Uma das mais fortes imagens que temos da época romana são os grandes recintos lúdicos, como o célebre Coliseu de Roma, onde se realizavam combates entre homens (gladiadores) ou de homens com animais, espectáculos então muito populares. Boa parte das cidades romanas tinha o seu anfiteatro onde os habitantes locais podiam assistir a estes jogos. Agora sabemos, a cidade de Ammaia não foi excepção. Dispomos de uma imagem bastante precisa do urbanismo desta cidade romana, situada em pleno Parque Natural da Serra de São Mamede, depois de extensos trabalhos de arqueologia não invasiva. Mas subsistia a dúvida sobre se teria edifícios lúdicos (teatro, anfiteatro, circo). Certo era que, a existirem, estariam fora da cidade propriamente dita, por ser esta a tradicional implantação destes edifícios, pelas suas dimensões dificilmente acomodáveis no tecido urbano, e porque as prospecções realizadas não os tinham identificado.

A zona noroeste extramuros parecia o local adequado para a sua localização, pela configuração do terreno. Tinha havido ali alguma pesquisa anterior, dificultada pelo espesso mato, mas também iludida pela presença de uma antiga frente de pedreira, que poderia explicar a sugestiva topografia da área. Em 2018, o Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (Uniarq) e o Museu Nacional de Arte Romana, de Mérida, em parceria com a Fundação Ammaia e a Fundación de Estudios Romanos, lançaram um projecto que visava a identificação e estudo dos recintos lúdicos da cidade de Ammaia. A zona foi eleita para as pesquisas, primeiro por meios não invasivos, depois, pela boa fortuna dos resultados, por escavação.

anfiteatro Ammaia

Os trabalhos ainda vão continuar, mas, na sua aparente simplicidade, o anfiteatro apresenta engenhosas soluções arquitectónicas. Boa parte do perímetro foi erguido sobre rocha, cortada e afeiçoada para o efeito, permitindo o assentamento da bancada. A frente de pedreira identificada nas primeiras observações foi o local de onde se extraiu parte da pedra para a edificação do muro perimetral da arena, uma construção de alvenaria, rebocada com argamassa de cal, provavelmente pintada. Em cerca de um quarto do seu perímetro, um potente enchimento de cascalho criou a elevação necessária para a instalação da bancada de madeira (cavea).

Assim se identificou o quinto anfiteatro conhecido da antiga província romana da Lusitânia. Não seria um edifício monumental construído com betão (opus caementicium), como os de Mérida e Conímbriga, mas um modesto, parcialmente edificado com madeira, semelhante aos já conhecidos em Bobadela (Oliveira do Hospital) e Cáparra (Haza del Olivo). A dimensão e requinte dos edifícios lúdicos depende da riqueza local ou do investimento que se entendeu fazer.

prego

Dados os materiais utilizados no anfiteatro e seguramente reutilizados posteriormente noutras estruturas, os artefactos mais comuns nesta fase da escavação têm sido os pregos.

Até agora, só uma porta foi identificada, e junto dela dois compartimentos serviriam para albergar homens e animais, antes do espectáculo.

O edifício foi construído no século I da nossa era e terá funcionado até ao século V, quando o encerramento das portas com paredes de alvenaria assinala o fim do seu uso. Ontem como hoje, novos hábitos e novos gostos condenaram e baniram o que antes foram populares espectáculos.

mapa Ammaia