Em 1907, quando se descobriu urânio radífero na Rosmaneira (Guarda), o rádio já era a substância mais cara do mundo. Descoberto por Marie Curie, em 1898, valer-lhe-ia o Prémio Nobel da Química em 1911. Mas poucos conhecerão o papel de Portugal na pesquisa da francesa.

“Aqui das minas saiu minério para o laboratório de Madame Curie”, conta Rui Vide, administrador de uma empresa mineira de Mangualde. “Trabalhei na Empresa Nacional de Urânio e lembro-me de ver nos arquivos documentos relativos à expedição de material.” Havia então grande procura de rádio, pois tratava-se de uma substância rara, com efeitos promissores no tratamento oncológico. Para extrair 1 g, porém, eram necessárias oito toneladas de pecheblenda. 

Os depósitos de urânio em Portugal eram dos mais extensos do mundo. O minério mais pobre era tratado no Sabugal e o mais rico seguia para uma empresa francesa onde Pierre e Marie Curie eram consultores. Em 1933, porém, numa carta à Academia das Ciências de Lisboa, Marie mostrava dificuldade em reunir dados sobre os minérios de Portugal. Segundo Carlos Fiolhais, da Universidade de Coimbra, para lá da exportação, há outro laço luso nesta demanda pelo rádio. Investigadores como Mário Silva, Manuel Valadares ou Branca Edmée Marques, uma das primeiras mulheres cientistas portuguesas, foram alunos da francesa. O primeiro doutorou-se em 1928 quando se avizinhavam descobertas em física nuclear. Foi porém obrigado a regressar, apesar dos apelos de Curie para que continuasse em Paris.