Formada a partir dos étimos gregos skafes (banheira, canoa ou barco) e andros (homem), a palavra "escafandro" é um daqueles termos que, mal escutado, nos devolve uma imagem. Neste caso, a imagem de uma espécie de homem-barco capaz de resistir às pressões com que as profundezas marítimas o confrontam e de interagir com elas e com os seres que nelas habitam com a respiração garantida.
De forma mais directa, o dicionário Priberam, descreve o escafandro como um “equipamento hermeticamente fechado, mas onde se faz penetrar ar por meio de uma bomba, e que os mergulhadores vestem para trabalho ou investigação subaquática”.
Conheça ou relembre alguns factos sobre o precursor do Exosuit.
DOMÍNIO PÚBLICO
O escafandro e os mergulhadores: Leon Nalaslovski (direita) e Anton Hajdinjak (esquerda) na central hidroelétrica de Ožbalt na antiga República Socialista da Eslovénia (Jugoslávia). Fotografia de 1958.
1. Uma armadura contra a água
É composto por um capacete, normalmente de metal, que está ligado a um fato impermeável (que pode ou não ser reforçado, consoante o objectivo do fato), de modo a que não entre água nem saia ar – ar este que é bombeado para dentro do mesmo através de um tubo ou mangueira, normalmente ligado a um barco. Faz também parte do equipamento-base um conjunto de pesos/lastro, assim como uma faca para os poder libertar e assim controlar a profundidade a que se está.
2. "20 MIL" REFERÊNCIAS NA CULTURA POP
O escafandro é um marco na cultura popular: para além de aparecer per si numa infinidade de obras de arte, como por exemplo no clássico 20 Mil Léguas Submarinas (tanto no livro de Júlio Verne como nas adaptações cinematográficas), é também a inspiração dos Big Daddies que povoam a cidade submarina de Rapture no jogo de vídeo Bioshock, por exemplo.
Porém, o seu momento mais relevante na cultura pop pós-2000 dá-se possivelmente sob a forma de metáfora, no premiado filme O Escafandro e a Borboleta, em que o protagonista, que sofre de síndrome do encarceramento (ou de locked-in) e está impossibilitado de comunicar com o mundo exterior, compara a sua condição a estar preso dentro de um escafandro, sozinho e isolado do mundo que o rodeia.
"J’étais prêt à partir" (Estava pronto para partir). Eis a descrição original desta gravura incluída no romance de Júlio Verne Vinte Mil Léguas Submarinas (1866-69). Na imagem, de escafandro, o Capitão Nemo segura uma espingarda, sendo observado por Ned Land, arpoador baleeiro canadiano.
3. UMA OBRA DE ENGENHARIA
O primeiro escafandro moderno funcional data da década de 1830, fruto dos melhoramentos do engenheiro alemão radicado em Londres Charles Augustus Siebe ao projecto dos irmãos Charles e John Deane, que tinham modificado um capacete desenvolvido para ajudar bombeiros em fogos com muito fumo para permitir a sua submersão, mas não tinham conseguido resolver o problema da entrada de água para dentro do fato, que acontecia sempre que o putativo mergulhador mudava a posição do capacete. Siebe, ao acoplar o capacete a um fato impermeável de lona e instalar uma válvula, tornou-o hermeticamente fechado, permitindo assim o seu uso.
Outras tentativas prévias, de menor sucesso, ocorreram ao longo da história, com uma em particular a ter uma ligação a Portugal: Anthony Knivet, pirata inglês, diz no seu livro The Admirable and Strange Adventures of Master Anthony Knivet, de 1590, ter sido capturado por portugueses e obrigado, com pouco sucesso, a tentar resgatar canhões afundados utilizando para isso um proto-escafandro, rudimentar.
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Capacetes em cobre de dois escafandros.
4. Mark V, um ícone da Marina Norte-americana
Os escafandros Mark V são provavelmente o equipamento deste tipo que esteve mais tempo em uso: os mergulhadores da Marinha dos Estados Unidos da América "vestiram-no" com frequência entre 1916 e 1980.
DOMÍNIO PÚBLICO
Mergulhadores de profundidade da Marinha dos Estados Unidos (United States Navy), em 1947, a prepararem-se para, no âmbito do Bikini Resurvey Project, fazer um levantamento visual do porta-aviões USS Saratoga, afundado num ensaio nuclear na região do atol de Bikini em 1946. Fonte: United States Navy - Donaldson Collection of South Pacific Radiological Surveys.
5. REINVENTANDO-SE POR AÍ...
Embora para muitas situações os escafandros tenham sido substituídos por equipamentos com alimentação de oxigénio autónoma, como os Aqualungs e derivados, ainda são "vestidos" com frequência, principalmente devido à sua protecção adicional para o mergulhador e maior resistência à pressão.
Um exemplo de um escafandro moderno é o Exosuit, que permite ao seu utilizador trabalhar a mais de 300 metros de profundidade em (relativa) segurança.
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Um exosuit (exoesqueleto motorizado) de alta tecnologia permite mergulhar mais fundo do que antes. Foi inspirado no velhinho escafandro.