Muitas pessoas ficam confusas com o termo “pterossauro” até se acrescentar a expressão “semelhantes a pterodáctilos”.

Foi este o nome comum dado ao primeiro pterossauro descoberto no século XVIII. A partir de então, os cientistas descreveram mais de duzentas espécies de pterossauro, mas as noções populares sobre estes animais – os dragões alados que dominaram os céus mesozóicos durante 162 milhões de anos – permaneceram inalteradas. Imaginamo-los invariavelmente como répteis alados e desajeitados, com cabeças pontiagudas, asas de couro e tendências assassinas.

Veja-se, por exemplo, o filme “Quando o Mundo Nasceu”, de 1966, no qual um pterossauro captura Raquel Welch para alimentar as suas crias. Mesmo no recente “Mundo Jurássico”, de 2015, os pterossauros ainda são concebidos a erguer seres humanos pelos ares, representando o papel de eternos vilões. Para além da implausibilidade gerada pelo desfasamento de 66 milhões de anos entre a extinção de uns e a hegemonia dos outros, é uma grave distorção do papel ecológico deste grupo.

Uma vaga de descobertas recentes de fósseis de pterossauros revelou novas e surpreendentes formas, tamanhos e comportamentos. Alguns paleontólogos suspeitam que centenas de espécies de pterossauros poderão ter vivido em simultâneo, dividindo entre si os habitats, à semelhança das aves contemporâneas. O seu mundo incluía monstros como o Quetzalcoatlus northropi, um dos maiores animais voadores alguma vez descobertos, quase tão alto como uma girafa, com uma envergadura de asas de 10,7 metros e um provável gostinho especial pela captura de crias de dinossauros. Incluía, ao mesmo tempo, pterossauros do tamanho de pardais que esvoaçavam pelas florestas primordiais e podem ter-se alimentado de insectos, pterossauros de grandes dimensões com uma autonomia de voo de vários dias que lhes permitia atravessar oceanos, como os albatrozes modernos, e pterossauros que habitavam charcos de águas salinas e praticavam a alimentação por filtragem, como os flamingos.

Fibras semelhantes a pelagem deixaram marcas subtis em sectores deste fóssil de Jeholopterus descoberto na China. A penugem isolante sugere a possibilidade de os pterossauros mais evoluídos terem sido animais de sangue quente. 

Entre os achados mais excitantes encontra-se um conjunto de ovos fossilizados de pterossauro. Tomografias desses ovos intactos revelaram o mundo dos embriões no interior da casca e ajudaram a explicar a maneira como as crias se desenvolviam. Até se descobriu um ovo no oviduto de uma fêmea de pterossauro Darwinopterus na China, juntamente com outro ovo aparentemente expelido devido ao impacte que a matou. Este espécime tornou-se assim o primeiro pterossauro cujo sexo foi indiscutivelmente identificado. Uma vez que não tinha crista na cabeça, forneceu as primeiras provas concretas de que, tal como acontece em algumas aves contemporâneas, as cristas altas e coloridas funcionavam provavelmente como dispositivo de exibição sexual em machos. Estas descobertas deram uma aura mais realista aos pterossauros, transformando-os em animais reais. Naturalmente, os investigadores tornaram-se igualmente mais ávidos de novas informações sobre eles.

Dirigindo-se na direcção das sequências estratificadas do Parque Nacional Big Bend, no Texas, o investigador britânico Dave Martill propõe uma “lista de tarefas” para a sua breve missão de reconhecimento: (1) Encontrar uma cascavel para admirar. (2) Descobrir um crânio de Quetzalcoatlus inteiro no solo. A viabilidade do primeiro ponto da lista tem probabilidades infinitamente superiores. No entanto, Dave e Nizar Ibrahim, outro paleontólogo, rapidamente se embrenham numa discussão pormenorizada sobre a forma de obterem uma licença de investigação, caso venha a concretizar-se.

Esta é a primeira regra da investigação sobre pterossauros: o optimismo é fundamental. Sair para o terreno num dia e encontrar um vestígio de pterossauro é como comprar um bilhete de lotaria premiado, mas estes cientistas já discutem a melhor maneira de repartir os ganhos. Os fósseis de pterossauro são extraordinariamente raros. Todo o seu mundo esplendoroso, baseado em ossos ocos e finos como papel que há muito se desfizeram em poeira. A escassez define ainda mais a regra no caso do Quetzalcoatlus, conhecido apenas através de alguns fragmentos descobertos em Big Bend na década de 1970.

Num amontoado de ossos fósseis encontrados no Brasil, descobriram-se pelo menos 47 pterossauros de uma única espécie: Caiuajara dobruskii. O leito de ossos fornece evidências sólidas de que alguns pterossauros viveram e morreram em colónias. 

Dave e Nizar passam três dias à caça de ossos no meio das colinas “retalhadas”. Atravessam e voltam a atravessar a formação promissoramente apelidada de Cumeeira dos Pterodáctilos, consultando frequentemente os pontos deixados nos mapas pelo indivíduo que descobriu o Quetzalcoatlus há quatro décadas. Decifram os matizes dos estratos geológicos (“Olha para aquela ciclicidade controlada por Milankovitch!”, exclama Dave, referindo-se à forma como variações na órbita terrestre ficam expressas no registo geológico) e invocam mundos esquecidos. Numa cumeeira de arenito sem um trilho de descida reconhecível, Dave comenta: “Ainda não vi até hoje uma montanha de onde não pudéssemos cair”, atirando-se para a frente e emergindo ileso pouco depois.

Nesta campanha, não encontram cascavéis, nem o mais pálido indício de um pterossauro.
O fémur de um dinossauro gigante, talvez um Alamosaurus, aparece, à laia de prémio de consolação. Mas os dinossauros não são pterossauros, nem vice-versa. À saída do parque, os dois paleontólogos já estão a cartografar o regresso até à pesquisa do Quetzalcoatlus, permanentemente fascinados pela mistura de formatos, tamanhos e comportamentos que poderão vislumbrar através dos mais raros vestígios fossilizados.

As concepções científicas sobre os pterossauros têm sido muito diversificadas até em aspectos tão essenciais como a sua aparência ou o seu comportamento. É em parte por isso que os investigadores têm de formular hipóteses com base num punhado de espécimes, lidando com a ausência de pormenores essenciais. Além disso, a anatomia dos pterossauros é francamente bizarra e aparentemente pouco adequada para a vida em terra ou no céu. Alguns cientistas retrataram os pterossauros arrastando-se no solo, sobre a barriga.

Outros imaginaram-nos caminhando erectos sobre as patas traseiras como zombies, com os seus membros anteriores estranhamente alongados e com asas dobradas para trás, como se fossem capas. Outros ainda retrataram os pterossauros caminhando sobre quatro patas, com as asas dobradas lateralmente, mas deslocando-se com hesitação, como se estivessem a usar muletas pela primeira vez. Alguns investigadores pensaram que os pterossauros eram tão incompetentes em termos aeronáuticos que só conseguiam levantar voo pendurando-se em posição invertida em penhascos e lançando-se no ar.

“Não é invulgar a cabeça e o pescoço terem três ou quatro vezes o comprimento do tronco”, explica Michael Habib, que estuda a anatomia e o movimento dos pterossauros. Até as ilustrações científicas os representam mal. “Basicamente, pegam num modelo de ave e acrescentam-lhe uma asa membranosa e uma crista, mas as proporções do pterossauro não são semelhantes às das aves.”

Nizar Habib trabalha no Museu de História Natural da Comarca de Los Angeles e resolveu repensar a biomecânica do pterossauro, combinando uma abordagem intensamente matemática com os conhecimentos anatómicos adquiridos através do seu outro trabalho: ele é docente no laboratório de cadáveres humanos da Faculdade de Medicina da Universidade do Sul da Califórnia.

À semelhança da maioria dos investigadores, Nizar acredita que os primeiros pterossauros surgiram há aproximadamente 230 milhões de anos, descendendo de répteis fortes e leves adaptados a correr e a saltar atrás das presas. Esses saltos para capturar insectos ou escapar a predadores terão dado lugar a “saltos a seguir aos quais eles não voltariam a descer durante algum tempo”, teoriza o especialista. Os pterossauros devem ter começado por planar e, depois, dezenas de milhões de anos antes das aves ou dos morcegos, tornaram-se os primeiros vertebrados a praticar o voo sustentado.

Os ossos do Caiuajara dobruskii aguardam oportunidade de estudo num museu brasileiro. Uma vaga de descobertas de fósseis mudou radicalmente a percepção científica dos pterossauros.

Com a ajuda de equações aeronáuticas aplicadas pela primeira vez à biologia, Nizar e os seus colegas descartaram a hipótese do lançamento para o voo a partir de penhascos. Também demonstraram que o voo a partir do solo, numa postura bípede erecta, como proposto por outros investigadores, teria despedaçado os fémures de espécies maiores. A descolagem a partir de uma posição de apoio sobre as quatro patas fazia mais sentido, acrescenta. “O objectivo é posicionar-se sobre os membros anteriores e impulsionar-se para o ar, como acontece no salto com vara.” Para levantarem voo a partir da água, os pterossauros marinhos usariam as suas asas como remos, empurrando a superfície e elevando-se no ar, “como faz o nadador Michael Phelps quando nada mariposa”, brinca Nazir. Tal como Phelps, os pterossauros tinham ombros largos e musculados, talvez articulados com “patas estranhamente pequenas” nos membros posteriores, de forma a minimizar o atrito.

As asas dos pterossauros consistiam numa membrana ligada a cada flanco desde o ombro até ao tornozelo por um quarto dedo espectacularmente alongado, projectado a partir do rebordo frontal da asa. Espécimes magnificamente preservados, provenientes do Brasil e da Alemanha, revelaram que a asa membranosa possuía músculos e vasos sanguíneos, apresentando-se reforçada com tecidos fibrosos.

Os investigadores pensam actualmente que os pterossauros poderiam fazer ajustes subtis à forma das asas em função de diferentes condições de voo, contraindo os músculos das asas ou deslocando os tornozelos para dentro e para fora. A alteração do ângulo de um osso do pulso chamado pteróide poderá tê-los equipado com algo equivalente aos slats do bordo das asas de um avião de passageiros, aumentando a sustentação a baixas velocidades. Os pterossauros também empregavam mais músculos na arte de voar e uma maior proporção do seu peso corporal do que as aves. Até os seus cérebros parecem ter evoluído para o voo, com lobos ampliados para o processamento de dados sensoriais complexos transmitidos pela asa membranosa.

Como resultado, os pterossauros começaram a parecer menos desastrados e mais sofisticados nas suas capacidades aeronáuticas. Muitas espécies parecem ter evoluído para voar devagar, mas com grande eficácia em voos de longo curso, aproveitando as fracas correntes térmicas oceânicas para planar longas distâncias. Segundo Nazir Habib, alguns podem até ter sido “hiperaéreos”. Por exemplo, o Nyctosaurus, um pterossauro marinho parecido com um albatroz, com uma envergadura de asas de quase três metros, tinha um rácio de planagem (a distância na horizontal que conseguia percorrer por cada metro de descida vertical) “ao nível de um planador de corrida contemporâneo, um veículo que concebemos como aeronave de planagem altamente eficaz”, resume.

Após uma palestra recente de Nizar Habib, um paleontólogo na sala levantou a questão subsequente: teria a capacidade craniana evoluído à medida da capacidade de voo? Pensa-se que o Quetzalcoatlus, por exemplo, teria um crânio de três metros de comprimento, apoiado num tronco com um quarto disso. O Nyctosaurus tinha uma cabeça desproporcional e um espigão enorme no alto, possivelmente uma crista.

Repleto de dentes para caçar peixes, este fóssil de Anhanguera piscator conserva as suas formas reais – um tesouro para os paleontólogos. O crânio e outros ossos (desdobrável) foram descobertos numa região do Brasil rica em fósseis. Fotografia de NSM-PV 19892, Museu Nacional 

A resposta de Nizar está parcialmente associada aos cérebros dos pterossauros, que acrescentavam um peso mínimo às cabeças gigantescas. Além disso, os ossos dos pterossauros eram ocos, e as paredes ósseas tinham menos de um milímetro de espessura em alguns casos, compostas por camadas laminadas entrecruzadas para resistir a torções e fracturas, com escoras na parte central oca para impedir deformações. Isso permitia aos pterossauros aumentar o tamanho dos seus ossos, desenvolvendo características anatómicas de maiores dimensões sem um acréscimo de peso significativo.

Os seus crânios, enfeitados com cristas e quilhas, e as bocas grandes e escancaradas atingiam proporções descritas por Nizar Habib como “ridículas”. Isto levou-o a formular uma hipótese do tipo “Lobo Mau” de que “uma cabeça grande permite a existência de uma grande boca, muito útil para comer alimentos variados”, comentou. Os pterossauros “eram cabeças voadoras assassinas gigantes”, disse Habib ao interlocutor que o questionara na palestra.

Numa rua agitada da baixa de Jinzhou, uma cidade comercial do Nordeste da China, Junchang Lü, um dos mais eminentes paleontólogos do país, conduz os visitantes ao longo do corredor pouco iluminado de um edifício de escritórios de aspecto banal. O director do Museu Paleontológico de Jinzhou tem aqui o seu gabinete e abre-nos a porta de uma pequena sala de arquivo sem janelas, revelando o que poderia ser uma das principais atracções de qualquer museu: lajes de rocha contendo fósseis repletos de pormenores requintados de dinossauros emplumados, aves primitivas e, sobretudo, pterossauros cobrindo todas as prateleiras e a maior parte do solo.

Encostada à parede das traseiras, uma laje quase da altura dos ombros de Junchang mostra um pterossauro de dimensões alarmantes – um Zhenyuanopterus, com envergadura de asas de quatro metros e minúsculas patas de galinha no final das patas posteriores. A cabeça longa e fina, virada para um dos lados, está completamente aberta, mostrando dentes entrecruzados em forma de agulha que vão aumentando de tamanho, sobrepondo-se na extremidade mortífera. Serviam para capturar peixe enquanto este nadava à superfície, diz o especialista. É uma de quase trinta espécies de pterossauro que descreveu desde 2001, enquanto outras ainda aguardam reconhecimento científico nas prateleiras.

Um pterossauro do género Rhamphorhynchus e um peixe feroz colidiram enquanto perseguiam a mesma presa – o pterossauro a partir do ar e o peixe dentro de água. Morreram, afundaram-se  no leito marinho e fossilizaram juntos. 

O museu de Jinzhou é um de dez museus de paleontologia espalhados pela província de Liaoning, a principal origem das modernas descobertas de pterossauros que permitiram a recente ascensão da China à vanguarda da pesquisa de fósseis. Além disso, Liaoning é palco de uma rivalidade que os observadores externos comparam, injustamente, à infame “guerra dos ossos” do século XIX, travada entre os paleontólogos norte-americanos Othniel Charles Marsh e Edward Drinker Cope. Esta rivalidade opõe Junchang Lü, da Academia Chinesa de Ciências Geológicas, a Xiaolin Wang, cujo gabinete atafulhado de espécimes se situa no Instituto de Paleontologia e Paleoantropologia de Vertebrados (IPPV) em Pequim. À semelhança de Marsh e Cope ambos trabalharam juntos no início, tendo posteriormente seguido caminhos separados por um clima de hostilidade silenciosa. Como resumiu Shunxing Jiang, um paleontólogo que trabalha no IPPV, “uma montanha não pode acolher dois tigres”.

Nos 16 anos entretanto decorridos, ambos produziram um total combinado de mais de 50 novas espécies de pterossauro, quase um quarto de todos os pterossauros conhecidos. Algumas destas espécies poderão revelar-se inválidas, como acontece após cada grande surto de achados paleontológicos. Mas ambos ainda têm mais descobertas para apresentar.

“Teriam de trabalhar exclusivamente nisso durante dez anos” para descrever o que já têm em mãos, comentou um observador externo com inveja. Ouvindo isto, Shunxing Jiang levanta as sobrancelhas, exprimindo alguma ansiedade. Comenta: “Penso que dez anos não chegariam.”

O seu sucesso deve-se provavelmente ao facto de estarem no sítio certo à hora exacta e à própria concorrência entre ambos. A China é um de apenas cinco locais no mundo inteiro (juntamente com a Alemanha, o Brasil, os Estados Unidos e a Inglaterra) que produziram 90% de todos os fósseis de pterossauro descobertos. Não são os únicos locais onde existiu diversidade e abundância de fósseis – até na Antárctida foram descobertos fragmentos de fósseis. No entanto, os paleontólogos estão convencidos de que a diversidade de pterossauros se preservou ali melhor devido a condições geológicas favoráveis.

Liaoning é o sítio que melhor o comprova. No início do Cretácico, as florestas temperadas de Liaoning e os lagos de águas doces de baixa profundidade sustentaram uma comunidade ecológica rica que incluía dinossauros, aves primitivas e uma grande variedade de pterossauros. Tempestades violentas e erupções vulcânicas poderão ter matado alguns destes animais, aprisionando-os de forma súbita e maciça em lodaçais. Estes acontecimentos catastróficos enterraram rapidamente as vítimas, por vezes anaerobiamente, com sedimentos em condições que permitiram a preservação dos espécimes completos por mais de cem milhões de anos.

Os resultados emergem agora em propriedades agrícolas com colinas e penhascos desgastados pela erosão um pouco por toda a região de Liaoning. Não parecem nada de especial inicialmente: uma laje com um ou dois indícios de osso, mas depois de o trabalho de preparação realizado ao microscópio remover camadas de sedimentos endurecidos, começam a ganhar forma novamente. Aos olhos de um observador inexperiente parece que alguém esteve a jogar Mikado com um conjunto de crânios de lagarto e andas: as pernas dobradas num ângulo estranho, a boca escancarada e os dedos das asas empilhados de forma desordenada.

Quando os vemos em sequência no Museu de Pterossauros de Beipiao ou numa exposição organizada pelo Museu de História Natural de Pequim, os fósseis começam a fazer sentido como provas reais da sua rica paleobiodiversidade. Temos o pterossauro de boca aberta e cara de sapo denominado Jeholopterus, que poderá ter-se alimentado de libélulas e outros insectos nas florestas ancestrais. Temos o Ikrandraco, baptizado em homenagem às criaturas aladas do filme “Avatar” e que se pensa ter voado a baixa altitude sobre a água, usando uma quilha na mandíbula inferior para capturar peixes abaixo da superfície. Temos o Dsungaripterus, do Noroeste da China, com um bico comprido e fino virado para cima que servia para procurar marisco e outros invertebrados, esmagando-os depois com os seus dentes arredondados.

A visão de tantas estratégias, tanta fome e exemplos tão vibrantes de vida fossilizada na rocha é comovente. Algo acabou por tornar os pterossauros vulneráveis. Talvez a fonte de alimento de que dependiam tenha desaparecido na extinção do final do Cretácico, há 66 milhões de anos. Ou talvez a sua evolução para tamanhos tão gigantescos tenha tornado espécies como o Quetzalcoatlus vulneráveis, enquanto aves mais pequenas se conseguiram esconder durante a catástrofe. Independentemente das causas, os petrossauros desapareceram.

Ray Stanford, um homem normal com um talento extraordinário para detectar fósseis, já descobriu centenas de lajes com rastos de pterossauros e outros animais extintos junto de sua casa, em Washington.

Ao estudarmos os seus fósseis num museu, dá-se um fenómeno peculiar: começamos a pensar se o Nemicolopterus está a deslizar para fora do seu pedaço de xisto em busca das partes do corpo que lhe faltam. Interrogamo-nos se acabámos de ver os ossos da pata do Kunpengopterus destacando-se da superfície da rocha como letras gravadas, começando a contorcer-se. É uma partida pregada pelos olhos ou pela mente, mas ficamos com a sensação de que os pterossauros, expressão estranha e generosa da grande força da vida do planeta Terra, se vão erguer da rocha e levantarão voo.