Se existe uma necessidade universal no reino animal é o desejo premente de reprodução. No entanto, a maioria das espécies precisa de um pouco de magia adicional para o concretizar.
Alguns machos dependem de danças elaboradas para atraírem uma parceira ou, no caso do macaco-capuchinho, cobrem-se de urina atractiva. Outros dão irresistíveis “presentes nupciais” às fêmeas, como os machos de picanço-real, que oferecem às fêmeas um “kebab de rato” acabadinho de apanhar.
“Nem tudo são rosas e chocolates”, diz Jennifer Verdolin, professora associada de ecologia na Universidade do Arizona, em Tucson. “Tudo está adaptado ao seu ambiente, à sua história de vida, aos desafios particulares que enfrentam e às oportunidades que podem aproveitar.”
Seguem-se alguns dos mais intrigantes exemplos de cortejamento do mundo selvagem.
Paciência para os espinhosos
A fêmea do porco-espinho-norte-americano tem o cio – período durante o qual uma fêmea pode aceitar um parceiro – durante cerca de oito a doze horas por ano, diz Uldis Roze, professor emérito de biologia na City University of New York e autor do livro The North American Porcupine.
Para anunciar esta breve janela de oportunidade a qualquer macho que se nas proximidades, a composição da sua urina muda, tornando-se mais atractiva para potenciais parceiros. Os machos chegam, prontos para lutarem entre si com as suas caudas cobertas de espinhos. O vencedor sobe até à árvore da fêmea e espera.
E espera.
O facto de a fêmea ter assinalado a aproximação do cio, não significa que já esteja pronta para acasalar. Por isso, o macho vitorioso faz aquilo que pode: atinge-a com um jacto poderoso de urina, diz Roze, que pode conter uma molécula química para apressar a fêmea.
Algumas horas mais tarde, o casal dirige-se ao solo e acasala. Ele deixa um tampão vaginal dentro dela para a impedir de acasalar com outro macho e manter lá o seu esperma e afasta-se.
Um presente com compromisso
Os machos das aranhas da família Pisauridae, comuns em todo o mundo, tentam reproduzir-se por sua conta e risco, e as fêmeas não se deixam impressionar facilmente.
Primeiro, os machos devem trazer um presente nupcial às fêmeas, geralmente insectos mortos embrulhados em seda. As fêmeas de uma espécie, a Pisaura mirabilis, não acasalam sem receber um.
Noutras espécies, os machos agarram-se à oferenda alimentar enquanto fingem estar mortos, esperando que a fêmea esteja suficientemente distraída com a comida para voltarem à vida e acasalarem com ela.
Por vezes, os machos alcançam o seu objectivo enganando a fêmea com presentes sem valor, como um exosqueleto. Esta estratégia tem o seu preço, pois as fêmeas acabam de acasalar mais depressa, fazendo com que haja menos transferência de esperma. E, nos casos mais extremos, ela poderá até comer o macho.
Pretendentes vistosos
É necessária muita energia para manter a cor no mundo animal. Para as cerca de três dezenas de espécies conhecidas como aves do paraíso, penas extravagantes e passos de dança mais extravagantes ainda são sinais de um macho saudável que é provavelmente hábil em encontrar alimento, diz Verdolin, autor de What Animal Courtship and Mating Tell Us About Human Relationships.
“Basicamente, ele publicita-se à fêmea dizendo: ‘Sou espectacular. Queres acasalar comigo.”, diz.
Um macho da ave do paraíso Paradisaea apoda mostra as suas penas vibrantes a uma fêmea. Fotografia de Tim Laman, Nat Geo Image Collection.
Os machos das aves do paraíso, nativas da Nova Guiné e ilhas vizinhas, também limpam o palco onde vão dançar, assegurando-se de que está plano e limpo de detritos, para criar um local que permita a melhor e mais duradoura actuação possível.
Uma virilidade livre de doenças é importante porque, após o acasalamento, aquele macho espectacular foge de cena. Não ajuda a construir ninhos, incubar ovos ou alimentar crias.
‘Um mar de esparguete em movimento’
Aninhadas em covis subterrâneos durante os invernos gélidos de Manitoba, dezenas de milhares de serpentes Thamnophis sirtalis parietalis aguardam a chegada do calor. Na Primavera, os machos aparecem primeiro, aquecidos e prontos para acasalar. À medida que as fêmeas deslizam até a superfície, cobertas de hormonas sexuais, os machos descem sobre ela às centenas de cada vez.
“Entrelace os dedos à frente dos olhos e é isso que uma fêmea vê”, diz Robert Mason, professor de biologia integrativa da Universidade Estadual de Oregon. “É um mar de esparguete em movimento.”
No entanto, a cloaca da fêmea atordoada – uma abertura com várias finalidades que também serve para acasalar – está fechada e os machos, que esfregam o queixo para cima e para baixo na sua pele, têm de esperar. Por fim a cloaca abre-se um pouco, provavelmente devido ao stress, e o macho mais próximo deposita sémen e um tampão para impedir mais acasalamentos.
Algumas fêmeas, que frequentemente são maiores, esperam que o tampão se dissolva antes de acasalarem novamente, desta vez com um macho à sua escolha. Esta pode ser uma forma de a fêmea assegurar que os seus ovos são fertilizados pelos machos maiores e mais aptos.
Um sacrifício sexual
As chamadas lesmas-banana (Ariolimax) podem ser macho ou fêmea e, frequentemente, são macho e fêmea durante o acasalamento, dependendo da espécie. Estas lesmas, que vivem na região noroeste da América do Norte, anunciam a sua disponibilidade libertando feromonas na baba, que são detectadas por outras lesmas.
Um par de lesmas-banana do Pacífico no Parque de Vida Selvagem Northwest Trek, em Eatonville, no estado de Washington. Fotografia de Joel Sartore, National Geographic Photo Ark.
Quando se encontram, as lesmas-banana passam até uma hora a morderem-se e a baterem com a cabeça umas contra as outras, diz Janet Leonard, investigadora do Instituto de Ciências Marinhas da Universidade da Califórnia.
Em algumas espécies, ambas as lesmas inserem os respectivos pénis na outra ao mesmo tempo para fertilização simultânea. Outras espécies fazem turnos, alternando entre o papel de macho e fêmea a cada 20 minutos, aproximadamente. Em ocasiões raras, um ou ambos os pénis ficam presos e uma das lesmas pode roê-lo para se libertar. Perder o pénis não é fatal, mas este não volta a crescer.
Por isso, embora a vida amorosa dos humanos possa ser complicada, pode ficar feliz por não ser uma lesma-banana.