Para o Ocidente, e particularmente para os Estados Unidos da América (EUA), há um antes e um depois do 11 de Setembro de 2001. O ataque cirúrgico a um conjunto de símbolos americanos mudou o paradigma político e mental no país, lançando os EUA num intrincado labirinto pós-traumático. A seta espetada no coração das instituições causou nos norte-americanos uma sensação de vulnerabilidade, eventualmente apenas comparável à que terá pairado a 6 de Dezembro de 1941, quando Pearl Harbour foi atacada pela aviação nipónica.
A queda das Torres Gémeas foi a imagem mais marcante do dia 11 de Setembro de 2001, um golpe num poderoso centro da economia do pais, mas não foi o único ataque nesse dia. Outros houve que acabaram por passar para um segundo plano. Além da queda do voo 91 da United Airlines na Pensilvânia e a misteriosa queda da famosa Torre 7, esta data marcou também o primeiro ataque sofrido em toda a História pelo símbolo maior do aparelho militar dos EUA, uma forma geométrica que encerra em si todo um conjunto de especulações: o Pentágono, na Virgínia.
A razão da sua forma pentagonal é prosaica: o local da construção era desenhado por cinco estradas. A lógica ditou que fosse um edifício de cinco lados.
Hoje, este edifício é o emblema permanente e físico do exército dos EUA que em várias vezes na História do país foi o ponto focal de protestos contra guerras e conflitos perpetrados pelos EUA, como aconteceu durante quase toda a guerra do Vietname.
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Membros da polícia militar afastam os manifestantes durante a sua concentração na entrada do centro comercial do Pentágono em Outubro de 1967. Fonte: Exército dos Estados Unidos.
COMO É QUE O PENTÁGONO SE TORNOU NO... PENTÁGONO
Num pormenor que daria per si uma dissertação académica, o Pentágono localiza-se naquilo que era uma larga propriedade de 445 hectares que pertenceu ao general Robert E. Lee, líder dos exércitos sulistas confederados durante a Guerra de Secessão dos EUA. Essa propriedade não fica em Washington, mas sim do outro lado do rio Potomac, já no estado da Virgínia. Ao lado, curiosamente, já fora criado em 1864 o cemitério de Arlington, a maior necrópole militar dos EUA.
Quando, no início da década de 40 do século XX se tornou cada vez mais evidente que seria difícil ao país manter-se neutro durante a Segunda Guerra Mundial, e perante a escassez de instalações militares, o brigadeiro-general Brehon Somerwell propôs a construção de um edifício que servisse de quartel-general para todos os ramos do Exército, a partir do qual se coordenasse o esforço de guerra.
O projecto foi aprovado e as obras arrancaram a 11 de Setembro de 1941, com a intenção de ser apenas um edifício temporário. Apenas 119 acres do terreno de Lee foram destinados a este projecto e a ideia era transformá-lo em hospital, armazém ou edifício de escritórios quando a guerra acabasse.
A razão da forma pentagonal é mais prosaica e óbvia do que se possa imaginar: o local da construção era desenhado por cinco estradas, logo a lógica ditou que fosse um edifício de cinco lados. O arquitecto responsável pelo desenho foi George Bergstrom.
UMA MEGA-OBRA
Durante 16 meses, entre preparações e a construção propriamente dita, trabalharam à volta de 1.000 arquitectos e 14 mil operários de várias especialidades e, apesar de as obras estarem completadas em 1943, os primeiros inquilinos começaram a ocupar as alas já acabadas do edifício a partir de 1942. O custo projectado era de 35 milhões de dólares, mas acabou por custar 63 milhões, o que corresponde a 900 actualmente.
Uma curiosidade: o militar que supervisionou a construção desta estrutura foi o Coronel Leslie Groves. Talvez o nome seja mais familiar neste 2023 cinematográfico, já que é o mesmo Leslie Groves interpretado por Matt Damon no filme “Oppenheimer”, de Christopher Nolan. Sim, o coordenador do Pentágono foi também o coordenador do projecto da bomba atómica. Ou seja, dois dos maiores símbolos de poder militar do século XX.
Groves, aliás, perante o peso da responsabilidade de coordenar um projecto de engenharia e arquitectura tão vasto, comentaria anos mais tarde que o seu desejo na altura era o de ir para o campo de batalha para obter alguma paz. Em vez disso, foi-lhe atribuído o Projecto Manhattan.
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Retrato do Leslie R. Groves, obtido do seu Ficheiro Oficial do Pessoal Militar (OMPF). Fonte: Exército dos Estados Unidos.
O coronel Leslie Groves, o coordenador do projecto da bomba atómica, foi também o supervisor da construção do Pentágono.
Leslie era conhecido por ser particularmente rígido, provavelmente o motivo pelo qual mais tarde foi o escolhido para disciplinar um grupo de físicos teóricos em Los Alamos, e um dos seus homens de mão durante a construção do pentágono, o major Robert Furman, era praticamente obrigado a estar disponível dia e noite quando fosse necessário. Como passava dias sem ir a casa dormir, Furman exigiu a construção de um apartamento secreto situado entre paredes no edifício. Ele e outros colegas da mesma patente costumavam usar este apartamento para recuperar umas horas de sono, tomar banho e descansar.
O major continuou a usar o apartamento à revelia, quando visitava Washington vindo de Los Alamos, para onde acompanhara Groves. No entanto, teve de devolver as chaves em 1943, quando foi descoberto por um oficial a sair por uma porta na parede de um corredor…
O major Robert Furman, envolvido até ao tutano no projecto, exigiu a construção de um apartamento secreto situado entre paredes no edifício do Pentágono.
DEPOIS DA GUERRA
Durante a 2ª Guerra Mundial, chegaram a trabalhar no Pentágono 33 mil pessoas e com o final do conflito, perante a percepção de novas ameaças e um espírito belicoso em grande rotação, o edifício temporário, que se destinava a uso civil, manteve-se como centro de comando operacional militar dos EUA. Aliás, é com a construção do Pentágono que é criado o Departamento de Defesa que nele tem sede.
Theodor Horydczak
Cada um dos seus braços concentra um grupo específico de funcionários ou oficiais dos vários ramos militares do país. Ainda hoje é o maior edifício do mundo de baixa altura – uma classificação em engenharia e arquitectura que engloba edifícios com três andares ou menos –, sendo que o Capitólio, por exemplo, cabe em qualquer uma das cinco arestas do Pentágono e ainda sobra espaço.
É com a construção do Pentágono, o maior edifício do mundo de baixa altura, que é criado o Departamento de Defesa dos EUA.
Esta ausência de verticalidade justifica-se pela quantidade mínima de aço usada na sua construção. O aço é um material fulcral na elaboração dos arranha-céus modernos por ser resistente e leve ao mesmo tempo. Porém, a partir de 1942 o aço era necessário no desenvolvimento de artilharia militar. Por isso é que o Pentágono é tão largo, e também por isso o material que foi mais utilizado no edifício foi cimento, com camadas de areia, vindas do Potomac, para tornar as paredes mais resistentes.
O Pentágono foi, durante várias décadas, o único edifício em todo o estado da Virgínia onde as leis da segregação não eram válidas.
Na verdade, demoramos apenas sete minutos a atravessar o espaço entre os seus dois pontos mais afastados. O Pentágono foi também, durante várias décadas, o único edifício em todo o estado da Virgínia onde as leis da segregação – ou seja, de separação entre brancos e negros nos espaços públicos – não eram válidas, já que era propriedade federal e a lei federal estava acima da dos estados.
Quando o edifício é atacado no 11 de Setembro de 2001, havia obras de renovação em várias áreas, incluindo aquela onde aconteceu a explosão. Por sorte, nesse dia, a maior parte das pessoas que devia estar a trabalhar não se encontrava no Pentágono devido a este pormenor… Esta secção, aliás, fora a que recebera os melhoramentos mais completos, em parte devido a estudos ocorridos depois do ataque terrorista ao edifício Alfred P. Murray, sede estadual do FBI em Oklahoma, em 1995.
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Vista aérea do edifício do Pentágono, situado em Arlington, Virgínia, mostrando as equipas de emergência a responder à destruição causada pelo embate de um avião comercial desviado contra o canto sudoeste do edifício, durante os ataques terroristas de 11 de setembro.
184 pessoas morreram na sequência do ataque ao Pentágono, e as obras, que foram estendidas devido aos danos causados pelo ataque no dia 11 de Setembro, duraram ainda uma década.
Hoje, o Pentágono continua a ser, através da cultura popular, um símbolo polémico, concentrando uma crítica ou apaixonada percepção que existe acerca dos EUA e do seu papel no mundo.