Em 1991 , caminhantes no alto das montanhas, na fronteira italiana com a Áustria, descobriram um corpo mumificado espreitando num glaciar. Não poderiam suspeitar que este “homem do gelo” era um viajante do tempo da Idade do Cobre. Com efeito, investigações mais aprofundadas revelaram que, com 5.300 anos, Ötzi, o Homem do Gelo (assim chamado porque o local onde morreu se situa perto do vale do Ötztal) é o ser humano intacto mais antigo alguma vez descoberto. “Desde que Howard Carter abriu o túmulo do rei Tutankhamon, no início da década de 1920, que um ser humano antigo não captava desta forma a imaginação do mundo”, escreveu o montanhista e autor David Roberts.
Nas três décadas seguintes, os cientistas usaram instrumentos de tecnologia avançada, incluindo endoscopia 3D e análises de DNA para examinar o homem do gelo e apurar a sua biografia com grande pormenor. Aquilo que, inicialmente, parecia a história de um caçador neolítico solitário derrotado pelos elementos transformou-se num fascinante mistério criminal.
Ötzi tinha cerca de 45 anos – idoso para a sua época. As articulações estavam desgastadas, as artérias endurecidas, sofria de cálculos biliares, gengivite avançada e cáries. Embora estes problemas tornassem a sua vida desconfortável, não o mataram.
Em 2001, um raio X ao peito de Ötzi detectou uma ponta de seta, mais pequena do que uma moeda de 50 cêntimos, alojada sob a omoplata esquerda. A prova forense tornou-se mais intrigante em 2005, quando nova tecnologia de TAC revelou que a ponta de seta fizera um golpe de 1,25 centímetros na artéria subclávia esquerda do homem do gelo. Um ferimento tão grave teria sido quase imediatamente fatal. Conclusão: um agressor, posicionado atrás e abaixo do seu alvo, disparou uma seta que atingiu o ombro esquerdo de Ötzi. Passados poucos minutos, a vítima colapsou, perdeu a consciência e esvaiu-se em sangue.
Ainda há muitas perguntas sobre o homem do gelo. No topo da lista: quem matou este caçador pré-histórico e porquê?