A sede do Parque Nacional de Zakouma, no Sudeste do Chade, é uma estrutura que faz lembrar de alguma maneira uma antiga fortaleza do deserto. Em frente da porta da sala de controlo central, no segundo piso, está afixada uma fotografia de uma Kalashnikov, debruada a vermelho, com uma faixa por cima: não são permitidas armas no interior, embora estas armas sejam omnipresentes em Zakouma. Todos os vigilantes da natureza têm uma… e os intrusos que vêm matar animais selvagens também.

Classificado como parque nacional desde 1963, Zakouma já foi uma zona de guerra para os elefantes. Há cinquenta anos, o Chade tinha cerca de trezentos mil elefantes, mas, em meados da década de 1980, esse número diminuiu catastroficamente devido à caça furtiva. Zakouma tornou-se um refúgio desconfortável para os quatro mil elefantes que restavam.

 

Depois, durante a primeira década deste século, mais de 90% da população de elefantes de Zakouma foi abatida, na sua maioria por cavaleiros sudaneses vindos de leste em expedições paramilitares para recolha de marfim. (Ver “A Guerra do Marfim”, National Geographic, Março de 2007). Estes cavaleiros são conhecidos como janjaweed, uma palavra árabe que se pode traduzir livremente como “demónios a cavalo”, embora alguns montem camelos. As suas origens remontam aos grupos árabes nómadas, cavaleiros habilidosos, que, uma vez armados e apoiados pelo governo do Sudão, se transformaram em implacáveis forças ofensivas durante o conflito em Darfur e, mais tarde, bandidos mercenários desejosos de marfim. Durante algum tempo, parecia que poderiam matar todos os elefantes do Chade.

Em 2010, a convite do governo do Chade, uma organização privada chamada African Parks (AP) assumiu a gestão de Zakouma e a tendência parou de imediato. Fundada em 2000 por um pequeno grupo de conservacionistas preocupados com as perdas hemorrágicas de animais selvagens no continente, esta organização sem fins lucrativos trabalha com os governos para restaurar e gerir parques nacionais com a condição de exercer pleno controlo no terreno. A AP gere actualmente 15 parques em nove países, trazendo financiamento externo, práticas eficientes de negócio e uma aplicação rigorosa da lei para algumas das zonas selvagens mais conturbadas de África.

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O grupo de conservação African Parks (AP) apresenta uma nova abordagem ao salvamento das zonas selvagens de África, no momento em que os conflitos armados, a caça furtiva e outras ameaças as vão cercando. Compromete-se a fornecer todos os recursos para a reabilitação do parque, reabilitação da sua vida selvagem e apoio das comunidades em redor. Em troca, o governo, que continua a ser o proprietário da área protegida, tem de ceder o controlo pleno da gestão.

Em Zakouma, as forças responsáveis pela aplicação da lei mobilizam mais de cem vigilantes bem armados, sobretudo homens, mas também algumas mulheres. Esses recursos são distribuídos de forma articulada e com uma estratégia sofisticada. O sul-africano Leon Lamprecht, criado no Parque Nacional Kruger, onde o pai era vigilante da natureza, é o gestor nomeado pela AP para o parque de Zakouma. “Não somos uma organização militar”, disse, enquanto me mostrava um baú cheio de armas e munições no arsenal, um barracão trancado no piso térreo da sede. “Somos uma organização de conservação que treina os seus vigilantes como paramilitares.” Peter Fearnhead, director-geral da African Parks e um dos seus co-fundadores, rejeita a ideia de a sua organização ser altamente militarizada. No entanto, na nossa conversa telefónica, reforçou a necessidade de seguranças bem armados nos parques para proteger os animais selvagens e os membros das comunidades vizinhas que possam estar sujeitas a actos de violação, pilhagem e saque pela próxima vaga de demónios a cavalo. “Elas reconhecem que é o parque que lhes dá estabilidade e segurança”, resumiu Peter Fearnhead. 

Leon Lamprecht desenhou-me um diagrama em forma de pirâmide com os níveis das tarefas, segundo a visão da AP. Na base da pirâmide, vemos a aplicação da lei, as infra-estruturas e uma equipa de pessoal sólida – “integridade da área”. Depois disso, subimos um nível: desenvolvimento comunitário para os autóctones, turismo e investigação ecológica.

O centro nevrálgico deste esforço é a sala de controlo central, onde informações recentes sobre a localização dos elefantes e qualquer actividade humana perturbadora – como um acampamento de pesca ilegal, um tiro, cem cavaleiros armados a galopar na direcção do parque – é utilizada para determinar o posicionamento de vigilantes. As fontes de informação incluem sobrevoos de reconhecimentos, patrulhas a pé, coleiras GPS nos elefantes e rádios portáteis entregues a informadores de confiança que vivem nas aldeias em redor do parque.

A reunião diária começa às 6h00. Vê-se uma mesa com dois monitores ao computador e, na parede, um mapa enorme decorado com pioneses. Na manhã da minha visita, Tadio Hadj-Baguila, o chadiano que chefia a força de aplicação da lei do parque, presidia à reunião em francês.

Leon Lamprecht explicou que os pioneses pretos do mapa representam elefantes. Os pioneses verdes são as equipas de patrulha regulares (conhecidas como Equipas Mamba) de seis vigilantes por equipa, vasculhando o parque cinco vezes por dia. O seu percurso é ditado pelos elefantes, que as Equipas Mamba seguem como anjos da guarda. E isto, disse Leon, enquanto apontava para um pionés vermelho e branco espetado fora do mapa, representa uma Equipa Phantom, com dois vigilantes em reconhecimento de longo alcance. Estas equipas operam num tal secretismo que nem o operador de rádio conhece as suas localizações – apenas Leon Lamprecht e Tadio Hadj-Baguila.

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Parque Nacional de Zakouma - CHADE. Este parque, numa região de capim e acácias no Sudeste do Chade, perdeu mais de 90% dos seus elefantes na primeira década do século, principalmente devido a bandidos montados a cavalo oriundos do Sudão. A AP assumiu a gestão em 2010 e agora os elefantes sentem-se suficientemente seguros para se dispersarem mais e gerarem crias em abundância.

Os dados são coligidos todas as manhãs e todas as tardes. “Jogamos xadrez duas vezes por dia”, disse Leon Lamprecht. Do outro lado do tabuleiro estão os janjaweed e os outros caçadores furtivos que possam pôr à prova as fronteiras de Zakouma.

Penduradas num ponto alto da parede, acima dos mapas, encontram-se algumas placas que assinalam as perdas, em número pouco significativo mas profundamente sentidas, desde que a AP assumiu a gestão. Incidente. 24 de Outubro de 2010. PN Zakouma. 7 elefantes, relata uma. Outra: 19 de Dezembro de 2010. PN Zakouma. 4 elefantes. As placas soam como sinos a dobrar. Noutra fila, encontra-se uma mensagem diferente, mas igualmente sucinta: Incidente. 3 de Setembro de 2012. Heban. 6 Guardas. A emboscada assassina, montada por caçadores furtivos a meia dúzia de vigilantes da natureza, numa colina chamada Heban, é uma memória sombria e um incentivo duradouro para a vigilância na cultura de Zakouma. Apesar dessas perdas, a AP estancou a hemorragia dos elefantes. Desde 2010, só foram abatidos 24 elefantes e não houve captura de marfim. Os janjaweed foram repelidos, tendo, pelo menos temporariamente, redireccionado os seus esforços para outros alvos, mais fáceis. Após décadas de caos e terror, os elefantes de Zakouma voltaram a reproduzir-se. A sua população inclui agora cerca de 150 crias, um sinal de saúde e esperança.

As ameaças de incursão violenta continuam a ser graves em Zakouma, mas são ainda piores no Parque Nacional da Garamba, no canto nordeste da República Democrática do Congo (RDC). Garamba está sob ataque por todos os lados. A AP gere Garamba desde 2005, ao abrigo de um contrato de parceria com o Instituto Congolêspara a Conservação da Natureza (ICCN), da RDC. 

A paisagem da Garamba é um mosaico de savana, mato seco e floresta, alojando a maior população de elefantes da RDC, bem como girafas de Cordofão (uma subespécie criticamente ameaçada), leões, hipopótamos, cobos do Uganda e outras espécies de vida selvagem. Constitui o núcleo central de um ecossistema que inclui três reservas de caça adjacentes, nas quais é permitida alguma exploração por parte das comunidades locais. A sua história está carregada de guerras e caça furtiva militarizada. Os seus rinocerontes-brancosdo-norte (outra subespécie em perigo crítico) foram caçados quase até à extinção: apenas duas fêmeas sobrevivem em cativeiro. Garamba partilha 261 quilómetros de fronteira com o Sudão do Sul, um país tumultuoso que lutou para se tornar independente do Sudão nos primeiros anos deste século e depois iniciou uma guerra civil.

Outras zonas conturbadas do Uganda e da República Centro-Africana não se encontram longe.

A localização de Garamba, as suas zonas florestais densas e o seu marfim transformaram-no numa encruzilhada, numa tentação e, por vezes, num campo de batalha para exércitos rebeldes e outros intrusos perigosos durante mais de duas décadas. No início de 2009, por exemplo, o Exército de Resistência Lorde (LRA) – um grupo rebelde do Norte do Uganda, conhecido por raptar crianças para as usar como soldados ou escravas sexuais e liderado pelo fanático Joseph Kony – emergiu do seu refúgio no ecossistema de Garamba ocidental e atacou uma aldeia perto da sede do parque, incendiando vários edifícios e roubando uma grande quantidade de marfim armazenado.

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Parque Nacional de Garamba - REPUBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO. Numa região devastada pela guerra, Garamba atrai os rebeldes que praticam a caça furtiva de elefantes porque as suas presas podem servir para comprar munições. Um vigilante da natureza (integrado numa força treinada e equipada pela AP) monta guarda a presas recuperadas.

Os vigilantes da natureza resistiram, matando alguns elementos do LRA e perdendo 15 dos seus próprios membros. Poucos anos mais tarde, cerca de mil rebeldes em retirada da guerra do Sudão do Sul transpuseram a fronteira. Depois do último grande ataque do LRA, o director-geral do ICCN, Cosma Wilungula Balongelwa, sentiu-se muito preocupado. “Eu quase perdera a esperança de que fosse possível manter o equilíbrio”, disse-me numa das suas visitas ao parque. Nessa altura, Cosma perguntara a Peter Fearnhead se a AP poderia encerrar o projecto. “Peter recusou e garantiu que a organização não abandonaria Garamba.” Naftali Honig, antigo investigador de crimes relacionados com vida selvagem (e bolseiro da National Geographic), com sete anos de experiência de perseguição a caçadores furtivos noutros locais da África Central, é agora o director do Departamento de Investigação e Desenvolvimento da Garamba. O Parque já recebeu ajuda da National Geographic e de outras organizações que desenvolvem novas ferramentas de vigilância, como sensores acústicos que conseguem distinguir um tiro do som de um ramo a partir-se nas profundezas do parque. “A African Parks deu uma ligeira vantagem experimental a Garamba”, disse Naftali Honig, lembrando que uma área protegida tão grande enfrenta ameaças externas graves. 

No entanto, as patrulhas no terreno continuam a ser a arma de defesa mais importante. Um assessor britânico chamado Lee Elliott explicou-me o programa de treino. Lee juntou-se à AP depois de uma carreira de 24 anos no exército: alistou-se como soldado raso, foi subindo de patente e prestou serviço militar no Afeganistão. Quando chegou a Garamba em 2016, havia pouca disciplina e organização entre os vigilantes da natureza. “Temos boas pessoas aqui, mas temos de as tratar bem.” Lee destaca Pascal Adrio Anguezi, um major congolês que trabalha como chefe das forças da lei. Define-o como incorruptível. “Seria mais difícil se não tivéssemos o Pascal”, diz. No campo, encontramos oito vigilantes exaustos que acabam de terminar um exigente treino de 48 horas. Ontem, fizeram simulações durante o dia e exercício físico à noite, por isso dormiram pouco. Hoje de manhã, correram e agora acabaram de atravessar o mato em equipas de quatro, de armas em punho: eram simulações de deslocação e tiroteio, com dois homens sempre a disparar, garantindo a protecção, enquanto os outros dois corriam à sua frente. No final de uma investida, a equipa apontou para um alvo em forma de tronco numa árvore. O mais importante nesta simulação, explicou Lee Elliott, era ver quem tinha determinação e disciplina, mesmo estando exausto.

Certa manhã, participei numa missão de monitorização com Achille Diodio, o jovem encarregado de monitorizar as 55 girafas de Cordofão do parque. Pouco depois de chegarmos a uma área onde habitualmente as girafas se concentram (uma savana aberta pontuada por acácias e outras árvores que elas podem tasquinhar), Achille detectou uma cabeça espreitando no mato à nossa direita. Através do seu ficheiro com imagens de identificação, confirmou que era a GIR37F, uma fêmea adulta, avistada pela primeira vez quatro anos antes. Estava equipada com um transmissor, mas este parara de funcionar há muito tempo e Achille ficou feliz por vê-la viva e, aparentemente, de boa saúde. Achille Diodio é o tipo de talento em ascensão de que a AP precisa. É congolês, nascido numa vila dos arredores de Garamba e teve a sorte de a família ter conseguido mandá-lo estudar na escola secundária de uma cidade maior e depois frequentar a Universidade de Kisangani. Ganhou uma bolsa de estudos na China e dali seguiu para Harbin, onde passou o primeiro ano a aprender o idioma. Já falava lingala, suaíli, francês, inglês e um pouco de kikongo, mas conseguiu dominar o mandarim.

Quatro anos mais tarde, com um mestrado de uma boa universidade e uma tese sobre elefantes congoleses, juntou-se à AP como voluntário. A organização não tardou a oferecer-lhe emprego.

Vários membros da direcção da AP referiram aquilo que consideram um desafio urgente: formar e impulsionar os jovens africanos para alcançaremposições de liderança. Vou apresentar as coisas de maneira crua: a AP precisa de mais rostos negros no topo. Peter Fearnhead reconheceu esta necessidade, dizendo que é um problema geral de todo o sector da conservação em África, durante muito tempo dominado pelo Estado.

Da mesma maneira, as ONG, incluindo a AP, não fizeram o suficiente para formar os africanos em biologia e gestão no âmbito da conservação. “Temos de investir mais nesse sentido”, disse Peter.

Jovens congoleses brilhantes com interesse pela conservação, como Achille Diodio, não deveriam ser obrigados a percorrer meio mundo e a estudar mandarim.

A ênfase nas forças de vigilantes paramilitares coloca a AP perante outra questão delicada: a responsabilização dessa força armada. A WWF, outra organização de conservação, foi alvo de críticas no início deste ano devido a alegações segundo as quais as forças contra a caça furtiva que financiara na Ásia e em África violaram os direitos humanos de alegados caçadores furtivos. A WWF pediu uma análise independente destas alegações e o grupo de revisão (liderado pelo juiz Navi Pillay, antigo alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos) ainda não divulgou o seu relatório.

Em que medida é a AP diferente? “O nosso modelo torna-nos responsáveis pelos vigilantes.

Eles são dos nossos”, disse-me Markéta Antonínová, uma mulher checa que estudou em Praga e trabalha com a AP há mais de uma década. Markéta foi gestora de projectos especiais da AP no Parque Nacional de Pendjari, no Norte do Benin, onde foi responsável pela investigação e aplicação da lei. Ao contrário da WWF, disse, a AP contrata directamente os seus vigilantes da natureza e assume a responsabilidade por tudo o que eles fizerem.

Pendjari é o último refúgio importante de elefantes e leões na África Ocidental. Faz parte de um complexo transfronteiriço que inclui parques adjacentes no Burkina Faso e no Níger, e a zona protegida de Pendjari (como o ecossistema de Garamba) abrange zonas-tampão junto dos seus limites meridionais e orientais, onde as comunidades autóctones estão autorizadas a caçar. Também é uma das mais recentes incorporações no portfólio de gestão da AP, desde 2017, com um contrato de dez anos e um acordo de colaboração no valor de 20,7 milhões de euros com o governo do Benin, a Fundação Wyss e a National Geographic Society.

Markéta Antonínová e o seu companheiro, o canadiano James Terjanian, vieram para Pendjari no início do contrato da AP: ele como director do parque e ela como directora-adjunta, até se transformarem numa família e terem de encontrar residência. Como sempre, o reforço dos grupos encarregados da aplicação da lei revelou-se um desafio urgente. De 15 guardas mal treinados, a força de Pendjari evoluiu e conta agora com cerca de cem vigilantes da natureza bem preparados.

Markéta Antonínová estava em Zakouma, em 2012, quando os vigilantes da natureza morreram em Heban, e estava em Garamba quando o LRA queimou a aldeia junto da sede, em 2009.

O Parque Nacional de Pendjari enfrenta desafios diferentes. Aqui não há cavaleiros armados que irrompam parque adentro a galope para roubar marfim, observei. Nem exércitos a marchar vindos da guerras, saqueando aldeias pelo caminho.

“Não”, disse ela. “Ainda não.”

Antes de 2017, “tudo em Pendjari se baseava em desconfiança e conflito”, lembrou. A AP foi contratada para assumir plena autoridade pela gestão, tentando trabalhar cooperativamente com todas as partes, beneficiando assim a vida selvagem, a paisagem e os autóctones. Na opinião da minha interlocutora, “não existe outra maneira de fazer as coisas”. É o modelo da African Parks, diz ela. Ou confiam em nós ou não confiam.

Uma vez por ano, no final da estação seca, o Parque Nacional de Garamba comemora o Dia dos Vigilantes da Natureza, um festival de exibições marciais e outras manifestações de apreço pelos agentes que usam as armas e assumem a responsabilidade de defender os animais selvagens e a ordem dentro do parque. Este ano, o grande dia começou quente e límpido. Reunimo-nos no campo de manobras ao final da manhã. Enquanto os dignitários e visitantes se sentam sob uma tenda e cem vigilantes assumem as suas posições, à vontade, no meio do campo, Pascal Anguezi apresenta-se diante de nós. Com dois metros de altura, parece imponente no seu uniforme e boina verde, com um microfone sem fios na bochecha esquerda e uma espada de cerimónia na mão direita. Vai ser o mestre-de-cerimónias hoje.

Às 11h25, o major deu ordem de sentido às tropas.

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Parque Nacional de Garamba - RDC. A floresta de Garamba e as áreas de savana são tão planas que uma elevação subtil chamada monte Bagunda serve de ponto de observação para os vigilantes da natureza. Acampada sob a torre de comunicações, uma equipa pode ficar alerta a incêndios, patrulhar o terreno em busca de caçadores furtivos e transmitir informações oportunas à base.

Um esquadrão de entretenimento constituído por soldados do exército congolês, com a bandeira da RDC, entrou no campo, seguido de uma pequena banda que tocava o hino nacional com quatro trompetes, uma tuba, címbalos e dois tambores.

Um general passou revista aos vigilantes da natureza, com Pascal Anguezi a seu lado. Agora, já estava calor suficiente para ficarmos gratos pelas ventoinhas eléctricas que sopravam na galeria.

Foi então que começaram os discursos. John Barrett, o gestor de Garamba, disse algumas palavras em francês, manifestando o apreço pelas tropas. “Dezanove vigilantes morreram aqui em acção. Hoje lamentamos a sua perda.”

John Scanlon, enviado especial da AP, uma espécie de embaixador global da organização, abordou o tema do desenvolvimento sustentável das comunidades vizinhas e também (com as alegações da WWF frescas na memória de todos) a necessidade de temperar o fervor contra os caçadores furtivos com respeito escrupuloso pelos direitos humanos. Cosma Balongelwa, director-geral da ICCN, que se deslocara da capital, Kinshasa, especialmente para este evento, falou sobre a parceria entre a sua organização e a AP e, ao fim de meia hora de discurso, um vigilante da natureza que estava na formação desmaiou devido ao calor e foi transportado para fora do campo. Por fim, sob as ordens incisivas do major Anguezi, o desfile chegou ao fim: os vigilantes integrados na formação saíram, seguidos por quatro mulheres vigilantes, cinco veteranos, 200 crianças em idade escolar com uniformes azuis e brancos e, em último lugar, a banda, brava e incansável. O dia terminou com jogos da corda divertidos, durante os quais os vigilantes jogaram contra soldados do exército da RDC ou vigilantes contra vigilantes, oito homens de cada lado, arrastando-se pelo campo de terra batida, puxando uma corda grossa. Lee Elliott, o assessor britânico, supervisionava alegremente a diversão.

Por esta altura começara a chuviscar. Os dignitários partiram antes de o dia ficar mesmo molhado.

Os jogos da corda continuaram. Os chuviscos transformaram-se numa chuvada torrencial.

A poeira deu lugar à lama escorregadia. Os vigilantes da natureza, escorregando, caindo e levantando-se para jogar mais, deram o seu melhor a puxar a corda. Lee Elliott, encharcado e sujo, sorria, cheio de orgulho, enquanto coordenava mais um jogo. “Se não há chuva, não há treino”, disse Naftali Honig. Depois, ele e os outros, incluindo eu, subiram para os Land Cruisers e foram almoçar. Nós fomos embora, os vigilantes da natureza ficaram lá, a dar o seu melhor em condições difíceis.

Afinal, é o que fazem sempre.