A cultura castreja, em Portugal, concentra-se sobretudo na região minhota como extensão do que existe em abundância na Galiza. Em Ourique, porém, existe um curioso outeiro que tem alimentado várias controvérsias científicas.

O chamado Castro da Cola está situado no topo de uma colina e foi cenário de sucessivos assentamentos de população. O vizinho rio Mira permitia a fertilização dos terrenos para fins agrícolas e constituía uma excelente via de comunicação. Contudo, a motivação mais forte prendeu-se certamente com as abundantes jazidas de cobre das imediações. Os assentamentos na região terão sido resultados directos da revolução da utilização e trabalho dos metais.

No século XVIII, Frei Manuel do Cenáculo acreditou que encontrara aqui o lugar da mítica batalha de Ourique, durante a qual Dom Afonso Henriques teria supostamente derrotado cinco reis mouros. Não era verdade, mas a planta então mandada desenhar é hoje um tesouro bibliográfico, pois constitui um portal para a configuração do sítio arqueológico há cerca de 250 anos. Encomendado ao bispo de Évora, o mapa é um documento fabuloso, na medida em que constitui um misto de planta e de registo das linhas de horizonte envolventes, forçando o observador a rodá-lo em várias direcções para poder apreender toda a informação ali vertida.

Circuito arqueológico da Cola

Há estruturas claramente medievais no Castro da Cola, mas o sítio arqueológico é o ponto de partida para uma interessante viagem pela Pré-História e Idade do Bronze.

Um dos primeiros investigadores modernos a interessar-se por este monumento foi o arqueólogo e etnógrafo José Leite de Vasconcelos que, em 1897, analisou demoradamente as ruínas e os vestígios arqueológicos. Percebeu que havia indícios de ocupação na Idade do Ferro, mas não conseguiu compreender totalmente o local que se revelava perante os seus olhos.

Em 1958, Abel Viana, pioneiro da arqueologia no Alentejo, concentrou-se neste monumento e escavou-o. Foi a sua última grande intervenção (o arqueólogo faleceu no local seis anos depois) e as suas conclusões têm sido revistas nos últimos anos. Viana concluiu que se tratava de um castro da Idade do Ferro e promoveu reconstruções ousadas do edificado local, na linha dessa hipótese.

Anos mais tarde, ao estudar os contextos da Idade do Ferro da região, Caetano Beirão identificou materiais cerâmicos pré-romanos nas encostas do povoado, reconhecendo-se assim uma longa ocupação do local. A cronologia do monumento, porém, continua a suscitar dúvidas, porque as estruturas principais que estão à vista correspondem à alcáçova da antiga vila de Marachique, um aglomerado islâmico que chegou a ter carta de foral em 1261 e que terá sido abandonado no século XV.

Rio Mira

O desenho da planta que Frei Manuel do Cenáculo pediu ao bispo de Évora.

De qualquer modo, o Circuito Arqueológico da Cola é um daqueles projectos que devemos colocar na agenda. Além das paisagens deslumbrantes, somos conduzidos em poucos quilómetros por milénios de história. Quase sem darmos conta, percorremos seis mil anos da história do homem.

Os vestígios mais antigos correspondem aos monumentos megalíticos de Fernão Vaz 1 e 2 e de Nora Velha, mas a viagem continua através do povoado da Idade do Cobre do Cortadouro e dos conjuntos funerários da Idade do Bronze Final, como a marcante necrópole da Atalaia com sete monumentos e dezenas de sepultamentos cerimoniais.

Partindo de uma cista central envolvida por um muro, estas necrópoles iam crescendo e outras cistas iam sendo acrescentadas, formando o que se denomina por sepulcros “em cacho”. O circuito conduz ainda o viajante a necrópoles da Idade do Ferro e até a um povoado islâmico conquistado, mais tarde, pelos cristãos. Esta odisseia termina na Ermida de Nossa Senhora da Cola uma das mais antigas e importantes romarias do Alentejo, com registos que remontam ao século XVIII.

Centro de Acolhimento e Interpretação 

Rua de Castro da Cola, Ourique 

Horário: 09h30 – 12h30 / 14h00 – 17h30 (Inverno)  

Contacto: Tlf.: +286 516 259

Circuito arqueológico da Cola mapa