Maravilhas arqueológicas reveladas pelo degelo

Actualizado a

permafrost

O arqueólogo Rick Knecht usa um remo do seu barco para apoiar e proteger um arco de madeira com 400 anos, um de mais de cem mil artefactos ancestrais nativos recuperados pela equipa, no decurso dos esforços de salvamento dos vestígios da aldeia costeira ancestral actualmente designada por Nunalleq.

Artefactos do povo yupik, com séculos de idade, preservados no permafrost, estão a emergir à medida que as temperaturas sobem. Agora urge salvar esses tesouros.

Artefactos do povo yupik, com séculos de idade, preservados no permafrost, estão a emergir à medida que as temperaturas sobem. Agora urge salvar esses tesouros.

O sítio arqueológico de Nunalleq, na costa sudoeste do Alasca, preserva um momento fatídico, congelado no tempo. O quadrado lamacento de terra apresenta-se carregado de artefactos do quotidiano que o povo indígena yupik utilizava para sobreviver e para celebrar a vida, deixados tal como estavam quando ocorreu um ataque mortífero há quase quatro séculos. Como acontece frequentemente em arqueologia, uma tragédia passada é uma bênção para a ciência. Os arqueólogos recuperaram mais de cem mil artefactos intactos em Nunalleq, desde talheres banais a peças extraordinárias como máscaras rituais de madeira, agulhas de marfim, pedaços de caiaques rigorosamente calibrados e um cinto de dentes de rena. Os objectos encontram-se surpreendentemente bem preservados, tendo permanecido congelados no solo desde cerca de 1660.

As alterações climáticas estão agora a fustigar as zonas polares da Terra. O resultado é uma desastrosa perda de artefactos de culturas pré-históricas pouco conhecidas como a de Nunalleq ao longo das costas do Alasca e mais além.

Um degelo maciço está a expor vestígios de povos e civilizações do passado em todas as regiões setentrionais do globo – desde arcos e flechas neolíticos na Suíça a bastões de caminhada da época viking na Noruega e túmulos luxuosamente decorados de nómadas citas na Sibéria.

Na costa do Alasca, os sítios arqueológicos encontram-se agora sujeitos à dupla ameaça do aumento da temperatura e do nível dos mares. Quando os arqueólogos começaram a escavar em Nunalleq em 2009, chegaram ao solo congelado cerca de 46 centímetros abaixo da tundra. Hoje, a tundra está descongelada até um metro de profundidade. Isto significa que artefactos esculpidos em hastes de rena, pedaços de madeira flutuante, osso e marfim de morsa estão a emergir das profundezas congeladas que os preservaram. Se não forem resgatados, começam imediatamente a apodrecer e a desfazer-se.

arqueologia

Artigos preciosos revelados pelo degelo fornecem provas da história oral e dos costumes yupik. Artefactos de culturas indígenas estão ameaçados pelo aquecimento global.

O nível global dos oceanos subiu 20 a  23  centímetros  desde  1900. É uma ameaça a sítios costeiros como Nunalleq, duplamente vulneráveis a danos causados pelas ondas agora que o degelo do solo permanentemente congelado está a provocar o abatimento do solo. “Bastará uma tempestade severa de Inverno para perdermos o sítio inteiro”, afirma o arqueólogo Rick Knecht.

Quando os artefactos de madeira começaram a aparecer na praia, o líder comunitário Warren Jones ajudou a convencer o conselho da aldeia que era boa ideia escavar Nunalleq. Essas conversas tornaram-se uma colaboração singular em que a comunidade e os arqueólogos trabalham como parceiros. Habitantes yupik de uma região mais vasta em redor dirigem-se agora ao sítio em ATV para aprenderem mais sobre o seu legado e tocarem nos artefactos. Oficinas no novo centro cultural e arqueológico celebram a cultura yupik do passado e do presente. Warren espera mais descobertas no futuro.

“Quero que os nossos filhos, que frequentam a universidade, dirijam o centro cultural e sintam orgulho naquilo por ser nosso”, diz.