Dust Bowl, a revolta da natureza nos Estados Unidos

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Dust Bowl

A maior e mais prolongada catástrofe natural registada nos Estados Unidos foi o chamado Dust Bowl, a tempestade de poeira que afectou sobretudo os estados de Colorado, Kansas, Novo México, Texas e Oklahoma, na região das Grandes Planícies.

Quando se soltou a erva das pradarias

Desde o início do século XX, nas Grandes Planícies dos EUA, as extensões de erva que anteriormente alimentavam as manadas de bisontes e mais tarde os rebanhos de gado recuaram. O preço da carne baixara e muitos proprietários tinham decidido converter as pastagens em terrenos de cultivo intensivo de trigo, uma vez que o preço deste cereal disparara devido à procura crescente por parte das nações beligerantes na Grande Guerra. Além disso, na década de 1920, o clima fora inesperadamente ameno, com mais precipitação do que o normal naqueles territórios semiáridos.

Entre 1930 e 1940, começaram as secas. Despojada das raízes das gramíneas, que retêm terra e humidade, a camada superior do solo converteu-se em poeira arrastada pelos fortes ventos primaveris, dando lugar àquilo que se chamou as “ventanias negras”. O fenómeno agudizou-se a partir de 1932: registaram-se 14 episódios nesse ano e 38 em 1933. Tinham o aspecto desta fotografia, captada em Maio de 1936, nas imediações de Lamar, no Colorado.

A terra da desolação

Sobre os habitantes das planícies caiu o apocalipse. Perdeu-se a colheita e a poeira (que até queimou a pintura dos carros) lesionou os olhos dos animais, deixando-os cegos; entrava-lhes no estômago quando comiam e nos pulmões quando respiravam. Inalando-o, os seres humanos sofriam de pneumonia ou febre do vale, produzida por um fungo presente no solo que se dispersava com as partículas em suspensão. Pragas de gafanhotos consumiam as plantas restantes.

A comida era escassa e a subnutrição e o raquitismo aumentavam. Montanhas de poeira cobriam tudo: em Dezembro de 1935, estimava-se que cerca de 850 milhões de toneladas de terra já tinham sido desalojadas das planícies do Sul só naquele ano. Esta imagem, de 13 de Maio de 1936, mostra um carro semienterrado, ao lado de maquinaria agrícola numa quinta em Dallas, no Dakota do Sul, na vasta planície sem árvores que eram então as Grandes Planícies.

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Os refugiados da Dust Bowl

“Sou um refugiado da Dust Bowl, / apenas um refugiado da Dust Bowl.” Começava assim Dust Bowl Refugee, uma das canções mais conhecidas de Woody Guthrie que foi forçado pela crise a abandonar o seu estado natal, Oklahoma, em busca de trabalho aos 19 anos, antes de se tornar um famoso cantor folk. Guthrie incluiu este tema no álbum Dust Bowl Ballads, gravado em 1940, onde estava também a não menos popular Do Re Mi, um aviso aos migrantes das Grandes Planícies sobre as dificuldades que os aguardavam na Califórnia. O cantor tinha sido um dos milhares de okies, o nome pelo qual eram chamados coletivamente esses migrantes, fossem ou não naturais do estado de Oklahoma, de cujas iniciais derivou esse apelido. Muitos empilharam os seus bens em automóveis débeis e partiram em busca de um futuro melhor nos campos da Califórnia a que Guthrie se referia. Era para ali que esta família de agricultores do Texas arruinada pela seca se dirigia, fotografada por Dorothea Lange em Abilene, Texas, em Agosto de 1936. No romance As Vinhas da Ira, publicado em 1939, o escritor John Steinbeck recriou esta saga através da história da família Joad.

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