Manuscritos de Euclides encontrados no lixo

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Em 1897, dois arqueólogos britânicos encontraram os chamados papiros de Oxirrinco numa antiga lixeira, perto do sítio arqueológico homónimo, a 160 quilómetros do Cairo. Entre eles, destacava-se um fragmento manuscrito, com textos em grego pertencentes ao Livro II dos Elementos de Euclides.

 Em 1897, dois arqueólogos britânicos encontraram os chamados papiros de Oxirrinco numa antiga lixeira, perto do sítio arqueológico homónimo, a 160 quilómetros do Cairo. Entre eles, destacava-se um fragmento manuscrito, com textos em grego pertencentes ao Livro II dos Elementos de Euclides.

papiro

Fragmento do papiro de Oxirrinco encontrado em 1897 numa antiga lixeira. Fotografia: cortesia do Museu Penn, imagem número e2748.

O manuscrito mais antigo que se conserva dos Elementos de Euclides remonta ao século IX (se se omitir o fragmento datado do período entre 75 e 125, pouco esclarecedor sobre o grande geómetra da Antiguidade). Foi descoberto acidentalmente numa lixeira da cidade de Oxirrinco, actual El-Bahnasa, a cerca de 160 quilómetros do Cairo, durante as escavações realizadas por Bernard Payne Grenfell e Arthur Surridge Hunt sob orientação da Universidade de Oxford entre 1896 e 1897.

O papiro de Euclides foi um dos milhares de manuscritos encontrados na escavação.

O manuscrito conservado em Oxford fora uma encomenda que Aretas de Cesareia (860-935), na altura arcebispo da referida cidade da Capadócia, fez a Stephanus em 881, um perito calígrafo bizantino. O manuscrito apresenta caligrafia larga de forma quadrada e uma pequena inclinação para a esquerda. Constitui o elemento mais antigo que chegou à modernidade com uma demonstração matemática da genialidade de Euclides, embora o papiro contivesse igualmente o famoso manuscrito dos Diálogos de Platão, encomendado também por Aretas e conservado na mesma biblioteca.
Na escavação subsequente, emergiram milhares de manuscritos em grego, latim e árabe, anotados em papiros e em pergaminho de vitela. Ocasionalmente, apareceram também pedaços de papel com inscrições em árabe.


Euclides PB

Retrato de Euclides. Fotografia SM/SSPL/Age Fotostock

Cientes da importância fulcral da descoberta, os arqueólogos providenciaram para que as transcrições fossem fiáveis. O processo, iniciado em 1898, tem sido em moroso. Basta dizer que, em 2008, foi publicado novo volume, o 72.º, desta longa saga bibliófila.
No primeiro exame a este tesouro literário, constatou-se de imediato que ali figuravam as anotações mais antigas sobre o contributo de Euclides, um sábio que influenciou a Antiguidade mas que ddixou apenas um rasto indirecto  através das publicações dos seus sucessores.

A primeira impressão de uma obra euclidiana de que se tem conhecimento datou de 1482.

O geómetra passou aliás por uma fase de total obscurantismo até chegarem à Europa as provas do seu pensamento matemático, graças às traduções preservadas em língua árabe. A primeira impressão de uma obra euclidiana de que se tem conhecimento datou de 1482. Foi publicada pelo editor alemão Erhard Ratdolt, que escolheu para esse efeito a edição comentada de Giovanni Campanus de Novara da tradução latina que o inglês Adelardo de Bath realizara no século XIII (provavelmente a partir de um original da tradição árabe).
Na Biblioteca Nacional, o volume mais antigo com uma obra de Euclides traduzida para português remonta ao século XVI.
Não perca estas e outras histórias na Edição Especial de Ciência que dedicamos a Euclides.

Euclides capa

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