Japão: Um ensaio fotográfico sobre "uma nova velhice"

O Japão lidera o mundo na adaptação ao envelhecimento à medida que a sua população diminui. Saiba como a nação mais envelhecida do mundo (a seguir ao minúsculo Mónaco) está a lidar com uma realidade que baterá à porta de cada vez mais países nos próximos anos.

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NORIKO HAYASHI

Com quase 30% de cidadãos com idade igual ou superior a 65 anos, a população do Japão é a mais velha da Terra a seguir ao minúsculo Mónaco. A sua média etária de 48,7 anos ultrapassa de longe a média etária mundial, cifrada em 30,2 anos. 

Em Iwase, um pacato bairro portuário na orla da baía de Toyama visitado durante esta reportagem, os jovens partiram e os que ainda aqui vivem vão-se tornando mais velhos. Esta dinâmica é visível em todo o país, à medida que a taxa de natalidade prossegue o declínio registado há várias décadas. Em 2010, a população do país atingiu o seu máximo: 128 milhões de habitantes. Agora, tem menos de 125 milhões e prevê-se que o número continue a diminuir ao longo das próximas quatro décadas. Em simultâneo, a esperança de vida dos japoneses tem aumentado: 87,6 anos para as mulheres e 81,5 anos para os homens, em média. À excepção do minúsculo principado do Mónaco, a população do Japão é actualmente a mais velha do mundo.

Estes números, embora sombrios, não transmitem a profundidade das repercussões de uma mudança demográfica no quotidiano. A mistura desproporcionada de cada vez mais idosos e cada vez menos jovens altera todos os aspectos da vida, da aparência física dos cidadãos às políticas sociais públicas, da estratégia empresarial ao mercado de trabalho, do espaço público às casas privadas. O Japão transforma-se num país projectado para os velhos e dominado por eles. O caminho percorrido pelo Japão prenuncia o que acontecerá em muitos países. Bem-vindos ao advento de "uma nova velhice" made in Japan.

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Missão (im)possível

Hiromu Inada, de 89 anos, treina num ginásio em Chiba, na baía de Tóquio. Já terminou 66 triatlos desde que celebrou 70 anos. Em 2018, tornou-se o mais velho triatleta a terminar o Campeonato Mundial de Ironman. Treina todos os dias. “Mesmo quando penso que algo pode não ser possível, tento na mesma e, surpreendentemente, acaba por revelar-se possível”, diz.

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Cozinhando um envelhecimento activo

Chikayoshi Gonda, de 97 anos, cozinha bolinhos de massa conhecidos como oyaki, enquanto Harumi Okubo, de 80 anos, os prepara. O restaurante de Ogawa onde ambos trabalham começou a contratar pessoas mais velhas à medida que a população desta aldeia de montanha se tornou grisalha. A média etária dos seus empregados é agora de 70 anos. 

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Um banho comunitário em Tóquio

O Japão está a modificar muitos aspectos da sua sociedade, à medida que a população envelhece, incluindo rituais como o banho comunitário. Jiro Tajima, de 88 anos, é enxaguado enquanto se prepara para um banho de imersão num balneário de Tóquio reservado quase todos os dias, até ao princípio da tarde, aos idosos que ali vão fazer exercício, almoçar e tomar um banho de imersão. No Japão, os seguros para cuidados de longa duração cobrem a maioria das despesas.

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"Cuidadores" robóticos

Quando a noite cai no lar para idosos de Activa Biwa, na cidade de Otsu, um robot faz a ronda, abrindo a porta de cada quarto para verificar como estão os residentes. Se detectar algo fora do normal, transmite imagens para alertar os cuidadores. Muitos lares de idosos estão a conduzir experiências com soluções concebidas para diminuir as exigências impostas ao pessoal. 

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O apoio imigrante

Em Ibusuki, uma cidade balnear no Sudoeste, Nga Thi Nguyen e Mien Thi Tran, ambas originárias do Vietname, trabalham para a Mifuku Suisan, uma empresa que produz lascas secas de atum, um tempero fundamental na culinária japonesa. Segundo o presidente da empresa, as estagiárias técnicas estrangeiras, como estas, autorizadas a permanecer no Japão durante cinco anos, são agora indispensáveis. Também há imigrantes vietnamitas a trabalhar em lares de idosos, mas o número de vistos concedidos a trabalhadores especializados está sujeito a um limite estrito. A insularidade japonesa, agravada pela dificuldade de aprendizagem do idioma, torna difícil suprir a falta de cuidadores com estrangeiros.

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Japan Pom Pom, uma claque 'sui generis'

Fumie Takino (à frente) é a fundadora e, com 90 anos, o elemento mais velho da Japan Pom Pom, uma claque de idosas de Tóquio. Durante 26 anos, treinou uma vez por semana. “É importante sermos nós próprias e fazermos aquilo que queremos fazer, independentemente da nossa idade”, diz.

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Telenoid Android

Kazuko Kori, de 89 anos, conversa com o Telenoid em Yume Paratiis, um lar para idosos na cidade de Amagasaki. Um funcionário fala através dele, à distância. O andróide está a ser estudado como estímulo de conversa com pessoas que padecem de demência.

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Eles fintam a demência com histórias

Taira e Ichi Katsuta, de 89 e 85 anos, padecem de demência. Vivem autonomamente num apartamento de Tóquio, tendo o hábito de contar um ao outro histórias que só eles compreendem. No Japão, uma em cada cinco pessoas com mais de 65 anos padece de demência. 

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Um ossário de ponta

Genyu Daito, de 64 anos, o principal sacerdote de Banshoji, um templo budista de Nagóia, reza num ossário iluminado com lâmpadas LED que destacam os nichos quando são seleccionados por um cartão electrónico. As opções de enterramento inovadoras são mais populares, à medida que a tradição dos túmulos familiares entra em declínio. 

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Um exercício diário e preventivo

A cidade de Toyama, na maior ilha do Japão, tem-se esforçado por ser um lugar mais hospitaleiro. Uma iniciativa fundamental é o Centro de Cuidados Preventivos de Kadokawa, que possui piscinas cuja água é fornecida por nascentes de água termal. Todos os dias, 250 idosos fazem exercício aqui.

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Uma povoação onde as bonecas estão em maioria

No quase despovoado lugar de Nagoro, Shinobu Ogura, de 79 anos limpa a escola primária vazia. As últimas alunas costuraram bonecas à sua semelhança. Tsukimi Ayano, uma residente de 72 anos, fez a do director. Ela povoou Nagoro, agora com apenas 25 habitantes, com centenas de bonecas. 

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Uma vaca "ocupacional"

Tadao Inoue possuía 50 vacas na sua quinta leiteira de Nasu, situada na região central do Japão. Agora só tem uma. Com a idade, o trabalho foi-se tornando demasiado pesado, mas ele afirma que lhe basta ter uma vaca para ordenhar e manter-se activo. Ainda assim, Tadao, de 84 anos, decidiu que desistirá em breve. 

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Aprender até ao fim

Uma das gueixas mais idosas ainda no activo no Japão, Ikuko Akasaka, de 82 anos, pratica a exigente arte tradicional (dançar para os seus clientes e conversar com eles) há 64 anos. “Quero aprender coisas novas e apurar a minha arte a cada instante”, afirma.

Leia "Uma nova velhice" (a reportagem na íntegra) na edição de Setembro de 2023 da revista National Geographic.