Aos 79 anos, mais de cinco décadas depois do início do seu trabalho de campo com os chimpanzés da Tanzânia, Jane Goodall continua a perseguir o sonho da sua vida, sensibilizando a sociedade para a conservação dos chimpanzés sempre que a oportunidade surge. Em Junho, foi uma das principais oradoras da Conferência Internacional do Rotary Club em Lisboa, onde se descreveu como “o peculiar primata branco que chegou a Gombe, na Tanzânia, e se apaixonou instantaneamente pelas suas criaturas”.

Como é que uma jovem inglesa ultrapassou os seus medos e aceitou uma missão na selva africana, que quase desconhecia?

Não foi assim. Apaixonei-me pelo sonho de ir para a selva. Um amigo perguntou-me se eu queria ir e agarrei a oportunidade com as duas mãos. Nunca a considerei um risco, segui apenas o que me apaixonava.

Já se considerava uma cientista nessa altura?

Eu não o era. Considerava-me uma naturalista – alguém interessado em observar e relatar.

Foi chocante o contraste entre a sua experiência no campo e o ensino na Universidade de Cambridge?

Foi terrível. Disseram-me que tinha feito tudo mal. Que deveria ter atribuído números e não nomes aos animais. Que não deveria ter feito descrições de personalidade. Nesse instante, efectivamente, arrisquei ao rejeitar o que diziam e afirmando que não concordava.

Três grandes contribuições do seu trabalho revelaram que os chimpanzés ocasionalmente comem carne, usam ferramentas e até as fabricam para si próprios...

Eu acrescentaria mais duas: a capacidade de fazer a guerra e a capacidade de demonstrar empatia e compaixão. A produção de ferramentas teve, de facto, grande impacte por causa da forma como definíamos o ser humano. Quanto ao consumo de carne, eles não comem assim tanta...

Quem lhe criou os maiores riscos no trabalho em África: o homem ou o chimpanzé?

O homem, definitivamente. Pela caça ilegal, pelos incêndios e pela desflorestação. 

Consegue indicar quem mais influenciou a sua carreira?

A minha mãe. Por não esmagar os meus sonhos, como facilmente poderia ter feito.
[O paleontólogo] Louis Leakey, a quem tanto devo. Nomeio também a influência de um professor que tive quando era muito pequena e que me ensinou que os animais têm personalidade. Foi o meu cão, Rusty. O quarto indivíduo a quem presto homenagem é David Greybeard, o primeiro chimpanzé que me permitiu observar o seu comportamento.

Sente falta do trabalho de campo?

Sinto especialmente falta de estar sozinha na floresta. Gombe é muito diferente na actualidade. Agora, não lhe sinto a falta. Sinto falta do que foi em tempos.

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