O Irão está em crise desde a morte de Mahsa Amini, de 22 anos, em Setembro de 2022, que estava sob custódia da polícia da moralidade iraniana. Meses de agitação e manifestações em prol dos direitos das mulheres no Irão alastraram para um sítio improvável – o campo de futebol do Campeonato do Mundo.
Durante o Campeonato do Mundo de Futebol, fãs iranianos brandindo a bandeira pré-revolucionária do país foram impedidos de assistir a um jogo contra a Inglaterra. Em seguida, a Federação de Futebol dos EUA desencadeou uma tempestade ao mostrar a bandeira do Irão sem o seu icónico emblema da tulipa nas suas contas nas redes sociais.
Versões modificadas da bandeira tricolor do Irão são utilizadas há muito no Irão e na sua diáspora, tanto pelos que protestam contra as violações dos direitos humanos praticadas pelo regime, como pelos que sentem nostalgia pelo tempo anterior à revolução. Contamos-lhe o que precisa de saber sobre a bandeira e o poderoso significado dos seus símbolos.
As cores da bandeira
Tanto a bandeira oficial do Irão como a pré-revolucionária, que é por vezes utilizada em protestos, partilham riscas horizontais verdes, brancas e vermelhas.
Estas cores estão carregadas de simbolismo. O verde – que se crê ser a cor preferida do profeta Maomé – representa o Islão e adorna as bandeiras de vários países muçulmanos, incluindo o Paquistão, a Arábia Saudita e a Argélia. O branco está relacionado com a liberdade, escreve o jornalista britânico Tim Marshall em A Flag Worth Dying For, e o vermelho está associado ao “martírio, bravura, fogo e amor”.
Embora estas cores tenham sido utilizadas em versões anteriores da bandeira, a bandeira tricolor iraniana foi oficialmente consagrada na Constituição de 1906.
O significado do emblema da bandeira — e por que mudou
O motivo da tulipa que se encontra no centro da bandeira actual é um acrescento relativamente recente e ocupou o lugar de um dos mais adorados emblemas do Islão: o Leão e o Sol, ou Shir o Khorshid.
O símbolo do Leão e do Sol remonta à Pérsia do século XII, onde ganhou a popularidade como representação astrológica ancestral do Sol na casa de Leão - que provavelmente representava o poder e a realeza. Ao longo dos séculos seguintes o Leão e o Sol adornaram a bandeira do país assumindo diversas configurações – por vezes um símbolo dos dois pilares da sociedade, o Estado e a religião, outras um símbolo da monarquia.
Em 1979, porém, a Revolução Iraniana destituiu Shah Mohammad Reza Pahlavi e aboliu a monarquia. Os novos líderes da República Islâmica pediram ao arquitecto Hamid Nadimi que criasse um desenho para a bandeira que, segundo as palavras de Marshall, “significasse uma ruptura com a era do xá, mas simultaneamente assegurasse a uma cultura antiga que não se tratava de um Ano Zero.”
A solução de Nadimi foi substituir, em 1980, o Leão e o Sol por uma tulipa vermelha – muito importante no Islão xiita como símbolo de Husayn Ibn Ali al-Hussein, o neto de Maomé que morreu como mártir numa batalha do século VII. Esta tulipa é composta por quatro pétalas em forma de crescente e um caule, ou espada, que forma a palavra Alá e simboliza os 5 pilares do Islão
Nadimi também acrescentou uma inscrição em árabe estilizada das palavras Allahu Akbar, ou Deus é grande, sobre a risca verde inferior e a risca vermelha do topo da bandeira.
Protestos modernos sobre a bandeira
Os activistas usam variações da bandeira tricolor do Irão para demonstrarem a sua resistência à República Islâmica. Durante o Movimento Verde de 2009, por exemplo, defensores da democracia exibiram uma versão da bandeira sem o emblema num desafio contra a ideologia do seu governo.
Embora seja ilegal exibir o Leão e o Sol no Irão, este continua a ser um símbolo nostálgico da época pré-revolucionária para muitos. Em 2015, um correspondente do The Guardian vislumbrou o símbolo ilícito do Leão e do Sol em “inúmeros pendentes, anéis e estandartes”, numa visita ao bazar de Teerão. Alguns manifestantes também usam a bandeira para apelar ao regresso da monarquia. Agora a bandeira tornou-se novamente um ponto quente nas manifestações devido à morte de Mahsa Amini — tanto nas ruas de Teerão, como no Campeonato do Mundo.