Milhões de anos de movimentações da crosta terrestre e a contínua erosão dos terrenos transformaram profundamente a superfície da Terra. Onde actualmente se situa a serra de Aire, há cerca de 170 milhões de anos, num momento muito inicial da formação do oceano Atlântico, existiam praias lamacentas por onde passeavam dinossauros. A Pedreira do Galinha é um bom local para compreender como seria esse passado distante.

Do ponto alto onde se inicia a visita, no flanco leste da serra, avista-se ao longe a vasta bacia do Tejo com os sedimentos transportados e depositados pelo rio nos últimos 40 milhões de anos. Erguendo-se abruptamente na paisagem, as vertentes escarpadas (ou arrifes) apresentam rochas calcárias com cerca de 170 milhões de anos ao lado de rochas de idades muito mais recentes. Os sucessivos movimentos de afastamento e aproximação das placas tectónicas, responsáveis pela abertura do oceano Atlântico e pela formação de novos relevos, acompanhados por constante erosão e variações do nível do mar, permitiram a deposição de centenas de metros de sedimentos que se transformaram em rochas, bem como a sua posterior deformação e levantamento. Todos estes processos possibilitaram que rochas e fósseis que se encontravam a vários quilómetros de profundidade e tiveram origem em ambientes marinhos mais ou menos litorais, voltassem a estar agora na superfície terrestre, a alguns quilómetros do litoral. Estará portanto prestes a pisar um fundo de mar de há 170 milhões de anos onde ficaram marcadas pegadas de dinossauros.

dinossauros na pedreira

Infografia: Anyforms Design. Fonte: Vanda Faria Santos, “Pegadas de Dinossáurios de Portugal (2008)".

A vasta laje calcária exposta pela actividade de uma empresa extractiva, conhecida por Pedreira do Galinha, testemunha esse antigo ambiente litoral e oferece uma oportunidade rara de seguir, ao longo de dezenas de metros, pegadas fósseis do mesmo animal. Um dos aspectos fascinantes deste monumento natural é a possibilidade de compreender o modo e a velocidade de deslocação de um dinossauro que já não podemos ver.

Ao chegar à laje, poderá seguir o percurso sinalizado com cordas e caminhar ao lado de duas pistas de saurópodes que estão entre as mais longas e mais antigas que se conhecem.

As impressões das mãos e dos pés exibem marcas de dedos. A pista é larga com um espaçamento entre as pegadas do lado direito e as do lado esquerdo. Durante algum tempo, essa circunstância originou um desafio aos especialistas, pois uma pista larga de um saurópode cujas mãos tinham cinco dedos dispostos numa estrutura levemente arqueada constituía um paradoxo. Estas pegadas revelaram-se uma novidade para a ciência, contribuindo com a primeira prova da existência no Jurássico Médio de saurópodes capazes de produzir pistas largas (até então só eram conhecidos no Cretácico) e com uma estrutura de mãos mais primitiva do que a dos que surgiram por último no Cretácico. Depois de percorrer o circuito sinalizado na laje poderá ainda passear no “Jardim Jurássico” e contextualizar as pegadas na longa história do planeta Terra.