Foi o primeiro europeu a contactar com os habitantes das remotas ilhas da Oceânia. Depois das suas viagens, foi possível estabelecer com exactidão a localização da Austrália, Nova Zelândia, Hawai e diversas ilhas do Pacífico.
Nada parecia fazer prever que James, o mais velho dos cinco irmãos Cook, inscreveria o seu nome na lista dos exploradores e navegadores mais ilustres da história. Nasceu em 1728, em Marton, Yorkshire, no seio de uma família de camponeses escoceses. As obrigações laborais do seu pai obrigaram a família a mudar-se para a Great Ayton, a norte da sua cidade natal, onde o jovem cresceu e frequentou a escola até aos 13 anos, quando a necessidade o levou a empregar-se na administração de uma propriedade. O seu fascínio pelo mar não lhe permitiu permanecer muito tempo no campo e, em 1746, decidiu alistar-se como aprendiz num navio mercante que transportava carvão para diferentes pontos da costa inglesa.
Completamente decidido a consagrar a sua vida ao mar, depois de completar os três anos obrigatórios de aprendizagem naval, iniciou uma carreira de sucesso como marinheiro mercante que o levou a tornar-se comandante do navio Friendship, que cobria diferentes rotas pelo mar Báltico. Foi durante este período que chegou a notícia de que a Grã-Bretanha estava a rearmar-se com o objectivo de apoiar a Prússia e Hanover na Guerra dos Sete anos. Convencido de que a Royal Navy lhe poderia oferecer uma oportunidade de ascensão social, da qual a marinha mercante o impedia, ofereceu-se como voluntário, mesmo significando com isso ter de recomeçar do zero, e, em 1755, ingressou como um simples marinheiro no Eagle. A guerra permitiu-lhe demonstrar o seu talento para a topografia e cartografia e, de regresso a Inglaterra, em 1766, a Royal Society contratou-o para viajar até ao oceano Pacífico, integrado numa expedição organizada em articulação com a Royal Navy e destinada a estudar e observar o trânsito de Vénus para medir a distância entre a Terra e o Sol e, ainda, comprovar a existência da chamada Terra Australis. Não hesitou em aceitar o desafio. Deixou em Londres a sua esposa Elizabeth Batts (1742-1835), com quem se casara em 1762, e quatro dos seis filhos que nasceriam do casamento e, em 1768, partiu de Plymouth em direcção ao Pacífico, ao comando do Endeavour.
A primeira viagem
A expedição navegou pelo Atlântico Sul, dobrou o cabo Horn e seguiu viagem em direcção a noroeste, até chegar ao Taiti no dia 13 de Abril de 1769. Ali deveriam ser realizadas as observações astronómicas do trânsito de Vénus que iriam ser dirigidas por Charles Green, um prestigiado cientista nomeado pela Royal Society. Cook, por seu lado, deveria encarregar-se das tarefas topográficas e da organização da viagem. Com uma previsão incomum para a sua época, levava consigo citrinos, vegetais e sementes suficientes para abastecer a tripulação durante a travessia e evitar, assim, o escorbuto, a doença que, causada pela falta de vitamina C, era uma das grandes ameaças da época para qualquer homem que empreendesse uma longa viagem marítima.
Chegado ao Taiti e terminadas as observações, Cook dispôs-se a alcançar o segundo objectivo da sua viagem: encontrar no Pacífico Sul o continente mais austral, a Terra Australis Incognita, da qual, um século e meio antes, o holandês Willem Janszoon e o espanhol Luis Vaz de Torres já tinham dado notícia. A Royal Society suspeitava da sua existência, mas, para ratificar as descobertas anteriores, precisava de provas mais concretas. Valendo-se de antigos mapas espanhóis encontrados em Manila (Filipinas) durante a ocupação britânica (1762), e ajudado pelos conselhos de Tupaia, um taitiano que conhecia a geografia do Pacífico, Cook conseguiu alcançar a Nova Zelândia. Apenas o explorador e comerciante holandês Abel Tasman o tinham feito antes dele (1642), mas não havia qualquer documentação topográfica da sua viagem.
No entanto, os inegáveis dotes cartográficos de Cook permitiram-lhe traçar o primeiro mapa completo da costa da Nova Zelândia, enquanto as suas capacidades de navegação viabilizaram a descoberta do estreito que hoje tem o seu nome e que separa a ilha Norte da ilha Sul.
Seguiu viagem rumo a oeste para tentar chegar à Terra de Van Diemen (actual Tasmânia), que também fora descoberta por Tasman, para confirmar que fazia parte do lendário e desconhecido continente austral. Os fortes ventos predominantes na zona desviaram o rumo e Cook foi obrigado a dirigir-se para norte, até chegar à costa sudeste da Austrália, o que o tornou, em conjunto com a sua tripulação, os primeiros europeus a avistá-la (1770). No entanto, o primeiro contacto físico com o continente apenas aconteceu uma semana mais tarde, quando chegaram a uma grande baía a que, devido à exuberante e variada vegetação, chamaram Botany Bay. A viagem continuou ao longo da costa em direcção a norte, sem perder nunca a terra de vista, para que Cook pudesse continuar com as suas tarefas cartográficas.
Na primeira viagem ao grande mar do Sul, Cook escolheu o Endeavour, um navio de carvão, que mandou reconverter, porque conseguia trans- portar carga pesada e uma grande quantidade de homens, duas qualida- des essenciais para uma longa travessia. À direita, o Endeavour, zarpando de Whitby, em 26 de Agosto de 1768.
Paralelamente, os naturalistas que o acompanhavam puderam estudar a fiora terrestre e marinha local. Antes disso, no curto período de tempo que estiveram ancorados em Botany Bay, teve lugar o primeiro encontro com os nativos pacíficos. Aproveitaram a estada na costa australiana para real zar uma série de reparações no Endeavour, que se tinha ressentido com as dificuldades da travessia. Assim que ficou pronto, retomaram o percu so, passando pelo ponto mais a norte da península do Cape York, em Queensland e, depois de cruzar o estreito de Torres entre a Austrália e a Papua Nova Guiné, dirigiram-se para a costa das Índias Orientais Holandesas e empreenderam o regresso a Inglaterra. Não contavam com que uma paragem técnica em Batávia, a capital dos domínios holandeses, tivesse consequências fatais, uma vez que boa parte da tripulação contraiu ali a malária e sucumbiu à doença.
Uma vez em Londres, a publicação do diário desta primeira viagem por iniciativa da sua esposa Elizabeth fez de Cook um autêntico herói nacional. O livro tornou-se um verdadeiro best-seller da época, e a comunidade científica reconheceu a importância de uma viagem que tinha ido muito além de uma simples viagem de exploração. Tinham sido descobertos lugares recônditos, espécies desconhecidas e uma grande variedade de plantas, mais de três mil, que os botânicos catalogaram cuidadosamente.
A segunda viagem
Promovido a capitão-de-fragata, Cook foi de novo incumbido pela Royal Society de procurar a mítica Terra Australis. A primeira viagem, e concretamente a circum-navegação das ilhas da Nova Zelândia, demonstrara que, contrariamente ao que se pensava, não estavam ligadas a uma massa continental. No entanto, os mapas traçados da quase totalidade da costa leste da Austrália pareciam ser uma prova suficientemente explícita de que se tratava de uma grande massa de terra, pelo que se deu como certo que, se de facto fosse a tão procurada Terra Australis, deveria estender-se para sul.
Durante a segunda das suas viagens, Cook e o seu Resolution foram os primeiros exploradores a cruzar o círculo polar antárctico. Na imagem, O Resolution e o Adventure com barcos de pesca na baía de Matavai, durante uma escala no Taiti; óleo (1776) de William Hodges (Museu Marítimo Nacional, Londres).
A bordo do Resolution, Cook liderou a expedição que partiu de Inglaterra em 1772. Ia acompanhado por um outro navio, o Adventure, comandado pelo também oficial da Royal Navy, Tobias Furneaux. Ambos cruzaram o círculo polar antárctico no dia 17 de Janeiro de 1773 e o curso que tomaram levou-os a descobrir as ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul. No entanto, Cook teve de regressar a Inglaterra em 1775, sem dispor de dados concretos sobre a localização da enigmática Terra Australis. Ainda assim, ninguém contestou o mérito da sua viagem. Promovido a capitão de navio, obteve uma aposentação honorária da Royal Navy e foi destinado como oficial ao Greenwich Hospital, o complexo palaciano situado não muito longe de Londres e que era utilizado como residência para marinheiros ilustres.
No entanto, a sua aposentação não viria a ser definitiva. Em 1776, a Royal Navy e a Royal Society planearam uma terceira viagem para encontrar a passagem do Noroeste. Cook viajaria de novo para o Pacífico e esperava passar para o Atlântico, enquanto numa viagem em simultâneo se programava a rota oposta.
A última viagem
Na sua terceira e última viagem, Cook comandou uma vez mais o Resolution, enquanto o capitão Charles Clerke o acompanhava ao comando do Discovery. Depois de uma breve paragem no Taiti, Cook seguiu viagem em direcção ao Norte até que, no dia 17 de Janeiro de 1778, se tornou o primeiro europeu a chegar às ilhas Hawai. Os nativos que celebravam por esses dias a festa de makahiki, uma cerimónia religiosa de oferta da colheita em homenagem a Lono, o deus local. Convencidos de que os recém-chegados tinham sido enviados pela divindade, manifestaram uma extraordinária hospitalidade em relação aos europeus. O bom acolhimento repetiu-se alguns dias depois, quando uma série de ventos com força de furacão partiram vários mastros do Resolution e Cook foi obrigado a regressar ao Hawai.
Reparados os danos, o navio retomou a viagem, desta vez em direcção à América do Norte, cuja costa leste explorou e cartografou desde a Califórnia até ao mar de Bering. No entanto, o gelo e as adversas condições climáticas não permitiram que Cook cruzasse o estreito homónimo, pelo que decidiu regressar ao Hawai.
De origem humilde, James Cook tornou-se, graças às suas viagens, um dos maiores descobridores de todos os tempos, ao nível de Colombo ou Magalhães, pois, com base nas suas três viagens, foi possível cartografar grande parte das terras localizadas na imensidão do Pacífico. Em cima, estátua de James Cook à entrada do Old Royal Naval College, Londres.
Para sua surpresa, a recepção dos nativos foi, nesta ocasião, tremendamente hostil, possivelmente em virtude do trato que os europeus que tinham ficado na ilha como destacamento, lhes tinham dispensado. No dia 14 de Fevereiro de 1779, um grupo de indígenas roubou um navio na Kealakekua Bay. Como já tinham feito em outras situações semelhantes, Cook e os seus homens decidiram tomar alguns reféns, esperando poder recuperar o que fora roubado. Nesta ocasião, no entanto, a medida foi desproporcional, uma vez que Cook decidiu prender o rei da ilha. O resultado foi uma forte altercação na praia que os homens de Cook resolveram disparando as suas armas. A resposta dos nativos foi extremamente violenta e James Cook foi esfaqueado e espancado até à morte. Depois de lançar o seu corpo ao mar com o ritual próprio da Marinha, o Resolution e o Discovery empreenderam a viagem de regresso a Inglaterra, onde chegaram em 1780.
O primeiro cartógrafo do pacífico
O trabalho de James Cook como cartógrafo é muito minucioso e estende-se desde as costas da Terra Nova até à costa leste da Austrália, Nova Zelândia ou algumas zonas da Antárctida. O resultado do seu trabalho foi o primeiro mapa em grande escala e de alta pre- cisão do hemisfério sul. Da mesma forma, as suas três viagens permitiram-lhe desenvolver trabalhos de topografia, apesar de nem sempre ter conseguido realizá-los em condições favorá- veis. Ainda assim, os seus méritos levaram-no a ser considerado pela Royal Navy e pela Royal Society um explorador e cientista de excepção e tiveram uma grande influência na posição que o Reino Unido assumiu desde então em relação aos territórios do Ultramar.
1 TAITI. Esta gravura italiana (Roma, 1798), baseada no mapa desenhado pelo capitão Cook e praticamente idêntico ao original, é uma boa prova da sua grande habilidade como cartógrafo.
2 AS ILHAS MARQUESAS. Descobertas por Álvaro de Mendaña em 1595, foram revisitadas dois séculos depois por James Cook, em 1774, numa escala de um mês depois da sua viagem à Antárctida.