Qualquer pessoa que hoje se encontre na costa varrida pelo vento da baía de Epaves, na extremidade setentrional da Terra Nova, poderá ter dificuldade em compreender a importância do modesto sítio arqueológico que se estende à sua volta. Aqui, em L’Anse aux Meadows — o nome é provavelmente uma referência deturpada de um antigo navio francês– encontra-se aquele que é actualmente o único povoado nórdico conhecido na América do Norte. Alguns altos e covas na erva, a réplica de um edifício e um belo museu assinalam o ponto do primeiro contacto entre populações humanas transatlânticas. É um sítio fantástico, mas o seu significado só foi reconhecido há relativamente poucas décadas.

Vikings América do Norte

Desembarcando na costa. Os nórdicos dirigem-se para a costa da Vinlândia numa ilustração de Tom Lovell/National Geographic Image Collection.

Até à década de 1960, a aventura viking na América do Norte só era conhecida em segunda mão através das sagas islandesas, os grandes contos épicos que compõem uma das jóias da literatura medieval dos povos do norte. Estas histórias incidem sobretudo na época viking entre cerca de 750 e 1050 d.C., mas foram escritas centenas de anos antes, sobretudo no século XIII. Se, e quanto, preservam as memórias genuínas dos antepassados que escreveram as sagas ou se são uma forma de ficção histórica, é algo que ainda hoje divide os académicos. Toda a narrativa das viagens nórdicas até à América do Norte está contida em apenas dois destes textos: a Saga dos Gronelandeses (Grænlendinga saga) e a Saga de Erik, o Vermelho (Eiríks saga rauða).

Sagas e fontes

Embora as duas sagas descrevam eventos do final do século X e do início do século XI, estão preservadas como colecções separadas de contos mais curtos em manuscritos medievais muito tardios. Existe consenso quanto à Saga de Erik, o Vermelho ser uma composição original do século XIII, mas não sobre a data da Saga dos Gronelandeses - alguns académicos apontam no início do século XIII e outros vão até tão tarde quanto o século XIV.

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O memorial de Leif Eriksson em Reiquejavique, na Islândia. Crê-se que Eriksson foi o primeiro europeu a pisar a América do Norte, chegando ali cerca de 500 anos antes de Cristóvão Colombo partir de Espanha. Fotografia de Alamy/ACI.

Discussões à parte, ambas as sagas contam a história de um país desconhecido a oeste da Gronelândia, descoberto por navios que foram empurrados para fora da sua rota, com expedições de exploração e a breve fixação que se seguiu. Com efeito, as duas sagas contradizem-se frequentemente, com versões diferentes de quem foi o primeiro a avistar terra, quem foi o primeiro a navegar até lá e até o número de viagens empreendidas.

A rota que seguiram, porém, é clara em ambas as fontes: rumo a Ocidente a partir da Gronelândia durante dois dias, até um país de pedras planas que os nórdicos apelidaram de Helluland (provavelmente a Ilha de Baffin), e depois para sul, descendo uma longa zona de florestas costeiras e praias prístinas a que chamaram Markland (provavelmente o Labrador), E, por fim, até à Vinlândia, a “terra das vinhas [selvagens]” e sua localização nunca é inteiramente clara, não sabendo se se refere à Terra Nova ou - mais provavelmente – algum sítio mais a oeste ou a sul.

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Terra à vista! Leif Eriksson avista o continente da América do Norte, num quadro pintado por Christian Krohg em 1893, exposto na Galeria Nacional da Noruega, em Oslo. Segundo as sagas nórdicas, escritas por volta do século XIII, as viagens para a América do Norte aconteceram cerca de 1000 d.C. Imagem de Album.

Na Saga dos Gronelandeses, a imagem é credível na sua complexidade e envolve múltiplas viagens até à Vinlândia. A crer nos relatos de um certo Bjarni Herjólfsson, que descobre a nova terra mas nunca desembarca nela, o primeiro contacto foi feito por um dos indivíduos mais famosos da era viking tardia: Leif Eriksson, conhecido como Leif, o Sortudo. Este fundou um povoado chamado Leifsbuðir, “casas de Leif”, que foi ocupado por viajantes posteriores.

Há várias viagens mencionadas após a de Leif: primeiro pelo seu irmão Thorvald, porque ali permaneceu três invernos; depois um grande esforço de colonização por um próspero mercado chamado Thorfinn Karlsefni (Karlsefni, uma alcunha que significa algo como “homem de verdade e a sua mulher Gudríd Thorbjarnardóttir; e por fim uma viagem liderada pela irmã de Leif, Freydís e dois homens que eram irmãos.

Na Saga de Erik, o Vermelho, que parece ter sido escrita ligeiramente mais tarde, tudo isto foi comprimido numa única viagem à Vinlândia. Desta vez é o próprio Leif que avista a Vinlândia, mas não vai a terra. Em vez disso, a tentativa de colonização é inteiramente empreendida por Thorfinn e Gudríd, que levam três navios com 160 colonos. Aqui são mencionados dois acampamentos, um sítio de Inverno chamado Straumfjord e outro mais duradouro chamado Hop.

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Gudríd, mulher de Thorfinn Karlsefni, retratada com o filho Snorri, o primeiro europeu nascido no hemisfério ocidental de que há conhecimento Ilustração de Louis S. Glanzman/National Geographic Image Collection.

Não é difícil combinar as duas sagas num conto de várias viagens com personagens mais ou menos fiáveis. Parece provável que os nórdicos se tenham fixado em mais do que um local, talvez criando um povoado substancial com locais de fixação temporários à medida que avançavam nas suas explorações.

Todas as histórias são vívidas e cheias de pormenores, drama humano e descrições, mas uma coisa é evidente para a visão de hoje: não foi uma “descoberta” porque a Vinlândia já estava habitada. Em ambas as sagas os nórdicos encontraram repetidamente autóctones a quem chamaram Skraelingar, um termo derrogatório que significa algo como “selvagens”.

Na saga de Erik, os dois grupos inicialmente negoceiam em paz, antes de a violência estalar devido a um mal-entendido. Na versão dos gronelandeses, há um conflito letal desde o início. Há mortes de ambos os lados e o tema comum é que os nórdicos acabaram por ser obrigados a fugir devido à resistência indígena à sua presença.

Tendo em conta os registos literários, parece que a comunidade nórdica da Vinlândia foi de curta duração: alguns anos no máximo. Rapidamente tornou-se apenas uma memória preservada pelos gronelandeses e acabou por chegar às sagas islandesas.

Factos no solo

Descobertas arqueológicas corroboraram os relatos das sagas sobre um povoado nórdico de curta duração na América do Norte. As novas descobertas estão a esclarecer-nos sobre quais os aspectos das sagas que se baseiam na realidade histórica e quais, talvez, não. Este desenvolvimento deu-se com a descoberta do sítio de L’Anse aux Meadows, no Canadá, pelo casal Anne Stine e Helge Ingstad, em 1960.

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Sujar as mãos. Fotografada em 1964 para a National Geographic, uma equipa liderada por arqueólogos noruegueses procura artefactos vikings em L’Anse aux Meadows, na Terra Nova. Fotografia de Emory Kristof/National Geographic Image Collection.

As habitações nórdicas descobertas em L’Anse aux Meadows são modestas: edifícios de turfa, reunidos em três grupos. As escavações realizadas no local, primeiro pelos Ingstads e mais tarde por Birgitta Linderoth Wallace e outros, identificaram oficinas e a loja de um ferreiro localizadas a alguma distância das outras estruturas (ambas com acesso a água canalizada e construídas de modo a minimizar o risco de incêndio). Uma delas poderia ser um abrigo para uma embarcação e existem evidências claras de trabalhos em madeira e reparação de navios.

Duas descobertas são fundamentais na confirmação de que o sítio era nórdico: um alfinete de capa com anel do tipo clássico e uma fusaiola em esteatito. Foi também descoberta uma agulha de osso, acendedores de lume em jaspe, provavelmente vindos da Gronelândia ou da Islândia, e lascas de madeira (materiais produzidos no processo de desbastar ou esculpir) que tinham sido trabalhadas com ferramentas de metal.

O sítio tem excelente vista para o mar e acesso a recursos marinhos, sobretudo abundantes bancos de pesca de bacalhau e colónias de patos-éider. Era um local perfeito na rota rumo a sul para navios vindos da Gronelândia, no ponto a partir do qual poderiam depois viajar em diversas direcções. Talvez vivessem aqui cem de pessoas ou um pouco mais – um número que se adequa bem às descrições da saga. O povoado poderia facilmente sobreviver aos invernos com a sua arquitectura familiar isolada e à prova de vento, adaptada ao Atlântico Norte.

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As sagas vikings mencionam três locais distintos na viagem para oeste da Gronelândia: Helluland (provavelmente a Ilha de Baffin), depois Markland (provavelmente o Labrador) e a Vinlândia. Descrições do destino final mencionam a sua vegetação luxuriante, com destaque para as vinhas silvestres. Num texto do século XI de Adam de Bremen, o cronista alemão descreve elogiosamente as uvas que cresciam na Vinlândia. Algumas pessoas sugeriram que L’Anse aux Meadows, na Terra Nova, poderia ser a Vinlândia, mas há um problema: apesar de ser o único povoado viking confirmado na América do Norte situa-se demasiado a norte. A latitude mais setentrional onde crescem uvas silvestres é mais perto da província canadiana de New Brunswick, o que implica que a Vinlândia tem de ser mais a sul. Vários locais emergiram como possibilidades, incluindo terras ao longo do Golfo de S. Lourenço e, possivelmente, tão a sul como Rhode Island. É mais provável que as habitações de L’Anse aux Meadows tenham sido estações de paragem do que uma tentativa de habitação permanente, por isso a busca por Vinlândia continua. Fotografia de Aurélien Potier/Getty Images.

É quase certo que L’Anse aux Meadows não era o único povoado nórdico na América do Norte. Demasiados aspectos do sítio contradizem a possibilidade de ter sido a única base. Por exemplo, onde estão as sepulturas ou as evidências de criação de animais? As sagas mencionam gado e, a ser verdade, não existem quaisquer vestígios disto neste sítio. Arqueólogos e outros procuraram durante muito tempo outros locais deste género, mas nenhum foi confirmado até à data.

Há alguns anos, houve alguma esperança com alguns sinais promissores descobertos em Point Rosee, numa localização aproximada equivalente à de L’Anse aux Meadows, mas na costa sudoeste. Infelizmente, trabalhos de campo mais aprofundados confirmaram que todas as características do sítio eram naturais e a busca pelo esquivo segundo sítio continua.

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Falsificação inteligente. Na década de 1950, a Universidade de Yale adquiriu o mapa de Vinlândia, que retrata áreas da América do Norte descritas pelas sagas nórdicas. Crê-se que o mapa é a representação mais antiga do continente e que data originalmente do século XIV, mas alguns académicos estão cépticos quanto à sua autenticidade. Após décadas de análises cuidadosas foi considerado uma falsificação em 2021, quando exames revelaram a presença de uma tinta do século XX, à base de titânio, nos gráficos e textos do mapa. Fotografia de AKG/Album.

A maioria dos académicos acha provável que L’Anse aux Meadows fosse um acampamento-base de longa duração: um local onde pudessem descansar, reabastecer e prepararem-se para o Inverno seguinte. Na Primavera e no Verão as expedições poderiam partir em explorações em busca de produtos para transaccionar, incluindo alimentos exóticos como abóbora e provavelmente madeira para cortar - um bem essencial nas paisagens despidas de árvores da Gronelândia e da Islândia. A ocupação permanente não parece ter sido o objectivo destes exploradores nórdicos.

Primeiras Nações Vikings

É evidente que L’Anse aux Meadows também foi intermitentemente ocupado por povos indígenas, que já se encontravam ali antes dos recém-chegados e regressaram depois. Os edifícios nórdicos foram destruídos pelo fogo, mas não é claro quem terá sido responsável por isto. Terão sido os últimos viajantes, quando partiram, ou um acto inteiramente diferente praticado por povos locais? Crê-se que estes povos indígenas sejam os antepassados dos Beothuk, embora não esteja confirmado. Actualmente só são visíveis em vislumbres fragmentados nas sagas e em alguns objectos recuperados em escavações.

Viking moeda

Moeda Viking. Uma moeda de prata nórdica do século XI foi descoberta num sítio arqueológico norte-americano no estado do Maine em 1957. Pode ser uma prova de que comunidades das Primeiras Nações muito a sul da Terra Nova negociaram com os colonos nórdicos. Fotografia de Age Fotostock.

A presença de um povo das Primeiras Nações também se faz sentir de outras formas. Um homem nórdico sepultado na Gronelândia tinha no corpo uma ponta de seta em pedra. Deverá ter vivido pelo menos o suficiente para regressar a casa. Peles de bisonte-americano, uma espécie das planícies não-nativa da Terra Nova, foi encontrada noutra sepultura gronelandesa. A presença da pele é uma evidência de comércio a longa distância.

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Primeiros povos.

A Saga de Erik, o Vermelho relata uma visão impressionante certa manhã: “uma frota de canoas de couro… tão grande que era como se o mar estivesse coberto de pedaços de carvão”. Tanto a saga de Erik como a Saga dos Gronelandeses referem-se aos povos das Primeiras Nações na América do Norte como Skraelingar, um povo que abana instrumentos ruidosos e transporta arcos e flechas. Na Saga dos Gronelandeses, a segunda expedição de Leif Erikson até à Vinlândia termina em confrontos com os povos indígenas e na morte do seu irmão Thorvald. Uma tentativa de colonização posterior empreendida por Thorfinn Karlsefni começa com interacções comerciais pacíficas, mas torna-se violenta. Existe consenso entre os historiadores de que estes povos podem ter sido os antepassados dos Beothuk que mais tarde prosperaram na Terra Nova. Os contactos com os europeus no século XVI em diante revelaram-se desastrosos para os Beothuk: obrigados a retirarem-se das suas terras pela expansão europeia, os Beothuk passaram fome e sofreram um declínio demográfico. O povo poderá ter-se extinguido até 1829.

Na imagem, os Skraelingar, chegando em barcos a remos, atacam os nórdicos nesta ilustração de Peter V. Bianchi/National Geographic Image Collection.

Mais dramaticamente, uma moeda cunhada pelo rei Olaf III Haraldsson da Noruega em finais do século XI, foi encontrada num povoado nativo americano no Maine, que foi ocupado mais de 100 anos depois. A moeda estava muito desgastada e fora perfurada para ser usada como pendente. Quem sabe por quantas mãos terá passado – e durante quanto tempo – até chegar ali?

Vestígios da Vinlândia

As sagas nórdicas que descrevem estas viagens à América do Norte não são claras relativamente às datas e, como é óbvio, foram compostas séculos após os acontecimentos que relatam. Existe um consenso quanto à acção decorrer por volta do ano 1000. A referência fidedigna mais antiga a Vinlândia – com a confirmação de que o nome estava relacionado com uvas silvestres – é da década de 1070, quando é mencionada de passagem pelo clérigo alemão Adam de Bremen na sua história eclesiástica.

viking

Design Viking. Os navios nórdicos frequentemente apresentam intrincadas ornamentações esculpidas nas suas proas, como se pode ver neste fragmento de proa no Museu dos Navios Viking, em Oslo, na Noruega. Fotografia de Prisma/Album.

Curiosamente, descreve-a como uma ilha, diz que era um sítio “visitado por muitos” e que ouviu falar nela através “de relatos fiáveis dos dinamarqueses”. Uma vez que a maioria dos viajantes do Atlântico Norte parecem ter vindo da Islândia e da Gronelândia, este relato implica que a ideia da existência de uma terra do outro lado do Atlântico estava bastante generalizada na Europa do Norte décadas após o primeiro contacto nórdico com o território.

Até há pouco tempo, o material arqueológico de L’Anse aux Meadows só tinha uma cronologia alargada, baseada em objectos da época viking tardia e uma datação de radiocarbono de cerca de 990 a 1050. No entanto, em 2021 um estudo notável de Margot Kuitems e colegas foi publicado na revista Nature, descrevendo em pormenor a utilização de um novo tipo de calibração por radiocarbono com base em picos de radiação solar, o que significava que os objectos poderiam ser datados de forma exacta – ao ano. Vários pedaços de madeira relacionados com a ocupação nórdica demonstraram ter sido cortados no mesmo ano: 1021 d.C., cerca de uma década depois da última melhor estimativa, embora uma data não muito distante da mencionada nas sagas. Mas o melhor é não ficarmos demasiado fixados neste ano exacto. É evidente que assinala um período de grande actividade no sítio, mas este pode ter sido fundado mais cedo e também pode ter sido reocupado mais tarde.

história dos Vikings

Escrito nos anéis. Um pedaço de madeira do sítio de L’Anse aux Meadows ajudou a determinar em que altura viveram ali os nórdicos ali. A dendrocronologia, que situa cronologicamente os acontecimentos utilizando os anéis de crescimento das árvores, é uma ferramenta valiosa para os arqueólogos. Os historiadores sabiam que uma tempestade solar ocorrida em 993 causara um pico no radiocarbono, visível no anel desse ano. Contando a partir do anel correspondente a 993 para fora, descobriu-se que os nórdicos cortaram a árvore por volta de 1021. Fotografia de Petra Doeve.

história dos Vikings

Algo sugestivo desta natureza intermitente foi revelado nos estudos de Paul Ledger e colegas, que analisaram amostras de uma turfeira existente perto do sítio. Matéria orgânica reveladora (que os arqueólogos denominam “eco-factos”) e depósitos culturais sugerem que a ocupação nórdica pode ter durado muito mais de um século, embora não tenha sido contínua. A ocupação indígena estende-se ao longo de um período ainda mais alargado e é possível que a área tenha sido um local de interacção partilhado em diversas ocasiões.

Esta ideia é compatível com anais da Islândia que se referem a navios nórdicos que recolhiam madeira em Markland numa data tão tardia como 1347, uma actividade que, aparentemente, era considerada comum. Num desenvolvimento interessante, a mesma região, descrita como Marckalada, foi recentemente identificada por Paolo Chiesa na Cronica universalis, uma obra milanesa de cerca de 1340. É evidente que os rumores de um local a oeste da Gronelândia já tinham chegado ao mundo mediterrânico 150 anos antes de Cristóvão Colombo viajar para o ocidente.

moeda viking

Em 2021, o professor Paolo Chiesa, da Universidade de Milão, descobriu a primeira referência do sul da Europa à América do Norte. Escrita por volta de 1340 por um frade milanês a Cronica universalis contém uma descrição da Marckalada (Markland), o nome viking para aquilo que é mais provavelmente o Labrador, “onde vivem os gigantes”. Chiesa especula que o monge tenha tomado conhecimento da Markland através de marinheiros em Génova, um movimentado porto italiano. A passagem descreve a terra e os seus habitantes, incluindo a vida selvagem: “Mais a norte fica o oceano, um mar com muitas ilhas onde vive um grande número de falcões peregrinos e gerifaltes. As ilhas ficam tão a norte que a Estrela do norte fica atrás de nós, a sul. Os marinheiros que frequentam os mares da Dinamarca e da Noruega dizem que a norte, para lá da Noruega, fica a Islândia. Mais adiante existe uma ilha chamada Grolandia [Gronelândia], onde a estrela do norte fica atrás de nós, a sul. O governador dessa ilha é um bispo. Nessa terra não existe trigo, vinho nem fruta; as pessoas vivem de leite, carne e peixe. Vivem em casas subterrâneas e não se atrevem a falar alto ou a fazer qualquer ruído com medo de que os animais selvagens os ouçam e os devorem. Grandes ursos brancos vivem ali, nadam para o mar e trazem pessoas naufragadas para a costa. Vivem ali falcões brancos que são capazes de grandes voos e são enviados para o imperador de Kata [Cathay, o termo medieval para designar a China]. Mais a oeste existe outra terra, chamada Marckalada, onde vivem gigantes. Naquela terra existem edifícios feitos de lajes de pedra tão grandes que ninguém consegue ali erguer edifícios com elas, sem serem enormes gigantes. Existem também árvores verdes, animais e um grande número de aves. No entanto, nenhum marinheiro poderia alguma vez ter a certeza acerca de algo sobre esta terra ou as suas características. Devido a todos estes factos, é evidente que existem povoados no Pólo Árctico.

Na imagem, um drakkar, um navio comprido viking, é retratado numa moeda de finais do século IX. Provavelmente cunhada na Dinamarca, foi descoberta no entreposto comercial viking de Birka, na Suécia. Fotografia UIG/Album.

Não existem dúvidas de que os vikings viajaram para a América do Norte no início do século XI e fizeram um grande acampamento na região norte da Terra Nova. E é provável que tenham navegado até terras desconhecidas mais distantes, ainda por explorar. Igualmente certo é que existe também uma história das Primeiras Nações sobre este encontro e que esta poderá também um dia emergir do registo arqueológico.

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