A origem do chamado conflito israelo-palestiniano tem as suas raízes históricas no que aconteceu no final do século XIX naquele território. As suas causas não têm origem na religião, mas na colonização levada a cabo pelo movimento sionista. O sionismo é simultaneamente uma doutrina e um projecto político, nacionalista e intrinsecamente colonial.

O SIONISMO, OS ACORDOS SECRETOS SYKES-PICOT E A DECLARAÇÃO DE BALFOUR

Desde 1896, o termo sionismo é aplicado ao movimento político fundado por Theodor Herzl, um jornalista judeu nascido no Império Austro-Húngaro. Embora este movimento não se baseasse originalmente na religião, utilizou este factor como forma de reivindicação para poder criar um Estado judeu.

Quando Herzl escreveu Der Judenstaat (O Estado Judeu), a Palestina não era a sua prioridade. Ele já tinha considerado a possibilidade de criar a nova nação noutros locais, como a Argentina, o Uganda, Chipre, o Quénia, Moçambique, a Península do Sinai ou o Congo.

No final, escolheu a Palestina motivado pela "poderosa lenda (religiosa)" que tinha a seu favor, apesar de ele e outros dirigentes sionistas que o apoiaram se declararem ateus ou "não crentes". O movimento sionista evoluiu desde o início para um projecto colonial, reconhecido pelos seus próprios dirigentes, com o objectivo de se apropriar progressivamente do território através de colónias, procurando o apoio primeiro do Império Otomano e depois dos britânicos, entre os quais se contavam simpatizantes importantes como o banqueiro Lionel Walter Rothschild.

Cartaz do filme It Is No Dream sobre Theodor Herzl, 2012
Cordon Press

Cartaz do filme It Is No Dream sobre Theodor Herzl, 2012.

Por outro lado, no contexto da Primeira Guerra Mundial, a França e a Grã-Bretanha precisavam do apoio dos árabes para derrotar os otomanos, pelo que utilizaram em seu proveito o desejo de independência no contexto do grande despertar árabe que prevaleceu no Próximo e Médio Oriente.

No entanto, as promessas feitas desde o início pelas duas potências a este respeito já estavam viciadas. Ao mesmo tempo que faziam propostas de independência aos árabes, estes dois países dividiam em diferentes zonas os territórios do império derrubado.

Os verdadeiros planos tinham sido elaborados ao longo dos anos com os acordos secretos Sykes-Picot em 1916 e foram revelados pelos bolcheviques após a queda do czar. O inglês Sir Mark Sykes e o francês George Picot tinham dividido a região em duas zonas sob a sua influência, sob a forma de "mandatos". Em consequência, a "Grande Síria" desmembrar-se-ia, ficando a França com a Síria e o Líbano e a Grã-Bretanha com a Transjordânia (actual Jordânia), o Iraque e a Palestina.

Esta situação foi exacerbada no caso da Palestina porque, para além de se iniciar a colonização britânica, os britânicos comprometeram-se formalmente, enquanto apoiantes do movimento sionista, através da Declaração de Balfour de 1917, a construir "um lar nacional judeu na Palestina", o que incentivou a colonização sionista da Palestina histórica, já iniciada no final do século XIX.

Do mesmo modo, a própria idiossincrasia do sionismo enquanto movimento colonial aplicava – e continua a aplicar atualmente – o modelo da "colonização branca". Ou seja, aquele que substitui a população autóctone, em todas as suas formas, por uma população de colonos emigrantes. Este conceito estará intrinsecamente relacionado com a "transferência" de população, um eufemismo para expulsão, que estará presente em todos os planos elaborados pelos dirigentes sionistas e apresentados em diferentes instâncias internacionais, e posteriormente executados pelas suas forças militares.

O MANDATO BRITÂNICO E A PARTILHA DA PALESTINA

Assim, os britânicos assumiram o controlo da Palestina em 1917, embora este tenha sido oficializado em 1920. Este facto levou a população palestiniana a sofrer várias crises de protesto contra o colonialismo britânico e o seu apoio à continuação da agressiva migração sionista.

Entre os exemplos contam-se a revolta de al-Buraq de 1929, os motins de 1933, a grande revolta árabe (al-Zawra al-kubra) de 1936-39 e, finalmente, a destruição da maior parte da Palestina histórica em 1948.

Consequentemente, entre 1946 e 1947, os britânicos decidiram ceder o problema da Palestina às Nações Unidas. Por um lado, devido às exigências sionistas apoiadas na altura pelos EUA e ao problema do crescente terrorismo judeu na Palestina, que começou a visá-los também. Por outro lado, devido à crescente pressão árabe que exigia os seus direitos e o cumprimento das promessas feitas.

Em 29 de Novembro de 1947, uma Organização das Nações Unidas pouco experiente, criada em 1945, votou formalmente a partilha da Palestina através da Resolução 181, que permitia dividir o território em dois Estados – um judeu e outro árabe.

A ONU ignorou assim a origem da população do país, concedendo 55% do território ao Estado judeu, apesar de a população continuar a ser maioritariamente árabe (muçulmanos e cristãos) e de a população judaica possuir menos de 6% do território.

Ambos os grupos rejeitaram a proposta. Os judeus, porque queriam mais território sem a população árabe, e os árabes, porque se recusavam a dividir a terra com uma comunidade de colonos.

A CRIAÇÃO DE ISRAEL E A NAKBA

Por último, a criação unilateral do Estado de Israel, em Maio de 1948, como culminar da colonização, teve como consequência a transformação violenta do território e a expulsão de mais de metade da população palestiniana. A maior parte deles tornou-se refugiada, naquilo que é cada vez mais visto pelos investigadores como uma limpeza étnica.

Entre 750.000 e 800.000 pessoas de diferentes credos – muçulmanos e cristãos – e posições sociais foram expulsas das suas casas e terras, naquilo a que se chama em árabe al-Nakba (a catástrofe, o desastre). Os seus bens pessoais e colectivos foram expropriados ou destruídos.

Do mesmo modo, as aldeias, vilas e bairros das cidades que habitavam foram, consoante os interesses, demolidas ou esvaziadas dos seus proprietários e re-habitadas pelos colonos que chegavam.

A partir de então, a sociedade palestiniana ficaria para sempre desintegrada em três grupos distintos: os que foram expulsos para os países árabes vizinhos ou para outros locais; os que permaneceram no recém-criado Estado de Israel (não considerados refugiados); e os que se dirigiram para o que restava da Palestina histórica, na Cisjordânia, em Gaza e em Jerusalém. Até hoje, nenhum deles foi autorizado a regressar às suas casas originais.

Este artigo foi originalmente publicado em The Conversation. Leia o original, escrito por Mar Gijón Mendigutía, investigadora de pós-doutoramento Juan de la Cierva, Universidade do País Basco / Euskal Herriko Unibertsitatea.