A cidade é uma ruína. 
Há comboios parados nas linhas. As escolas estão em silêncio. Bibliotecas e lavandarias degradam-se. 
A população desapareceu.
É o fim do mundo tal como o conhecemos, mas Lori Nix sente-se lindamente. Com efeito, ela e Kathleen Gerber, sua parceira na arte e na vida, são as felizes arquitectas deste apocalipse. Num dia de Inverno cinzento em Brooklyn, as duas mulheres trabalham no seu apartamento transformado em estúdio, construindo cuidadosamente dioramas de catástrofes em pequena escala.

Lori Nix e Kathleen Gerber passaram sete meses a construir esta minúscula réplica de uma carruagem do metropolitano de Nova Iorque. Com ervas brotando do solo e as paredes cobertas de cartazes irónicos, foi implantada no meio de um deserto. A linha do horizonte da cidade é visível ao fundo.

O objectivo é criar e fotografar “narrativas de final aberto, modelos de uma metrópole pós-humana no futuro, após uma catástrofe desconhecida”, diz Lori. Para “abrir, cativar e provocar” as imaginações dos espectadores, “queremos [que eles] contemplem o presente. Teremos ainda um futuro? Conseguiremos salvar-nos?»
Lori encontra ideias para a maior parte destes quadros no metropolitano ou em fotografias de viagens. Outros são inspirados pelo seu passado. Como cresceu na zona de maior ocorrência de tornados da América do Norte, foi afectada por episódios de clima extremo e recolheu deles algumas memórias. Noutras ocasiões ainda, inspira-se em filmes de desastres como “Inferno na Torre” ou contos distópicos como o “Planeta dos Macacos”.


Lori e Kathleen dividem o trabalho. Nesta imagem de uma sala de aula de anatomia, “construí os armários, as paredes, os soalhos e as cadeiras. A Kathleen fez todos os modelos de anatomia. Ela trata das coisas difíceis”, brinca Lori. 

Actualmente, considera-se uma “fotógrafa de paisagens falsas”, mas, “em vez de andar em busca da paisagem perfeita, crio-a aqui mesmo, em cima da mesa”. É nesse momento que Kathleen entra em acção. Graças à sua experiência a dourar, soprar vidro e fazer acabamentos em trompe l’oeil, ela ajuda-a a construir e a envelhecer os cenários.
“Kathleen é a escultora”, explica Nix. “Eu sou a arquitecta. Tenho as ideias e escolho as paletas cromáticas e os enquadramentos fotográficos. Ela dedica-se aos pormenores: dá vida e brilho às coisas.”

Quando era criança, na minúscula vila de Norton, no Kansas, Lori estava “rodeada de perigos e desastres . Como é óbvio, os tornados estavam muito presentes”. Nesta imagem do que poderia ser um salão de beleza devastado por um furacão, a mão de Kathleen entra no enquadramento, ilustrando a escala destes dioramas pormenorizados.

“Pode não parecer, mas sou bastante optimista. E creio que as nossas cenas – com a natureza a reclamar a paisagem – são estranhamente portadoras de esperança”. Kathleen Gerber concorda. “Andamos sempre à procura de um misto de humor e horror”, afirma. “Estamos sempre a tentar cativar as pessoas e a fazê-las pensar. 

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