Nada se compara ao sítio onde nascemos. Na vida e na fotografia, como sucedeu nesta série de 93 dias de Primavera no meu estado natal do Minnesota.

67.º dia: Aranhas sobre musgo

Quando fotografamos um território que conhecemos intimamente, ele interage com a nossa identidade

O registo fotográfico do lugar onde vivemos pode parecer um paradoxo. As máquinas fotográficas procuram o exótico, a novidade é inspiradora. Enquanto fotógrafo da National Geographic durante mais de três décadas, captei milhões de imagens em lugares longínquos desde as paisagens africanas aos grupos isolados de povos indígenas ou às cenas animadas de rua em Paris. Por vezes, contudo, as fotografias mais reveladoras são as que obtemos nos lugares que conhecemos melhor. Quando fotografamos um território que conhecemos intimamente, ele interage com a nossa identidade. A familiaridade e o conhecimento íntimo do tema manifestam-se na imagem fotográfica obtida Nasci no Sudoeste do estado do Minnesota, paisagem de planuras, sem acidentes de relevo, dominada por plantações de milho e soja. Não é uma região onde abundem imagens arrebatadoras. É provável que a minha aprendizagem aqui tenha sido uma bênção: cresci com o hábito de observar atentamente o mundo. A linguagem visual que utilizo nasceu nesta paisagem minimal de “território de passagem”. Esta foi para mim uma experiência quase transcendente. Sinto cada imagem como uma bandeirola de oração mostrada ao universo, uma celebração das maravilhas da natureza. Espero que parte desse encantamento ecoe a partir destas fotografias. Gosto de impor restrições a mim mesmo. Por isso, quando comecei esta série, pensei em fotografar apenas uma imagem por dia, registando-a ao meio-dia. Como os fotógrafos bem sabem, a luz do meio-dia é a pior de todas.

59.º dia: Lago Discovery

Passadas duas semanas, comecei a sentir que as minhas restrições eram demasiado artificiais e talvez mesmo cruéis. Graças a elas, perdia condições de luz e momentos preciosos. Por isso, optei por me deixar guiar pela estética e não tanto pelas horas do relógio. Estas fotografias foram, na sua maior parte, intuitivas e não planeadas. Por vezes, reparava num tema e dizia: “Esta orquídea ainda não desabrochou por completo. Volto mais tarde.” Mas o meu padrão foi a espontaneidade. Este projecto iniciou-se no equinócio vernal de 2014 e terminou na véspera do solstício de Verão. No Minnesota, as condições climáticas podem variar acentuadamente durante a Primavera. Quando a estação principia, existem camadas profundas de neve no Norte e a temperatura pode chegar a -35°C. Depois, começa a subir até se tornar desconfortavelmente elevada. 

77.º dia: Picapau-de-barriga-amarela

Creio que completei o círculo. Eis-me de regresso a casa.

Captei estas fotografias nos quatro principais biomas do estado: parques de álamos com vegetação alta, planícies de pradaria, floresta de folha caduca e floresta de coníferas. Muitas imagens contam uma história marcante. Por exemplo, nos cinco anos anteriores a este projecto, andara a observar um ninho de águias, mas nunca o fotografara. Ao 50.º dia desta temporada, quando finalmente decidira fotografá-lo, dei com um pigargo-americano a boiar num charco. Fora atropelado por um automóvel. Partiu-se-me o coração ao vê-lo deitar a cabeça e morrer dentro de água. A imagem seguinte (51.º dia) mostra o companheiro da águia esperando por ela, em vão, no ninho. Esperou vários dias. Outras imagens registam experiências mais felizes. O 91.º e o 93.º dia foram passados na pradaria “Touch the Sky”, uma reserva com cerca de quatrocentos hectares que fundei em 2002. É uma das mais extensas propriedades não cultivadas da região, perto da quinta onde nasci e captei algumas das minhas primeiras fotografias aos 14 anos. Creio que completei o círculo. Eis-me de regresso a casa. 

82.º dia: Arácea

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