A 9 de Outubro de 1969 era instituído o Dia Mundial dos Correios, em Tóquio, durante o Congresso da União Postal Universal, através da Resolução C 32/1984. A data escolhida coincide com a fundação da União Postal Universal, em Berna, a 9 de Outubro de 1874. 

Hoje, assinalamos a efeméride com o foco em exemplos, dentro e fora do país, de colecções de selos postais com ilustrações alusivas à vida animal. Antes vamos, porém, recuar às origens do serviço postal. 

como surgiu e evoluiu o serviço postal?

Desde sempre, o homem sentiu necessidade de enviar informação (ou bens materiais) a longas distâncias, mas esta prática só se tornou verdadeiramente viável, e sem risco elevado de degradação da mensagem, quando se criou a mensagem escrita.

Embora os serviços de distribuição pública de correspondência e encomendas existissem já nos grandes impérios históricos – com destaque para o cursus publicus romano, direccionado sobretudo para o governo e exército, mas a que os cidadãos podiam potencialmente aceder, mediante autorização –, foram-se degradando com o colapso do Império Romano Ocidental.

Apesar de, a Oriente, o Império Mongol ter aperfeiçoado a já existente rede de comunicações chinesa, na Europa os serviços de correio estruturados acessíveis ao público desaparecem no século X, ficando as comunicações escritas dependentes de mensageiros, geralmente afectos a nobres ou ao clero. Esta situação só muda no século XV, quando a família alemã Thund und Taxis, por ordem do imperador Maximiliano I do Sacro Império Romano, passa a chefiar, na pessoa de Franz von Taxis, o que é considerado o primeiro serviço de correios moderno, que rapidamente se espalha pela Europa. Uma novidade importante é que, ao contrário do que até aqui era comum, qualquer pessoa podia potencialmente aceder aos serviços deste, desde que fosse capaz de pagar os custos, o que repentinamente abre o serviço de correios a milhares, senão mesmo milhões, de pessoas em condições de o aproveitar, com destaque para a alta burguesia, detentora de numerosos negócios que passam a poder trocar informações tão rápido quanto a tecnologia da altura permitia.

Franz von Taxis
SHUTTERSTOCK/ Koray Olsen

Num envelope enviado por correio de Frankfurt para Weizen, podemos ver um selo postal apresentando um retrato de Franz von Taxis (1459–1517), considerado o inventor do serviço postal.  

Esta potencialidade não passa despercebida ao rei D. Manuel I de Portugal, que em 1520 decide instituir um serviço público de correios, nomeando para isso Luís Homem como primeiro correio-mor do reino. Homem, que tinha sido embaixador real à Flandres, estava familiarizado com o sistema dos Thund und Taxis, que lhe serve de inspiração.

Porque foram criados os selos postais?

Os correios públicos, embora fossem uma grande mais-valia, continuavam no entanto a apresentar grandes problemas, nomeadamente de rentabilidade, visto que geralmente era quem recebia a mensagem que estava responsável pelo seu pagamento, podendo recusar recebê-la caso não quisesse ou pudesse pagar. Além disso, os assaltos aos mensageiros dos correios causavam invariavelmente grandes perdas aos correios.

Para dar resposta a estas limitações, o professor britânico Rowland Hill em 1837 inventou uma solução que permitia aos correios diminuir as suas perdas e, em consequência, também baixar substancialmente os custos para os seus utilizadores, já que não tinham de cobrir as perdas dos serviços: o selo postal, que consiste num pequeno adesivo colocado na carta que sinaliza que os portes desta já se encontram pagos.

O primeiro selo utilizado foi assim o One Penny Black, em 1840, que rapidamente ganhou a confiança do público e, por consequência, passou a ser usado. Em Portugal, entra em circulação 13 anos depois a sua adaptação, com a cara de D. Maria estampada.

PENNY BLACK
SHUTTERSTOCK

Uma rainha Victória de perfil figura no primeiro selo postal adesivo do mundo utilizado num sistema postal público. Aquele que ficou conhecido como "Penny Black", foi emitido pela primeira vez no Reino Unido a 1 de Maio de 1840. 

Rapidamente, os selos, para lá do seu uso prático, atraíram coleccionadores do mundo inteiro, pelos ilustrações muitas vezes com valor artístico relevante e por cobrirem várias áreas de interesse. Um tema muito recorrente é o das figuras animais, seja para destacar espécies de valor cultural relevantes, seja para apoiar ou chamar a atenção para espécies em perigo ou acções de conservação relevantes. Destacamos, alusivas a este tema, seis (colecções de) selos icónicos:

1. Threepenny Beaver (1851)

Este foi, que se saiba, o primeiro selo no mundo a ser decorado com uma figura de um animal, no caso um castor-americano (o apropriadamente chamado Castor canadensis), por Sir Sandford Fleming. Até aqui, os selos eram quase sempre decorados com figuras da realeza.

Para esta escolha terão pesado as características normalmente associadas a esta espécie, como a capacidade de trabalho, talento como construtor e tenacidade, características essas que a na altura jovem nação canadiana queria cooptar, mas também o facto de o castor ser, nesta altura, uma espécie de particular interesse económico na região devido à sua pele.

The Three-Pence Beaver
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2. Inverted Swan (1855)

Com um cisne-negro (Cygnus atratus) representado, "Inverted Swan" é provavelmente um dos selos mais valiosos produzidos na Austrália. Porquê? Corresponde a um dos primeiros erros na história da filatelia (nomeadamente, um dos primeiros erros de inversão) e isso vale dinheiro. Só são conhecidos 15 selos intactos com esta anomalia, o que o torna muitíssimo raro e cobiçado.

 

3. Série Comemorativa da Reintrodução do Lince Ibérico em Portugal (2015) 

Esta colecção de selos começou a circular aquando do arranque do processo de reintrodução deste carnívoro endémico da Península Ibérica em Portugal (Lynx pardinus) ao abrigo do programa LIFE+IBERLINCE, como forma de sensibilizar os utilizadores do serviço postal para esta novidade. A colecção retrata não só o animal em questão, como também a sua presa principal, o coelho-bravo (Orictolagus cuniculus).

Os CTT – Correios de Portugal apoiaram também este programa com o apadrinhamento dos linces-ibéricos residentes no Jardim Zoológico de Lisboa. 

lince iberico

Campanha de sensibilização para a reintrodução do lince ibérico através de selos postais dos CTT. 

4. Owney, The Postal Dog (2011)

Este selo, lançado em 2011, comemora uma figura  mítica do serviço de correios dos EUA: Owney, a sua mascote oficial, um pequeno rafeiro que fez da estação de correios de Albany, NY, a sua casa e que, com o tempo, começou a seguir os sacos dos correios não só nesta, mas até à estação de comboios e mesmo para dentro do comboio, viajando pelos EUA e “coleccionando” uma série de medalhas, que ostentou durante a sua vida. Quando morreu, o corpo de Owney foi preservado e está hoje em exposição no National Post Museum.

Owney
DOMÍNIO PÚBLICO

Ilustração de Owney, o cão que foi a mascote não oficial do Serviço de Correio Ferroviário dos Estados Unidos da América na década de 1890. Em 2011 foi alvo de um selo especial. 

5. 50 Years of The Endangered Species Act (2023) 

Com o objectivo de celebrar os 50 anos da principal lei que rege a conservação nos EUA, esta colecção apoia-se em fotografias de 20 espécies de animais ameaçadas que residem no país ou perto das suas fronteiras. Os motivos dos selos vêm da National Geographic Photo Ark, um projecto da National Geographic Society que visa documentar a biodiversidade existente no nosso planeta recorrendo à mestria do fotógrafo da National Geographic Joel Sartore.

6. Espécies Endémicas da Madeira (2023) 

Como o nome indica, a colecção lançada em Setembro ilustra algumas espécies que ocorrem unicamente no arquipélago da Madeira. Para além das espécies presentes nos selos, nomeadamente a osga-das-Desertas (Tarentola bischoffi), o caracol Discula lyelliana e a lagartixa-da-Madeira (Teira dugesii), a colecção apresenta também um bloco filatélico que é ilustrado com a tarântula-das-Desertas (Hogna igens).

Na sua página de Internet dedicada à sustentabilidade, os CTT – Correios de Portugal afirmam recorrer à filatelia para "a sensibilização ambiental, em parte por ter grande prestígio no estrangeiro". Podemos ler ainda que as  pagelas com informação técnica sobre o motivo do selo são usadas para "divulgar conhecimentos sobre espécies de fauna e flora protecção e conservação de ecossistemas e datas eventos relevantes relacionados com a biodiversidade".