedras: o acampamento Gótico. A voz de Zhenya Tsurikhin ecoa: “Bem-vindos à Câmara Gótica.” Zhenya é o estadista mais velho do grupo: esta é a sua 10.ª expedição a Boysuntov. Ele trabalha num negócio de criação de peixe para um instituto estatal russo, mas Dark Star é a verdadeira paixão da sua vida e ninguém conhece a complexa rede da gruta melhor do que ele. 
Zhenya gesticula na direcção de uma das tendas. Vapor emerge da sua abertura e consigo ouvir um fogão a funcionar lá dentro. Dispo o meu fato e sigo-o para a tenda, onde alguns membros da equipa estão reunidos em volta de um mapa de Dark Star. As passagens descobertas por expedições diferentes estão identificadas com cores variáveis e o mapa parece um esquema multicolor do sistema circulatório humano. Acompanhando uma linha verde sinuosa com um dedo enlameado, Zhenya pára num ponto e começa a falar russo muito depressa. Ele aponta para o sítio onde a expedição anterior se deparou com um impasse: uma queda de água com 37 metros de altura, que ainda não foi escalada.
Aqui em baixo, o dia e a noite são irrelevantes e a equipa vai e vem, come e dorme, num horário em nada afectado pela posição do Sol. Acordo com a chegada estridente de três espeleólogos israelitas. Um deles é Boaz Langford, um jovem geólogo que me diz estar convencido de que chegámos à rocha não-porosa subjacente ao calcário. “Temos de encontrar outra direcção. Vamos explorar os lagos Vermelhos. Devia vir connosco”, diz-me.

Meia hora mais tarde, encontro-me novamente sozinho na escuridão, em frente de outra bifurcação.

Em vez de esperar que eu me equipe, matraqueia instruções rápidas e desaparece. Meia hora mais tarde, encontro-me novamente sozinho na escuridão, em frente de outra bifurcação. Há duas cordas: uma cai a direito através de uma fenda no solo; a outra sobe, atravessa um abismo e desaparece num buraco seis metros acima de mim. Escolho a fenda no solo e desço entre paredes suspensas cobertas por um manto estalagmítico com padrões ondulados cor de laranja até chegar a outro entroncamento com três passagens, sem ter a menor ideia de por onde foram os israelitas.
Escolho a alternativa menos má: um tubo com o tamanho aproximado de uma conduta de ar. Tiro a mochila das costas e empurro-a à minha frente com a cabeça. Mantenho o tronco fora da água empoleirando-me sobre os antebraços e os dedos dos pés, avançando lentamente em posição de prancha. O tecto vai baixando até eu ser obrigado a deslizar sobre a barriga. De repente, o tubo assume uma posição quase vertical. É tão apertado que tenho de contrair os músculos para não cair a pique pelo poço abaixo.

Charles Preppernau. Fontes: Antonina (Tonya) Votintseva e Zhenya Tsurikhin, Clube Espeleológico de Ekaterinburg; Paz Vale, Eldon Pothole Club. Imagem de satélite: Digitalglobe.

Ao sentir o sangue afluindo à cabeça, lembro--me de outra história espeleológica de terror.
Em 2009, um jovem estudante de medicina norte-americano explorava uma passagem no estado de Utah (EUA), quando a direcção da formação virou, subitamente, para baixo. Ele deixou-se cair de cabeça, presumindo que a passagem acabaria por alargar. Em vez disso, estreitou ainda mais e ele ficou preso lá dentro. A equipa de salvamento encontrou-o e chegou a dar-lhe alimentos e água enquanto trabalhavam. Quase conseguiram resgatá-lo, mas o equipamento falhou. Não conseguiram remover o seu cadáver e, por isso, encheram a passagem com betão.
Tive mais sorte do que ele e, quando o tubo me cospe para um corredor cheio de água, oiço o som de fatos de espeleologia a raspar contra a rocha. Encontrei os israelitas. E eles tinham encontrado outro pequeno buraco de acesso a um ponto ainda mais longínquo das profundezas desconhecidas de Dark Star. Estavam a discutir quem entrava primeiro: “É meu”, disse um, em hebraico, enquanto empurrava os amigos para o lado e mergulhava buraco adentro.


Empoleirado sobre rocha escorregadia, Mark sabe que cair na água gelada não é uma opção. A hipotermia, as lesões ou a desorientação são alguns dos riscos que ameaçam os exploradores de Dark Star.

À medida que o tempo da expedição se aproxima do fim, a maioria das novas passagens promissoras revela novos becos sem saída. A equipa saiu da gruta e está a preparar-se para a longa viagem de regresso a Tashkent, mas Zhenya e um russo jovem e ambicioso chamado Aleksey Seregin insistem em fazer uma última tentativa para escalar a grande queda de água, e descobrir uma passagem nova.
Quando finalmente regressam ao acampamento-base três dias depois, vêm cobertos de sujidade e transbordando de novidades, dizendo ter escalado a queda de água: após horas a arrastar-se por uma passagem estreita e sinuosa, ela transformou-se numa fenda com escassos 23 centímetros de largura. Aleksey tentou entrar na fissura, mas a sua cabeça simplesmente não cabia lá dentro. Zhenya tentou, batendo com a cabeça na fenda e raspando as têmporas na rocha gelada. Inclinando os ombros e encolhendo a barriga, conseguiu deslizar até uma chaminé cheia de curvas e contracurvas.

Qual a dimensão do Dark Star? A cordilheira de Boysuntov, no Usbequistão, é de difícil acesso e a região é politicamente instável. Apesar disso, os mistérios de Dark Star e do sistema vizinho de Festivalnaya (dois dos sistemas de grutas de grande altitude mais fundos do mundo) exercem um fascínio duradouro sobre os exploradores. Charles Preppernau. Fontes: Antonina (Tonya) Votintseva e Zhenya Tsurikhin, Clube Espeleológico de Ekaterinburg; Paz Vale, Eldon Pothole Club. Imagem de satélite: Digitalglobe.

Ao fim de 30 minutos a contorcer-se para avançar, dolorosamente, centímetro a centímetro, conseguiu emergir da fenda para uma passagem do tamanho de um túnel do metropolitano moscovita, reverberando com o rugido de um rio veloz.
Seria esta a passagem que ele procurava há mais de vinte anos? Aquela que finalmente daria a Dark Star o estatuto de Evereste das grutas? Ele queria desesperadamente seguir em frente e descobrir onde o conduziria, mas o tempo da expedição chegara ao fim.

Música e bebidas animam a festa enquanto o grupo relaxa à superfície. Russo, italiano, hebraico e alemão são os idiomas falados pelos espeleólogos. No interior de Dark Star, onde os sacos-cama se juntam para gerar mais calor, os laços são simbióticos.

Enquanto os homens contam a sua história, o entusiasmo pelas novas descobertas contagia toda a equipa e torna-se claro, até para o amerikanski, que é mesmo assim que as grandes expedições de espeleologia devem acabar: com a descoberta de uma passagem misteriosa esgueirando-se até ao desconhecido e a promessa de uma nova aventura nas profundezas da Terra.