O estudo material e técnico dos frescos de Abrantes integra o Projeto PRIM’ART-Redescoberta da Arte Mural em Portugal, uma iniciativa do Laboratório HERCULES da Universidade de Évora.

Milene Gil, especialista em pintura mural e investigadora do Laboratório HERCULES, conta que os azulejos não estavam colados à parede, nem esta fora picada, o que poupou as composições originais. “Talvez tenha havido uma mudança de gosto, com a associação dos azulejos a um retábulo renascentista já desaparecido”, diz. Ou talvez tenha existido alguma sensibilidade pelas pinturas preexistentes “o que, sendo menos frequente, não é caso único”, acrescenta.

O investigador Luís Urbano Afonso, na sua tese de doutoramento, ajudou a datar os frescos, comparando os motivos decorativos mais pequenos e de cariz geométrico da capela-mor com motivos idênticos na Igreja de São Francisco de Leiria (1492-1510), no Convento de São Francisco de Guimarães (1500) e na Capela do Paço de Sintra (1500--1510). Existe também uma gravura da oficina do mestre alemão Israhel Van Meckenem, datada de cerca de 1492, onde eles figuram.

O investigador sugere que as pinturas da Igreja de Santa Maria do Castelo poderão ser do início do século XVI.

Com base nesta data, o investigador sugere que as pinturas da Igreja de Santa Maria do Castelo poderão ser do início do século XVI. “No caso específico das duas figuras da capela-mor, é muito possível estarmos em presença de um dos testemunhos mais antigos de buon fresco com acabamentos a cal que existe no país”, refere Patrícia Monteiro, do Instituto de História de Arte da Universidade de Lisboa. A figura superior, de um homem com barba, foi identificada como o profeta Jeremias, mas a figura no registo inferior (à esquerda) não apresenta qualquer elemento iconográfico que permita a identificação. Foram ainda detectadas figuras desvanecidas como São Jorge golpeando um dragão. Pigmento a pigmento, os especialistas continuam a escrutinar a inspiração artística do passado – um dia oculta, mas não para sempre.

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