No dia 15 de Abril de 1764, o céu de Versalhes cobriu-se de nuvens negras. Ao observá-lo, Luís XV comentou: “a marquesa não gozará de bom tempo para a sua última viagem”. Referia-se a Jeanne-Antoinette Poisson, marquesa de Pompadour, que era maîtresse-en-titre, ou seja, favorita real, com direito a ter os seus próprios aposentos em Versalhes e um lugar de destaque nas cerimónias palacianas.
Jeanne-Antoinette nasceu em Paris, em 29 de Dezembro de 1721. O seu pai, Jean Poisson, era um abastado financeiro que deu à sua filha uma requintada educação no internato das ursulinas de Poissy. Recém-cumpridos os 20 anos, contraiu matrimónio com Charles le Normant d’Étiolles, filho do tesoureiro geral da Moeda, um homem pouco atraente, embora culto e sofisticado que se apaixonou perdidamente por Jeanne. Orgulhoso da sua bela, culta e elegante esposa, D’Étiolles apresentou-a aos melhores cenáculos intelectuais e nos mais conceituados círculos sociais de Paris. A jovem Madame D’Étiolles frequentou o salão li- terário de Madame Geoffrin, o círculo financeiro do Duque de Ivernois e relacionou-se com figuras do gabarito de Montesquieu. Como contrapartida, actuava como anfitriã no seu Castelo de Étiolles, organizando frequentemente festas, caçadas e banquetes frequentados pela nata da sociedade parisiense da época. Foi aqui que nasceu em 1744 a sua filha Alexandrine. Não é de estranhar, portanto, que um homem tão propenso aos encantos femininos, como Luís XV, tivesse o desejo de conhecer a jovem de que toda a Paris falava.
Entrada oriental do Palácio de Versalhes em Paris.
Com esse objectivo, no dia 23 de Fevereiro de 1745, Jeanne-Antoinette foi convidada para um baile de máscaras em Versalhes, onde foi apresentada ao soberano. Depois do baile, já que o rei tinha de comparecer a outra celebração do Carnaval popular, pediu à então Madame D’Étiolles que o acompanhasse. Quando se despediram, já havia novo encontro marcado, ao que se seguiram outros tantos mais. Em Setembro desse mesmo ano, recém-nomeada marquesa de Pompadour e Menars, Jeanne-Antoinette pediu a separação do seu esposo, instalou-se em Versalhes e foi oficialmente reconhecida como maîtresse-en-titre. Tinha 23 anos e acabara de entrar para a história.
A favorita do rei
Jeanne instalou-se nuns pequenos aposentos, situados por cima da sala do rei, de onde podia contemplar o bosque Marly e as colinas que bordeavam o Sena. A relação sentimental com Luís XV durou 19 anos, e embora os encontros íntimos tenham cessado no Inverno de 1752, Madame de Pompadour continuou a ser a confidente e a melhor conselheira do rei.
Luís XV crescera no meio de intrigas políticas e interesses da corte, que o levaram a desenvolver uma personalidade reservada e melancólica. Jeanne-Antoinette soube compensar as suas deficiências afectivas. Actuou como uma boa burguesa, e, como uma alternativa perfeita à rígida etiqueta de Versalhes, rodeou-o com um certo calor doméstico enquanto promovia os seus interesses culturais. Luís XV encontrou ao seu lado, além de uma grande paixão, a tranquilidade que nenhuma das suas anteriores favoritas lhe conseguira dar.
Paralelamente, Madame de Pompadour exerceu um extenso trabalho de mecenato e promoveu diferentes artistas, incluindo o pintor François Boucher, que a retratou em diferentes ocasiões. Por outro lado, como boa filha de um financeiro, soube multiplicar as suas receitas. Construiu ou restaurou castelos, que mais tarde vendeu a grandes senhores ou burgueses ansiosos por subir na escada social, ao mesmo tempo que se apropriou de um bom número de apartamentos e palácios em Paris, que mais tarde arrendava. A sua intuição para os negócios levou-a também a reorganizar a fábrica de porcelana de Vincennes, de seguida, transferiu para Sèvres, enquanto estimulava os criativos a encontrarem novas fórmulas, modelos e cores. A sua destreza nos negócios não a levou, no entanto, a descurar a sua intelectualidade. Jeanne-Antoinette Poisson protegeu a redacção da Encyclopédie e as investigações de naturalistas como Buffon ou Helvetius.
Caixa de porcelana para guardar chá, produzida pela fábrica de Vincennes para Madame Pompadour, por volta de 1760.
O ocaso
Em 1753, uma tragédia escureceu para sempre a sua vida. A sua filha Alexandrine morreu inesperadamente. Por outro lado, a tuberculose apoderara-se de Jeanne-Antoinette e já não era aconselhável que o rei continuasse a frequentar a sua alcova. Mesmo assim, a amizade entre ambos mantinha-se intocada. Convencida de que o fim se aproximava, reconciliou-se com a Igreja e afastou-se da sumptuosidade mundana. No início de Abril de 1764, redigiu o seu testamento. Poucos dias depois, confessou-se e recebeu a extrema unção. Morreu no dia 15 de Abril de 1764. Luís XV afirmou ter perdido a “amiga mais leal desde há 20 anos”.