Esse foi certamente o caso da descoberta de dois trilhos na praia de Parede, perto de Cascais. Uma equipa ibérica de investigadores estudou as pegadas apenas visíveis na maré baixa e após remoção substancial de areia pela maré, e atribuiu-o ao Albiano Superior, há cerca de 100 milhões de anos, um intervalo para o qual o registo fóssil mundial é escasso em saurópodes. Estes dinossauros deixaram pegadas no litoral de um mar de pequena profundidade e de águas quentes, pois, durante o Albiano, a Península Ibérica estava mais a sul e o clima era tropical.


Fonte: “Dinosaur tracks from the early Cretaceus (albian) of Parede: new contributions for the sauropod palaeobiology of the Iberian Peninsula”, Journal of Iberian Geology, de Vanda Santos, Pedro Callapez, Diego Castañera, Fernando Barroso-Barcenilla, Nuno Rodrigues e Carlos Cupeto.

O dilema seguinte foi encontrar o candidato adequado para este registo. “Fomos excluindo possibilidades”, diz a paleontóloga Vanda Santos, do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, que trabalhou com especialistas das universidades de Évora, de Coimbra, de Saragoça e Alcalá de Henares. “No Cretácico Inferior, coexistiam dois grandes grupos de dinossauros quadrúpedes na Europa (os saurópodes e os anquilossauros), mas a forma da marca da mão mais bem preservada indica a passagem de um saurópode”, diz. Como as pistas são demasiado estreitas, não deveria tratar-se de um titanossauro e vários autores têm associado registos como os da praia de Parede a dinossauros semelhantes aos do género Diplodocus. “Provavelmente, nunca saberemos concretamente qual o animal que produziu os trilhos, mas sabemos que este se tornou o registo mais recente de saurópodes em Portugal e um dos poucos trilhos europeus conhecidos de idade albiana. Para nós, isso já é épico.”

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