É uma instituição antiga, com uma cultura própria e que sofre agora uma reforma profunda. A causa mais próxima da transformação é o papa Francisco, um homem que não pode ser compreendido sem um exame à sua relação com o país natal, a Argentina. Por outras palavras, a história do Vaticano na era do papa Francisco é muito mais do que uma fábula de fé religiosa e do seu líder. É, definitivamente, uma narrativa sobre o local e a cultura, tema ao qual a National Geographic Society se dedica desde 1888.
Nuvens cinzentas sobre a Cidade do Vaticano não conseguem reduzir a esperança que o papa Francisco, o 266º bispo de Roma, transmite na liderança da Igreja neste século XXI.
O projecto suscitou desafios únicos para jornalistas. Por um lado, o papa Francisco é uma maravilha da ubiquidade: é tema de notícias quase todos os dias e já se escreveram centenas de livros e reportagens sobre o seu papado. Em contrapartida, a instituição na qual o papa se insere é mais opaca. Antes de iniciar a minha reportagem na Primavera de 2014, a directora da revista, Susan Goldberg, o fotógrafo Dave Yoder e eu reunimo-nos em Roma para discutir o assunto com funcionários do Vaticano. No final da refeição, todos se comprometeram a apoiar os nossos esforços.
“Para apreender o sentimento deste homem, Francisco, bem… Eu rezarei por si.”
Em contrapartida, o arcebispo Cláudio Maria Celli alertou-nos para a circunstância de existir muito mais do que a primeira impressão do novo papa. Companheiro de Francisco há várias décadas, o arcebispo insinuou as subtilezas aparentemente contraditórias do homem, bem como as qualidades espirituais que escapam a uma descrição fácil. Com um sorriso complacente, o arcebispo comentou: “Para apreender o sentimento deste homem, Francisco, bem… Eu rezarei por si.”
Com a batina e solidéu brancos, o papa Francisco sorri aos fiéis na audiência geral. "Rezem por mim", pede. Em troca, recebe a adoração dos fiéis.
Beneficiando de acesso quase sem precedentes ao Vaticano e, sim, de algumas orações, a revista envolveu-se. O conteúdo aqui apresentado baseia-se em entrevistas conduzidas com funcionários do Vaticano durante o mês em que permaneci em Roma. Assisti a inúmeros eventos públicos, ao longo dos quais observei o papa de muito próximo. Depressa me apercebi de que os homens e mulheres que melhor o conhecem não residem na Cidade do Vaticano – são os seus companheiros porteños em Buenos Aires. E assim viajei também para lá e tive a sorte de passar algum tempo com dezenas dos seus amigos de longa data. Aprendi com eles dois factos básicos sobre Jorge Bergoglio. Primeiro: o novo papa é instantaneamente reconhecido pelos argentinos. Segundo: ele está cheio de surpresas e o mundo percebê-lo-á nos próximos anos.
Procurámos captar o extraordinário momento na história da espiritualidade humana.
A exuberância e a humanidade reflectidas nas páginas que se seguem testemunham o talento, o coração e o profissionalismo de David Yoder. Residente em Roma, Dave passou literalmente meses na Cidade do Vaticano. Foi uma sombra do papa Francisco no espaço monumental que expressa a exuberância artística do Renascimento.
Juntando a comovente perspectiva de Dave e as minhas ferramentas de reportagem, procurámos captar o extraordinário momento na história da espiritualidade humana – aquele em que um único indivíduo usa a mensagem mais simples para alterar uma complexa religião, com crentes em todo o globo.
Não perca a Edição Especial da National Geographic dedicada ao papa Francisco. Em 148 páginas, contamos-lhe tudo sobre o papa que veio dos confins da Terra.