Já deve ter acontecido com muitos de nós recentemente: estamos a participar numa reunião por videochamada, ou numa conversa informal virtual, quando percebemos que parámos de olhar para quem está a falar e começamos a reparar no que está em pano de fundo. Aqueles livros estão mesmo ordenados por cores nas prateleiras? Aquele vaso tem mesmo uma figueira? E que cor de parede é aquela?

Imagine o que seria se, para além de podermos bisbilhotar virtualmente as casas dos nossos colegas de trabalho, amigos ou familiares, também pudéssemos dar uma vista de olhos às casas de grandes artistas pelo mundo inteiro. Como seria o cenário de fundo da cozinha de Claude Monet? E como seria a visão de uma videochamada com Frida Kahlo? Seguem-se 14 casas espetaculares de artistas e arquitectos – todas normalmente abertas ao público, mas que agora só estão acessíveis virtualmente – que merecem uma vista de olhos.

Casa das Canoas de Oscar Niemeyer

Casa das Canoas

Nesta fotografia de 1958, o arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer está sentado com a sua esposa, Annita, na casa projetada por ele para a sua família no Rio de Janeiro. Fotografia de Dmitri Kessel, The LIFE Picture Collection/Getty Images.

Rio de Janeiro, Brasil: Teatros, esplanadas, uma catedral mundialmente famosa, o Edifício do Secretariado da ONU em Manhattan – estas são apenas algumas das obras do arquitecto brasileiro Oscar Niemeyer. Mas o projecto de curvas infames e betão armado mais adorado de Niemeyer é provavelmente a sua casa de família no Rio de Janeiro, a Casa das Canoas, construída em 1951, onde as rochas posicionadas de forma orgânica englobam a piscina e também servem de escada no interior da casa.

Taliesin de Frank Lloyd Wright

casa de Frank Lloyd Webber

Taliesin West, a antiga casa e escola de Frank Lloyd Wright, está localizada no Deserto de Sonoran, nos arredores de Scottsdale, Arizona. Está aberto aos visitantes e, como muitas das propriedades do arquitecto influente, oferece actividades práticas inovadoras para crianças. Fotografia de Taylor Glenn, Redux.

Spring Green, Wisconsin, EUA: A casa, estúdio e escola rurais de Frank Lloyd Wright, no Wisconsin, são frequentemente encarados como se fossem a sua autobiografia arquitectónica. Um local de extrema beleza (linhas que abraçam o solo, estiradores originais) e de extrema tragédia (dois incêndios e o assassinato da amante de Wright), esta propriedade agrícola de 323 hectares, agora Património Mundial da UNESCO, oferece uma variedade de passeios, incluindo uma visita virtual a espaços que estão interditos a visitas presenciais.

Casa de Vidro de Philip Johnson

Casa de vidro

Projectada para se integrar naturalmente na paisagem circundante, a minimalista Casa de Vidro de Philip Johnson não tem paredes interiores e está construída num promontório com vista para um lago. Fotografia de Todd He​isler, The New York Times/Redux.

New Canaan, Connecticut, EUA: O arquitecto Philip Johnson viveu 58 anos no seu retiro de vidro e aço – “a única casa do mundo”, disse Philip, “onde podemos ver o pôr do sol e o nascer da lua ao mesmo tempo, no mesmo lugar.” A casa, com 10 metros de largura, tem janelas envolventes que revelam uma paisagem cuidadosamente esculpida para combinar com a pintura do século XVII – O Funeral de Phocion – de Nicolas Poussin. As visitas guiadas, livres e virtuais levam os visitantes através de uma galeria de quadros, estúdio, casa de hóspedes e um anexo modernista de tamanho hobbit, vermelho e preto, apelidado de Da Monsta.

Casa Charleston de Duncan Grant e Vanessa Bell

Sussex, Reino Unido: A leitura de poemas, os salões de arte e os passeios pelas propriedades são tão comuns agora como eram no auge da Casa Charleston – a casa de campo dos pintores Duncan Grant e Vanessa Bell do Grupo Bloomsbury. (Visite também a propriedade Monk's House, de Virginia Woolf, irmã de Bell, que fica a 20 minutos de carro). As portas dos armários pintadas à mão, as cortinas de chita e as paredes com padrões estampados dão lugar a um jardim igualmente boémio repleto de esculturas que parecem levitar, ervilhas, agriões e narcisos-dos-poetas.

Casa Azul de Frida Kahlo

Casa Azul

Popularmente conhecida por Casa Azul, a casa e estúdio de Frida Kahlo, na Cidade do México, oferece um vislumbre do mundo da artista feminina mais celebrada da América Latina. Fotografia de Alicia Vera, Redux.

Cidade do México, México: O local de nascimento, morte, e de muitos anos de vida de Frida Kahlo, a Casa Azul, caiada de azul-cobalto, e o seu jardim mágico podem agora ser visitados através de uma visita digital interactiva. No interior, as paredes pintadas de branco chamam a atenção para a constelação de objetos de arte folclórica local, cerâmica artesanal, chapéus de abas largas, esculturas pré-colombianas e algumas das obras mais famosas de Kahlo, incluindo Viva La Vida e Retrato do Meu Pai. A casa tem centenas de artefactos que incluem os materiais de pintura e os livros preferidos de Frida, e até a sua máscara mortuária e a urna em forma de sapo que contém as suas cinzas.

La Villa des Brillants de Auguste Rodin

Casa de Rodin

La Villa des Brillants, de Rodin, foi reconstruída em 1997 a partir de fotografias da época e oferece um vislumbre da vida que o artista tinha em Meudon, França. Fotografia de Raphael Gaillarde, Gamma-Rapho/Getty Images.

Meudon, França: A vila de Auguste Rodin, ao estilo de Luís XIII, era a sua oficina, local de trabalho e casa – e o local do seu descanso final (Rodin foi enterrado com Rose Beuret, a sua companheira de longa data, debaixo de uma versão da escultura O Pensador). Esta propriedade coberta de lilases também era o lar de mais de 40 dos seus amigos e funcionários, incluindo o poeta Rainer Maria Rilke (secretário de Rodin) que descreveu o enorme salão e as suas “deslumbrantes esculturas brancas [que] parecem estar a olhar para nós atrás de portas altas de vidro, como se fossem criaturas num aquário.”

Casa de Jackson Pollock e Lee Krasner

East Hampton, Nova Iorque, EUA: Na casa de East Hampton dos artistas Jackson Pollock e Lee Krasner estamos para sempre em 1984. Aqui, permanece tudo no mesmo lugar desde que Krasner faleceu. As marcas e manchas de tinta cobrem o chão desta casa de pesca, transformada em estúdio, onde Pollack e Krasner trabalharam nas suas obras-primas expressionistas abstratas (incluindo a famosa Convergência de Pollock). No interior, a casa é eclética e chique. Uma âncora partida domina a parede da sala e a colecção de conchas de Krasner está debaixo de um retrato seu, desenhado por um namorado dos tempos de faculdade. E a biblioteca original do casal de artistas ainda está na estante.

Casa e estúdio de Georgia O’Keeffe

Abiquiu, Novo México, EUA: Nascida em Sun Prairie, no Wisconsin, Georgia O'Keeffe só começou a viver de forma permanente no Novo México em 1949, quando tinha 61 anos. Depois disso, passou todos Invernos e Primaveras na cidade de Abiquiu, num complexo colonial espanhol com 464 metros quadrados, onde O'Keeffe pintou a sua série Cottonwood, retratou a região de Abiquiu e fez muitas representações da sua porta preta preferida. A sua casa em Abiquiu irradia uma luz natural e contém algumas surpresas, como um esqueleto de uma cascavel enrolado no banco da sala de estar. Apesar de as visitas à casa estarem temporariamente interrompidas, podemos sempre fazer uma visita virtual ao vasto jardim de O'Keeffe – jardim que é cuidado de forma diligente pelos alunos da Escola Secundária Mesa Vista.

Casa de Clementine Hunter

Plantação Melrose, Louisiana, EUA: Clementine Hunter pintou milhares de quadros nos seus prolíficos 101 anos de vida, a maioria na Plantação Melrose, na região do rio Creole Cane, na zona francesa do Louisiana. Quando Melrose se tornou numa meca para artistas e escritores, Hunter começou a coleccionar as tintas e os pincéis descartados pelos visitantes. Depois de um dia inteiro a colher algodão, a cozinhar ou a limpar, Hunter pintava na sua modesta cabana à luz de um candeeiro a petróleo, onde retratava a forma como a sua família e amigos “trabalhavam, brincavam e oravam”. Para além da cabana com um tecto vermelho, os visitantes de Melrose também podem ver a série de nove murais de Hunter na “Casa Africana” – designada como o primeiro “tesouro nacional” do Louisiana.

Olana de Frederic Church

casa Olana

Que tal esta imagem de fundo para uma videochamada? O interior da casa de Frederic Church, pintor paisagista do século XIX, em Hudson Valley, Nova Iorque, tem uma mistura de temas da era vitoriana e do Médio Oriente. Fotografia de Andy Wainwright.

Hudson Valley, Nova Iorque, EUA: No centro do movimento artístico do século XIX chamado Hudson River School, temos o pintor paisagístico romântico Frederic Church. E no coração do Hudson Valley, temos a Olana – uma propriedade de sonho com 100 hectares que tem uma fortaleza de inspiração persa e mais de 8 km de estradas. Rica em tons de mostarda, cereja e argila, a casa está decorada do chão ao tecto com tapetes turcos, molduras douradas ornamentadas e azulejos pintados. Mais de um século depois da sua morte, o “panorama” pessoal de Church e a sua obsessão por paisagens continuam a estimular a comunidade de Hudson e a gerar debates sobre a sua conservação.

Casa de Jim Thompson

Banguecoque, Tailândia: Apesar de Jim Thompson não ter sido um artista, a casa de teca ao estilo tailandês do empresário e arquitecto americano em Banguecoque, no canal Khlong Maha Nak, contém uma extraordinária colecção de arte e artefactos tradicionais tailandeses. Rodeada por jasmim árabe perfumado e por densos jardins de selva, o retiro de Thompson nos anos 1950 apresenta corredores espaçosos ao ar livre, painéis entalhados nas portas, porcelanas, pinturas e estátuas de Buda do século VIII.

Casa de Sam Maloof

Casa de Sam Malof

A casa de madeira de Sam Maloof apresenta quartos com ornamentos intrincados. Fotografia de The Maloof Foundation.

Pomona, Califórnia, EUA: Em 1952, ameaçada por uma autoestrada interestadual, a casa de estilo rural de Sam Maloof, na Califórnia, foi transferida para um local permanente em Pomona. Agora, os seus visitantes podem explorar os ambientes aconchegantes do famoso carpinteiro e uma colecção abrangente de madeira, cerâmica, arte em fibra e quadros que Maloof colecionou da sua próspera comunidade de artistas do vale de Pomona. A habitação parece uma casa na árvore com as suas paredes de sequoia, uma deslumbrante escada em espiral entalhada à mão e vitrais extravagantes.

The Firs de Irma Stern

Cidade do Cabo, África do Sul: Pintada em tons de verde e amarelo, a casa e estúdio da pintora, escultora e ceramista Irma Stern, na Cidade do Cabo, é uma colagem colorida de retratos e artefactos tribais, incluindo um fabuloso banco Buli da República Democrática do Congo. A galeria no segundo andar tem exposições constantes de artistas sul-africanos da actualidade.

Casa de Claude Monet

Giverny, França: A propriedade de Claude Monet, com janelas verdes e coberta de videiras, é muito famosa pelo seu interior poético, pelo jardim cuidado de forma imaculada e pelo lago com nenúfares. Na cozinha, um conjunto de panelas de cobre brilha contra um mar de azulejos azuis. Na sala de jantar, a mesa, as cadeiras, a lareira, as paredes e as molduras são banhadas por um amarelo limão harmonioso. Muito influenciado pela arte japonesa, Monet colecionou 231 blocos de madeira e uma abundância de quadros japoneses, muitos dos quais figuram nas paredes da casa. E graças à Fundação Monet, podemos espreitar esta casa a partir do conforto do nosso lar.

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