Festas, partidas e negócios. O que hoje conhecemos como Halloween está muito longe das suas origens. Ao longo dos séculos, a celebração sofreu várias alterações e nós resumimo-las aqui para si.
ASCENDÊNCIA Pagã
As origens do Halloween remontam a mais de 2.000 anos. Naquele que consideramos o dia 1 de Novembro, os povos celtas da Europa celebravam o seu Dia de Ano Novo, chamado Samhain (SAH-win).
Na véspera de Samhain – um festival que esteve na origem do Halloween – acreditava-se que os espíritos, vivos, andavam pela Terra depois da morte física. Também se dizia que as fadas, os demónios e outras criaturas andavam à solta.
Trajes celtas
Para além de sacrificarem animais aos deuses e de se reunirem à volta de fogueiras, os celtas usavam frequentemente trajes – provavelmente peles de animais – para confundir os espíritos, talvez para evitar serem possuídos, de acordo com o American Folklife Center da Biblioteca do Congresso dos EUA.
Usando máscaras ou escurecendo o rosto, acredita-se que os celtas também se faziam passar por ancestrais mortos. Os jovens podem ter-se vestido de mulher e vice-versa, marcando uma ruptura temporária das divisões sociais normativas.
Numa forma precursora da tradição "doces ou travessuras" (trick or treat, em inglês), acredita-se ainda que os celtas, disfarçados de espíritos, iam de casa em casa fazendo actos disparatados em troca de comida e bebida – uma prática inspirada talvez por um hábito anterior de deixar comida e bebida ao ar livre como oferendas a seres sobrenaturais.
O gato sìth é uma personagem do folclore celta, um gato preto com uma mancha branca no peito. O povo das Terras Altas da Escócia acreditava que ele podia roubar a alma de uma pessoa falecida antes que os deuses a reclamassem.
MUNDUS PATET, O DIA ROMANO DOS MORTOS
A expressão mundus patet significa "mundo aberto" e refere-se ao Mundus Cereris, um dos edifícios mais antigos de Roma, que marcava o centro exacto da cidade e o elo entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, de modo que a sua entrada permanecia selada e só era aberta em três ocasiões por ano: 24 de Agosto, 5 de Outubro e 8 de Novembro, quando as almas falecidas regressavam à terra.
No submundo romano existiam espíritos malignos que têm uma razoável semelhança com o imaginário desenvolvido no Halloween. As fontes escritas falam, por exemplo, das larvas, espíritos "que se alimentam da vida dos mortais" e das maniae, seres que tinham a aparência de "esqueletos horríveis que provocam a loucura nos vivos".
Influência cristã no Dia das Bruxas
O Samhain transformou-se mais tarde quando os líderes cristãos cooptaram os feriados pagãos. No século VII, o Papa Bonifácio IV decretou o dia 1 de Novembro como o Dia de Todos os Santos. A noite anterior ao Samhain continuou a ser celebrada com fogueiras, disfarces e desfiles, embora com um novo nome: Véspera de Todos os Santos – mais tarde "Halloween".
DIA DE TODOS OS SANTOS
A festa de Todos os Santos tem a sua origem na crença do cristianismo primitivo de que os mártires mereciam um dia para recordar o seu sacrifício, o que levou o Papa Bonifácio IV a estabelecer, no século VII, um dia para a comemoração de todos os mártires da Cristandade, a 13 de Maio. Um século mais tarde, o Papa Gregório III alargou esta celebração a todos os santos da Igreja Católica e transferiu-a para a data actual, 1 de Novembro.
Museu Nacional de Cracóvia
As Tochas de Nero, do pintor Henryk Siemiradzki, recria o martírio dos primeiros cristãos, queimados vivos às centenas depois de o imperador os ter declarado culpados do incêndio que assolou Roma em 64.
Parece claro que a escolha desta data estaria relacionada com a tentativa de suplantar as festas pagãs dos mortos, como o Samhain celta ou o mundus patet romano, em cujos territórios a Igreja se tinha espalhado, adaptando os seus ritos às crenças anteriores. Assim, por volta de 1 de Novembro, surgiram outras celebrações, como o Halloween, na véspera, ou o Dia dos Finados (ou Dia dos Fiéis Defuntos), no dia seguinte, que acabaram por se fundir com a celebração original.
HALLOWEEN, VÉSPERA DE TODOS OS SANTOS
Na Inglaterra medieval, a palavra hallow, que hoje em dia designa algo sagrado, era utilizada como sinónimo de santo, e o feriado era conhecido como All Hallows. A véspera desse dia tornou-se uma celebração de direito próprio, a Véspera de Todos os Santos, que no final da Idade Média se fundiu com o dia santo. A Reforma Protestante pôs fim ao Dia de Todos os Santos entre os protestantes – basicamente as igrejas reformadas aboliram a figura católica do santo – mas na Grã-Bretanha o Halloween continuou a ser celebrado como um feriado secular.
O Halloween chega à América
Os imigrantes europeus levaram o Halloween (Halloween vem da expressão "All Hallow Eve") para os Estados Unidos, e a celebração ganhou força nos anos 1800, quando a imigração irlandesa-americana explodiu.
Anoka, Minnesota, pode ser o lar da mais antiga celebração oficial de Halloween dos Estados Unidos. A partir de 1920, a cidade começou a organizar um desfile e uma fogueira.
Os historiadores de Anoka afirmam que os habitantes da cidade queriam travar as partidas do Dia das Bruxas que soltavam vacas na Main Street e derrubavam casas de banho.
Lendas urbanas do Dia das Bruxas
Algumas histórias de Halloween não morrem – mesmo que a sua veracidade seja bastante duvidosa. Por exemplo, diz-se que os cultos satânicos – muito mais comuns na ficção do que na realidade – sacrificam gatos pretos no Dia das Bruxas. Porém, os especialistas dizem que há poucas provas e que os poucos incidentes isolados que envolveram gatos pretos maltratados foram obra de pessoas perturbadas – muitas vezes adolescentes.
Os doces contaminados por venenos, agulhas ou lâminas de barbear são outro pesadelo do Dia das Bruxas. No entanto, o sociólogo Joel Best disse em 2010 que os rumores sobre doces perigosos podem ser manifestações de medos e ansiedades sobre o futuro. Num mundo em que tantas ameaças – terrorismo, queda das bolsas de valores – parecem incontroláveis, pode ser reconfortante para os pais concentrarem-se em calamidades evitáveis, como uma criança que morde uma maçã com um pico, disse Best, da Universidade de Delaware.
Best realizou um estudo sobre alegados incidentes com doces de Halloween contaminados. "Não consegui encontrar um relatório fundamentado de uma criança que tenha sido morta ou gravemente ferida por um doce contaminado apanhado no decurso de uma partida de doces ou travessuras", escreveu.