Treze parques nacionais, quarenta e quatro reservas marinhas e inúmeros espaços classificados com diferentes estatutos preservam legalmente a vida natural da Nova Zelândia, correspondendo aproximadamente a 32% da superfície terrestre e outro tanto das águas territoriais marinhas deste país que tem a dimensão aproximada do Reino Unido. O mundo habituou-se a reconhecer na Nova Zelândia um modelo de gestão da natureza. Formado por duas grandes ilhas, a Ilha do Norte e a Ilha do Sul, e algumas ilhas menores e ilhéus, tudo indica que o país terá sido baptizado pelo cartógrafo Joan Blaeu em 1645, em homenagem à província da Zelândia nos Países Baixos. Existe alguma controvérsia sobre o primeiro ocidental a pisar este território isolado a cerca de dois mil quilómetros de distância da Austrália: alguns atribuem a proeza ao holandês Abel Tasman, que aqui acostou em 1642. Outros admitem que o marinheiro espanhol Juan Fernández o possa ter feito em 1576, da mesma forma que ainda permanece em aberto o debate sobre o primeiro europeu a chegar à Austrália.
No entanto, só na primeira das três viagens de James Cook ao Pacífico Sul é que a Nova Zelândia foi explorada e cartografada em pormenor por um europeu. A chegada do navegador britânico a bordo do HMB Endeavour em 1769, foi o princípio do fim do modus vivendi dos maori, habitantes destas terras desde o século XIII, momento em que terão desembarcado nesta costa vindos da Polinésia, a bordo de precárias wakas, ou canoas. Fixaram-se ali em migrações sucessivas. Os primeiros encontros entre maori e britânicos começaram mal: assim que desembarcaram, os homens de Cook abateram Te Maro, um chefe local, e outros indígenas morreram num tiroteio nos dias seguintes. Foi preciso esperar até 2019 para o governo britânico pedir oficialmente desculpas pelo acto, no âmbito do 250.º aniversário da chegada do explorador inglês. Desde 1851 que o apelido do navegador dá nome ao cume mais alto do país, o monte Cook, Aoraki em idioma maori, e ao parque nacional onde se encontra. O cume, com 3.724 metros de altitude, faz parte dos Alpes Neozelandeses, a cordilheira que corre ao longo da costa ocidental da Ilha do Sul, dominada por um reino de rocha e gelo, cenário do primeiro filme da trilogia “O Senhor dos Anéis”. Juntamente com três outros parques, o Parque Nacional de Aoraki/Monte Cook faz parte de Te Wahipounamu, a terra de jade, classificada como Património Mundial em 1990. Entre as montanhas setentrionais e os fiordes do Sul, abrange um décimo do território do país, acolhe os maiores glaciares e as florestas mais altas e é um bastião da flora e fauna ancestrais.
Ao longo da sua história em comum, o convívio entre os maori e os descendentes dos primeiros colonizadores europeus foi difícil. Uma das maiores desavenças ocorreu, compreensivelmente, sobre a forma de gerir o ambiente. Aqui, como em tantas outras regiões do mundo, a colonização quis despojar os povos nativos dos seus direitos, estreitamente vinculados à natureza. Os maori, que na actualidade representam 17% de uma população de 4,9 milhões de habitantes, consideram que todos os seres vivos coexistem numa intrínseca ligação com a terra e o céu e, como costumam dizer, “o ecossistema define a minha qualidade de vida”. Sabem que a sua saúde e bem-estar dependem da saúde do ambiente, uma afirmação que a ciência reconhece. Eles próprios, ao chegarem a estas terras que designaram por Aotearoa, ou terra da grande nuvem branca, sofreram as consequências negativas que a presença humana pode exercer.
Tudo indica que a primeira espécie invasora do país terá chegado a bordo daquelas wakas, as embarcações maori com as quais estes povos polinésios alcançaram a Nova Zelândia. Trata-se do rato do Pacífico, alvo actualmente do programa Predator Free 2050, lançado com o objectivo de erradicar, até meados deste século, essa espécie de roedor e outros dois mamíferos igualmente invasivos – os arminhos e os opossuns.
Ambos foram introduzidos pelos colonos no século XIX, o primeiro para servir de predador a outra praga introduzida, os coelhos, e o segundo para o comércio de peles. Antes da chegada do ser humano à Nova Zelândia, os únicos mamíferos em terra seriam algumas espécies de morcego e no mar os golfinhos, as baleias e as focas. Na actualidade, as espécies invasoras matam todos os anos inúmeros animais autóctones, alguns dos quais bastante ameaçados, como o kiwi, ícone nacional e gentílico informal dos neozelandeses. Deste exíguo género de aves, muito numerosas na sua época, restam cerca de 68 mil exemplares que são alvo de um programa de conservação. Segundo o último relatório trienal do Ministério do Ambiente da Nova Zelândia, publicado em 2019, as espécies invasoras constituem um problema ambiental de primeira ordem para a biodiversidade, juntamente com as alterações do uso do solo, a gestão dos recursos hídricos, a poluição, a captura de animais selvagens e as alterações climáticas. “Quase quatro mil das nossas espécies autóctones estão ameaçadas ou em perigo de extinção”, defende o relatório. A biodiversidade de Aotearoa é, sem dúvida, única: vive aqui una enorme quantidade de espécies endémicas, insubstituíveis, como a kakapo (Strigops habroptilus), “choro nocturno” em maori, declarada ave do ano de 2020 no país; a árvore Pseudopanax crassifolius, ou horoeka em idioma maori; o weta gigante ou wetapunga, uma espécie de gafanhoto nocturno do género Deinacrida que pode pesar mais do que uma ratazana; a tuatara, o último réptil da ordem Sphenodontia, muito numeroso na época dos dinossauros, ou o golfinho de Maui (Cephalorhynchus hectori maui), o mais pequeno do mundo.
Felizmente, apesar das ameaças, a Nova Zelândia continua a ter espaços selvagens com uma beleza exuberante e, em geral, todos os seus habitantes estão conscientes da importância de preservar esse incrível património natural. Os kauris (Agathis australis), árvores milenares cujo exemplar mais alto, Tane Mahuta, o Senhor do Bosque, com cerca de dois mil anos de idade e 50 metros de altura, se encontra na floresta de Waipoua, na zona mais meridional da Ilha do Norte, são um emblema da conservação. Enfrentam a ameaça de um esporo exógeno que apodrece as suas raízes, razão pela qual os visitantes devem limpar as solas dos seus sapatos à entrada das florestas para evitar que a ameaça ali penetre, colada a elas.
No centro desta ilha, fica o Parque Nacional de Tongariro, o mais antigo do país, reconhecido pela UNESCO como Património Mundial. Esculpida pela actividade vulcânica, esta espectacular paisagem com três vulcões activos simboliza os vínculos espirituais que o povo maori mantém com a natureza e acolhe cerca de cinquenta espécies de aves, como o kiwi-castanho (Apteryx mantelli).
Neste recanto do planeta, não abunda apenas a biodiversidade. Os amantes da astronomia têm também aqui locais privilegiados, como a Reserva Internacional Dark Sky Aoraki Mackenzie, perto do lago Tékapo, na Ilha do Sul, onde se encontra o Observatório Mount John, centro de investigação astronómica do país e sede do telescópio MOA.
Existe um conceito maori, que se exprime com a palavra kaitiakitanga, que descreve uma forma de habitar o mundo na qual os seres humanos, intrinsecamente vinculados à natureza, devem exercer a tutela e protecção do mundo natural. Actualmente, sob o mandato de Jacinda Ardern, firme defensora do convívio de todos os neozelandeses e também da preservação da natureza, parece que essa característica definidora da cultura maori tem mais possibilidades de prosperar do que nunca.