Como se transforma neblina em água utilizável? Veja como a escassez inspira o engenho humano na ressequida cidade de Lima, no Peru.

Durante os meses cinzentos e enevoados do Outono e do Inverno, mais de cem redes verdes podem ser vistas nos arredores de Lima, no Peru, colhendo um recurso surpreendente: nevoeiro.

A técnica é elegante na sua simplicidade. À medida que é capturado nas redes verticais, o vapor de água condensa-se, transformando-se em água líquida que goteja para um recipiente. Composto apenas por dois postes e uma rede de nylon, o dispositivo pode ser uma fonte de água significativa, colhendo entre 90 e 180 litros por dia.

Para algumas pessoas, é a única maneira de obter este recurso vital.

Lima, envolta em neblina costeira durante metade do ano, é a segunda maior cidade alguma vez construída num deserto. Os migrantes que vivem nos seus arredores não têm acesso à rede de água canalizada que fornece água potável segura ao resto da cidade.

Em acampamentos como este, camiões entregam água potável num local estipulado, por vezes custando mil vezes mais do que a água canalizada disponível nas zonas abastadas de Lima. A água colhida com as redes de nevoeiro não é potável, mas pode ser usada para tomar banho ou fervida para cozinhar, diminuindo a quantidade de água de que tem de ser comprada.

O engenheiro industrial Abel Cruz reparou nesta disparidade há 20 anos quando se mudou para um povoado de migrantes onde a água era escassa. Cruz começou a pensar em como poderia transformar a atmosfera húmida de Lima em água utilizável e agora, enquanto presidente da organização Movimiento Peruanos Sin Agua, partilha a sua estratégia caseira com outras pessoas necessitadas.

Para o fotógrafo Alessandro Cinque, projectos como este ilustram o tipo de engenho que será cada vez mais necessário nas comunidades com escassez de água.

A água potável é um recurso que está a diminuir. Os padrões de pluviosidade estão a tornar-se menos fiáveis devido ao avanço das alterações climáticas. Metrópoles como a Cidade do Cabo, na África do Sul, e Los Angeles, nos Estados Unidos da América, estão a sofrer secas crónicas. Quando cai nestes locais secos, a chuva é mais propensa a assumir a forma de um dilúvio: uma precipitação exagerada, causada por uma atmosfera mais quente.

Segundo a ONU, actualmente cerca de dois terços da população mundial sofre escassez de água pelo menos um mês por ano – e, até 2030, 700 milhões de pessoas poderão ser obrigadas a mudar-se para encontrar água.

Observando a eficácia simples das redes de nevoeiro, Cinque ficou com esperança de que ferramentas acessíveis possam ajudar as pessoas a sobreviver às alterações climáticas.

“Olhar [para as redes] cá de baixo fez-me lembrar cruzes católicas no topo das montanhas”, diz. “Fiquei surpreendido como algo tão simples pode mesmo ajudar as pessoas.”

Sediado no Peru, Alessando Cinque fotografa as consequências ambientais das alterações climáticas, sobretudo entre as populações indígenas.

Um novo Mapa Mundial da Água permite às pessoas saber mais sobre o abastecimento da água no local onde vivem. A introdução de uma morada revela a lacuna hídrica da zona – a diferença entre a procura humana e o abastecimento renovável vindo de fontes como rios, lagos e aquíferos. O mapa — elaborado por Marc Bierkens, Explorador da National Geographic, e Niko Wanders, com o apoio da National Geographic Society, da Universidade de Utrecht e da ESRI — também mostra as regiões onde a falta de água é mais alta e o esgotamento de aquíferos é mais grave, incluindo o Vale Central da Califórnia, nos EUA, o delta do rio Nilo, no Egipto, e a bacia do rio Indo, no Paquistão.

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