No início do século XIX, os diversos países europeus tinham desenvolvido sistemas de correio que permitiam enviar cartas para qualquer povoação relevante. A correspondência circulava por caminhos cada vez melhores, as estações postais distribuíam cartas nos principais pontos da rede e os carteiros espalhavam-nas pelos distintos domicílios. No entanto, este sistema, cada vez mais burocratizado, enfrentava um problema: as franquias. Num país como a Grã-Bretanha, os preços não só eram elevados, mas também variavam segundo a distância e até segundo o número de folhas da carta.
Além disso, as cartas eram pagas pelo receptor – se este o aceitasse. Tudo isto propiciava a fraude e provocava um défice crónico.
Em 1837, Rowland Hill, um professor e reformador social que estudara a fundo o problema, publicou um relatório com um projecto de reforma do sistema postal britânico. A sua proposta central era criar uma tarifa única de quantia moderada, um penny para o envio padronizado entre cidades. O preço seria pago não pelo destinatário, mas pelo remetente na estação dos correios. Hill apresentou o projecto ao governo e, embora o chefe dos correios tenha considerado a ideia “louca, visionária e extravagante”, Hill ficou encarregado de o levar à prática em Julho de 1839.
Carta de 1859 remetida da Ilha Maurícia.
As primeiras etiquetas
Para facilitar o pagamento de cada envio, Hill propôs o que designou por “etiquetas” (labels), “um pedaço de papel suficientemente grande para conter o preço e coberto no verso por uma solução pegajosa. O utente poderá colá-lo na parte de trás da carta, humedecendo-o”. Ou seja, um selo adesivo. O governo convocou um concurso para que “artistas, homens de ciência e público em geral” fizessem propostas sobre o seu desenho, mas, embora tivessem aparecido 2.600 respostas, no final foi elaborado um modelo por um grupo de especialistas da administração do Tesouro, com experiência em impressão de notas bancárias e documentos oficiais.
O primeiro selo tinha a efígie da rainha Vitória e era negro, daí o seu nome popularmente conhecido como penny black. Depressa apareceram o two penny blue e o penny red. Os selos eram impressos em grandes folhas de papel, que depois eram recortados (as típicas perfurações nos rebordos só apareceram em 1854).
Pillar box, tipo de marco de correio criado em meados do século XIX.
Desde o primeiro dia em que saíram para venda, em 1 de Maio de 1840, o seu acolhimento público foi entusiástico. Três semanas mais tarde, Hill diria: “A procura de etiquetas (labels) é enorme: os impressores entregam mais de meio milhão por dia e nem assim é suficiente.” O selo adesivo alavancou um espectacular aumento do envio de cartas: em 1839, tinham circulado na Grã-Bretanha 75 milhões de cartas, em 1840 foram 168 e, em 1850, 347. Nos Estados Unidos, passou-se de 27 milhões de cartas em 1840 para 160 milhões em 1860. Foi uma revolução das comunicações graças a um pequeno “pedaço de papel”.
Selos, cartas e postais
1660 Carlos II cria o General Post Office, embrião do serviço postal britânico.
1840 Seguindo o projecto de Rowland Hill, introduz-se na Grã-Bretanha a franquia através do selo adesivo.
Prensa usada para a impressão dos primeiros penny blacks em 1840. Biblioteca Britânica, Londres.
1853 No dia 1 de Julho, entra em circulação o primeiro selo português, desenhado por Fernando de Saxe-Coburgo. Tinha o perfil de Dona Maria II.
1869 O Império Austro-Húngaro lança os primeiros postais.
1875 Vinte e dois países fundam a União Postal Universal, que regula os envios internacionais.
Rowland Hill (1795-1879), inventor do sistema de selos adesivos.