De que modo a mesma história é conhecida nos Estados Unidos como “A Bela e o Monstro” e na China como “A Fada Serpente”?

Ao recolherem contos tradicionais germânicos, os irmãos Wilhelm e Jacob Grimm perceberam que as narrativas eram muito semelhantes a histórias contadas em partes distantes do mundo. Os irmãos Grimm interrogaram-se se as semelhanças de enredo indicariam uma origem comum com milhares de anos.

Os contos tradicionais são transmitidos oralmente, obscurecendo a sua antiguidade e origem. “Não há registo fóssil [dos contos] antes da existência da escrita”, diz o antropólogo Jamie Tehrani.

 

Para testar a teoria dos Grimm, Jamie Tehrani e a investigadora Sara Graça da Silva, da Universidade Nova de Lisboa, identificaram 76 enredos básicos e rastrearam a sua origem até ao antepassado linguístico mais antigo, usando uma base de dados de contos tradicionais. Se um conto semelhante foi contado em alemão e hindi, os pesquisadores concluíram que as suas raízes assentavam no último antepassado comum das línguas. “O Diabo e o Ferreiro”, uma história sobre um homem que dá a alma ao Diabo em troca do talento como ferreiro, foi contada pela primeira vez há cerca de seis mil anos em proto-indo-europeu. Hoje, há um conto semelhante sobre o guitarrista de blues Robert Johnson.