O rei Sargão fundou o primeiro império que se conhece ao apoderar-se da Suméria, a sul de Acádia. Aconteceu aproximadamente em 2330 a.C., na Mesopotâmia, a terra entre os rios Tigre e Eufrates. Mil anos antes de Sargão, os sumérios criaram a primeira civilização: construíram sistemas de irrigação, desenvolveram a escrita cuneiforme e ergueram cidades-estados como Ur e Uruk, centros urbanos dominados por templos majestosos, os zigurates.
Soberanos Divinos
Sargão e os seus sucessores legaram ao mundo um conceito de poder que implicava mais do que poder bélico. A sua autoridade não assentava exclusivamente nas vitórias militares: conquistavam a obediência dos súbditos impondo a ordem, aplicando justiça e actuando como representantes terrenos dos deuses.
Sargão de Acádia iniciou a sua subida ao poder na cidade de Kish, no Norte, como funcionário do rei, que veio a destronar. Em seguida, liderou as tropas contra o soberano rival a sul, Lugalzagesi, que tinha toda a Suméria sob seu comando. A vitória de Sargão é comemorada numa inscrição que gaba a sua vitória sobre cinquenta reis no seu caminho rumo ao golfo Pérsico, onde terá “lavado as armas no mar”.
Enviou governantes acadianos para governar as cidades sumérias e unificar o reino. Promoveu o comércio muito para lá das suas fronteiras, cobrou impostos a mercadores e camponeses para pagar aos seus soldados e a corte acolheu numerosos artistas e escribas reais.
Enheduana. Após conquistar a Suméria, Sargão tornou a sua filha Enheduana grande sacerdotisa de Nana, o deus lunar, em Ur. Era uma posição de grande importância, uma vez que Nana era o deus protector da grande cidade-estado e a sua filha Inana, conhecida como Ishtar pelos acadianos, era reverenciada como deusa do amor e da guerra. Enheduana escreveu hinos à encantadora mas irascível Ishtar, convertendo-se no primeiro autor literário cujo nome é conhecido. Num dos seus hinos, louvava a deusa como “essa mulher singular e única / que dirige palavras de ódio ao malvado / que se move entre as coisas brilhantes / que se opõe às terras rebeldes / e que no crepúsculo, sozinha, torna o firmamento belo”.
O fim de uma era
Sargão governou durante mais de 50 anos e fundou uma dinastia que se manteve firme até ao reinado do neto, Naram-Sim, que se autoproclamou deus.
Após a morte de Naram-Sim, a dinastia entrou em colapso e o culto morreu com ele. O poder regressou às cidades-estado da Mesopotâmia, cada uma das quais com a sua divindade à qual o soberano local prestava homenagem. A poderosa cidade de Ur, assim baptizada em homenagem ao rei sumério Ur-Nammu, governou a Suméria e a Acádia durante quase um século. Mais tarde, foi eclipsada pela Babilónia, a capital de um novo império que rivalizava com o de Sargão que e seria por muito tempo lembrado pelo seu poder e glória.