Sarina Lee, aluna do quarto ano, gosta de comprar roupa. Mas esta nova-iorquina suburbana não gosta que os retalhistas lhe digam que alguns dos estilos que ela escolhe são para “meninos”. Por exemplo, recentemente Sarina encomendou um par de ténis. “Eles chegaram e eram muito grandes, porque a medida era de ‘tamanhos de rapazes’”, diz a sua mãe, Glenna. Depois de descobrir que tinha amigos rapazes que também se incomodavam com actividades e itens identificados por género, Sarina decidiu colocar a sua frustração a uso.
“Abordei os meus professores para criar um clube na escola chamado ‘Projecto de Aceitação de Género’, dando às crianças um espaço para serem quem são e não o que se espera que sejam”, diz Sarina. Os seus projectos para o futuro incluem o lançamento de uma comunidade de apoio para os alunos aprenderem sobre estereótipos de género, bem como iniciar uma campanha para enviar cartas a empresas para estas repensarem a publicidade baseada em género.
Este tipo de paixão por uma causa é um sinal de esperança, sobretudo depois de um ano como 2020, que trouxe um pouco de tudo para a vida das crianças, desde uma pandemia, alterações climáticas e justiça racial.
Mas, aparentemente, ser um jovem activista, para além de mudar o mundo, também oferece outros benefícios. De acordo com um estudo de 2018 publicado na Child Development, os agentes de mudança acabam geralmente por ganhar mais dinheiro no futuro e alcançar níveis superiores de educação do que os não activistas. E, de acordo com várias sondagens, os estudantes universitários activistas tendem a ser mais felizes e a ter mais bem-estar social.
O activismo também traz benefícios para o desenvolvimento, como aprender a expressar ideias de forma eficaz e a interagir com outras pessoas. “Precisamos de conseguir expressar a nossa paixão, ser alguém que envolve os outros e os entusiasma sobre uma determinada questão”, diz Nancy Deutsch, professora de educação na Universidade da Virgínia e diretora do Centro Juvenil Nex.
Os agentes de mudança partilham muitas vezes determinadas características, qualidades que os especialistas encontram repetidamente em jovens activistas e que os tornam tão bem-sucedidos. Eis como são essas qualidades em alguns dos jovens transformadores mais conhecidos – e como os pais podem trazer ao de cima essas características nos seus pequenos activistas.
Os agentes de mudança veem ambos os lados da história
“Fazer a diferença exige um certo nível de empatia e perspectiva”, diz Nancy. “Precisamos de descobrir qual é o problema e como falar dele de uma forma que atraia outras pessoas.” Antes de Sarina formar o seu clube, falou com a comunidade para compreender o que sentiam os outros alunos, pais e professores sobre a sua causa. Sarina vai usar essas informações para criar uma apresentação que possa partilhar na escola.
Como pode criar um agente de mudança empático. “Os pais devem enfatizar que todas as mudanças envolvem diferenças, conflitos e compromissos”, sugere Gene Beresin, director executivo do Centro Juvenil Clay do Hospital Geral de Massachusetts. Apresentar gentilmente os dois lados de uma história e fazer o papel de advogado do diabo também pode ajudar – os pais podem estimular a empatia mostrando aos filhos o que cada lado tem a ganhar e a perder. “Ao compreenderem os pontos de vista de outras pessoas, também é mais fácil argumentarem de uma forma que possam ser ouvidos”, diz Nancy.
Os agentes de mudança descobrem as suas aptidões especiais
“Todos os movimentos de mudança social requerem pessoas com diferentes capacidades e talentos”, diz Nancy. “A melhor coisa que se pode fazer por um movimento é descobrir quais são as nossas capacidades e pontos fortes.” Por exemplo, o movimento Standing Rock ganhou muita atenção depois de uma jovem fotógrafa chamada Tina Malia ter captado uma imagem de veteranos militares dos EUA ajoelhados em frente a nativos americanos.
Como os pais podem ajudar os filhos a encontrarem as suas capacidades especiais. “Não precisamos necessariamente de ir para a rua para um comício ou liderar um esforço para salvar um rio”, diz Gene Beresin, professor de psiquiatria na Escola de Medicina de Harvard. Uma criança também pode escrever cartas para as autoridades municipais ou para os directores de escolas, ou participar em eventos cívicos. “Descubra quais são os seus valores e missões”, diz Gene. “Combine isso com o conhecimento dos pontos fortes e fracos dos seus filhos.” Depois, faça sugestões. Eles sabem escrever bem? Conseguem fazer um blog? Sabem tirar fotografias?
Os agentes de mudança são apaixonados
O discurso apaixonado de Greta Thunberg em 2019 nas Nações Unidas deixou uma coisa clara: Greta tem sentimentos fortes sobre as alterações climáticas. E embora o poder das suas palavras polarizassem algumas pessoas, essas palavras receberam muita atenção. Essa paixão é a chave para um movimento de sucesso. “Uma causa não precisa de ser algo que arrase com a Terra”, diz Adam Edwards, coautor de Surmountable: How Citizens From Selma to Seoul Changed the World. “Mas encontrar algo que nos apaixone é definitivamente um traço comum.”
Como os pais podem criar uma criança apaixonada. “Tenha conversas frequentes que envolvam os valores, ideais, missões e objectivos do seu filho”, sugere Gene, que foi um jovem activista na década de 1960. “Ouça o que é importante para eles.” Para inspirar mais paixão, pode referir entes queridos na vida do seu filho que sejam afectados pelos problemas com os quais eles se preocupam – por exemplo, um amigo que já foi sem-abrigo ou um profissional de saúde que precisa de equipamento de proteção individual.
Os agentes de mudança perseveram
As mudanças raramente acontecem tão depressa quanto as crianças desejam e, embora isto possa ser inicialmente decepcionante, também ensina paciência e resiliência. Malala Yousafzai começou a escrever sobre a educação das mulheres no Afeganistão quando tinha apenas 11 anos; aos 15, foi alvejada pelos Talibã. Contudo, nove meses depois, Malala falou abertamente sobre a educação feminina na sede da ONU em Nova Iorque. Hoje, o Fundo Malala já angariou centenas de milhões de euros para construir escolas que ajudam raparigas, mas milhões de crianças ainda não vão à escola. Manter um movimento, mesmo quando este se torna difícil, é fundamental para os agentes de mudança. “Eu adoro a frase ‘mesmo assim, ela persistiu’”, diz Adam Edwards.
Como os pais podem criar uma criança que persevera. “Certifique-se de que os mais jovens sabem que mesmo as mudanças mais pequenas a nível local fazem parte da solução”, diz Gene. Os pais podem salientar que as crianças já estão a fazer a diferença aos poucos, seja a usar menos eletricidade em casa ou a ajudar um amigo a aprender a ler. Falar sobre os grandes activistas também pode ajudar quando as coisas ficam mais difíceis. Nancy cita os esforços de vários anos do activista dos direitos civis John Lewis como um exemplo de grandes mudanças que surgem gradualmente.
Os agentes de mudança são fortes jogadores de equipa
“Pode ser tentador olhar para os líderes individuais”, diz Nancy. “Mas, na realidade, os movimentos e mudanças são feitos por grupos enormes de pessoas que trabalham em conjunto.” Martin Luther King Jr. foi um líder e organizador poderoso, mas sem a ajuda de pessoas que desafiaram a segregação nos transportes públicos, pessoas que se recusaram a sair de cafés, ou crianças que marcharam para que os seus pais não perdessem os empregos, o movimento pelos direitos civis nos EUA não teria tido sucesso.
Como os pais podem criar um jogador de equipa. Ajudar o seu filho a encontrar um movimento significativo pode mostrar-lhe a força e a importância de uma equipa. “Precisamos de sentir que temos um propósito, que estamos aqui para fazer algo, é realmente uma parte essencial que precisamos enquanto humanos”, diz Nancy. Os desportos são óptimos, mas tornar-se um jogador de equipa também pode significar entrar num clube escolar, participar num grupo coral ou numa banda, ou frequentar um templo religioso. Gene Beresin diz: “Estamos a ensinar os nossos filhos a fazerem parte de algo maior do que eles.”