Uma hora de automóvel a sul de Cabul, pela auto-estrada de Gardez, depois de uma curva acentuada à esquerda, começa uma estrada de terra batida. O caminho prossegue junto do leito seco de um rio, passando por aldeias, postos militares de controlo rodoviário e torres de sentinela. Um pouco mais adiante, a vista abre-se sobre um vale sem árvores, enrugado por valas e muralhas antigas expostas.

Em 2009, uma equipa de arqueólogos começou a escavar milhares de estátuas, manuscritos, moedas e monumentos sagrados budistas neste sítio épico. Mosteiros e fortificações emergiram à luz do dia, alguns dos quais remontando ao século III d.C. A escavação foi, de longe, a mais ambiciosa da história do Afeganistão.

No entanto, um acaso geológico punha estes tesouros culturais em perigo. Mes Aynak significa “pequeno poço de cobre”, no dialecto local, mas o poço nada tem de pequeno. O veio de minério de cobre enterrado sob as ruínas é uma das maiores jazidas do planeta ainda por explorar, com um volume estimado em 12,5 milhões de toneladas. Em 2007, um consórcio chinês adquiriu os direitos de extracção do minério, com um contrato de exploração de 30 anos. A empresa fez uma oferta de mais de 2,6 mil milhões de euros e prometeu criar infra-estruturas nesta região isolada e subdesenvolvida.

budista

O cobre trouxe riqueza a este local. Os arqueólogos já escavaram milhares de tesouros raros, incluindo o mais antigo buda de madeira completo que se conhece, datado de 400 a 600 d.C..

Antes de o acordo com os interesses chineses se tornar público, os artefactos já corriam o risco de serem arrancados, peça a peça, por salteadores. Os defensores do património cultural afegão exigiram que os tesouros fossem escavados e devidamente registados antes de a exploração mineira a céu aberto começar. Com começo inicialmente projectado para 2012, o projecto de mineração foi adiado devido a divergências contratuais, à descida dos preços do cobre e ao conflito entre o Afeganistão e os fundamentalistas talibã. Agora que os militantes controlam o país, o futuro do sítio é ainda mais incerto.

O passado revelado pelos arqueólogos contrasta com a violência e desordem da actualidade. Entre os séculos III e VIII d.C., Mes Aynak foi um centro espiritual que floresceu em relativa paz. Pelo menos sete complexos monásticos budistas com vários níveis formam um arco em redor do sítio e cada um está protegido por torres de vigia e muros altos. O cobre tornou ricos os monges budistas que aqui viveram e depósitos colossais de escória atestam a sua produção em grande escala.

São bem conhecidas as antigas ligações do budismo ao comércio, mas pouco se sabe sobre a sua relação com a produção industrial. É nesta matéria que Mes Aynak poderá preencher lacunas importantes, sugerindo um sistema económico mais complexo do que se pensava.

Para compreender completamente o significado de Mes Aynak vão ser precisas décadas de investigação. Resta aos arqueólogos a esperança de que o tempo corra a seu favor e que tenham a oportunidade de revelar mais sobre este capítulo pouco conhecido dos dias de glória do budismo no Afeganistão.