Encontram-se apenas entre a região oriental da Austrália e a Nova-Guiné e nas ilhas circundantes. Prosperam a várias altitudes, desde zonas baixas pantanosas a florestas nebulosas a mais de 3.500 metros acima do nível de mar. Com alimento em abundância, habitats variados e poucos predadores, as Aves do Paraíso evoluíram com grande diversidade. As 39 espécies podem ser pequenas ou grandes (16 a 125 centímetros entre a maior e a mais pequena) e a sua plumagem tanto pode ter tons monótonos como deslumbrantes.

Na Nova-guiné, cangurus trepam às árvores e grandes borboletas dardejam através da floresta tropical, onde mamíferos ovíparos deslizam no meio da lama. Há rãs com narizes iguais ao de Cirano de Bergerac e os rios correm carregados de peixes arco-íris.

No entanto, nenhuma das maravilhas selvagens da Nova-Guiné fascina tanto os cientistas como as Aves do Paraíso. As 39 espécies do planeta encontram-se apenas na Nova-Guiné e em algumas zonas vizinhas. Apesar de muitas décadas de exploração e investigação, ninguém tinha conseguido vê-las todas até agora.

Em 2003, o ornitólogo Edwin Scholes e o biólogo e fotógrafo Tim Laman começaram a planear uma missão para documentar todas as espécies de Aves do Paraíso. Foram necessários oito anos e 18 expedições a algumas das paisagens mais exóticas do planeta. Edwin e Tim capturaram exibições de cortejamento e comportamentos previamente desconhecidos.

Tim Laman

O mundo natural proporciona poucos espectáculos tão bizarros como os rituais de acasalamento dos machos da família Paradisaeidae, para os quais a biologia portuguesa praticamente não tem ainda nomes comuns [utilizámos na reportagem apenas os nomes científicos]. Explosões de plumas douradas, danças estilizadas, fios tácteis, rufos e folhos iridescentes, colarinhos, leques e cores ofuscantes constituem extravagâncias com um único propósito: atrair o maior número possível de fêmeas.

As Aves do Paraíso representam um exemplo extremo da teoria da selecção sexual de Charles Darwin: as fêmeas escolhem parceiros com base em certas características atraentes, aumentando dessa forma a probabilidade de essas características serem transmitidas à geração seguinte. Na Nova-Guiné, a abundância de alimento e a escassez de predadores permitiram que as aves-do-paraíso prosperassem e que as suas características mais atraentes fossem exacerbadas.

As plumas radiantes são valorizadas como objecto decorativo na Ásia há milhares de anos. Os caçadores que venderam os primeiros espécimes aos europeus no século XVI retiravam frequentemente as asas e as patas das aves para salientar as plumas. Isto inspirou a lenda de serem, literalmente, aves dos deuses, flutuando pelos céus sem nunca pousarem, alimentando-se das brumas paradisíacas.

No século XXI, Tim Laman e Edwin Scholes definiram o objectivo de documentar as aves da perspectiva das fêmeas. Na ilha de Batanta, a oeste da Nova-Guiné, Tim subiu 50 metros até ao dossel da floresta para fotografar o ritual de acasalamento da espécie Paradisaea rubra. Na península de Huon, a aproximadamente dois mil quilómetros para leste, o fotógrafo instalou uma câmara num ramo de árvore, apontada para baixo para captar a perspectiva semelhante à de uma fêmea ao avistar as coloridas penas do peito e o tutu de bailarina de um macho de Parotia wahnesi.

Embora os dois homens já tivessem experiência nos trópicos, nenhum podia prever a aventura que os aguardava. Suportaram viagens de helicóptero penosas e longas caminhadas por trilhos inundados e viram-se por duas vezes à deriva no mar, quando os motores do barco falharam. Em troca de momentos de descoberta emocionante, suportaram mais de duas mil horas sentados em abrigos, esperando e observando.

A observação de um Manucodia jobiensis reluzente assinalou o fim da missão, em Junho de 2012. Edwin e Tim esperam que o trabalho incentive a conservação na Nova-Guiné, onde o habitat das aves tem estado protegido pelo seu isolamento. Como Alfred Russel Wallace escreveu, “a natureza parece ter tomado todas as precauções possíveis para que estas [aves], os seus tesouros mais valiosos, não percam valor por serem obtidos com demasiada facilidade”.