Apesar das leis restritivas, da dureza dos seus dirigentes e da sua reputação como Reino dos Eremitas, há muito que a Coreia do Norte se abriu ao turismo. Durante muitos anos, empresas turísticas chinesas transportaram viajantes para este país para digressões milimetricamente planeadas ao quotidiano dos norte-coreanos. Quase todos regressaram sem incidentes.
Tudo mudou este ano. A morte, no passado dia 19 de Junho, do estudante universitário Otto Warmbier, anteriormente detido em Pyongyang e, de seguida, condenado em tribunal por roubo de um cartaz de propaganda num hotel, aumentou a tensão entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos.
À medida que Pyongyang prosseguia o desenvolvimento de armas nucleares e a possibilidade de uma guerra aumentava, o Ministério Norte-Americano dos Negócios Estrangeiros restringiu a utilização dos passaportes norte-americanos para viagens à Coreia do Norte.
Antes de a proibição se tornar efectiva, no passado dia 1 de Setembro, o fotojornalista David Guttenfelder juntou-se a um grupo de seis americanos desejosos de conhecer o país mais secreto do mundo. Ao longo de quase vinte anos, David tem sido um dos poucos jornalistas ocidentais autorizado a entrar na Coreia do Norte. Já ali fez mais de 40 viagens, algumas das quais para a National Geographic, documentando a vida no país.
Todos os viajantes mostraram-se motivados pela curiosidade e quase todos disseram ter ficado surpresos com o que viram. “Foi totalmente diferente das minhas expectativas”, declarou Amy Kang, uma norte-americana de origem coreana. Depois de tudo o que ouvira sobre o regime repressivo e a inexistência de liberdade, intrigou-a o facto de encontrar em Pyongyang um elemento de normalidade: pessoas com empregos e famílias, como em qualquer outro lugar.
O californiano Brad Yoon sentiu-se impressionado com a disciplina colectiva. “As pessoas são patriotas, sinceramente orgulhosas do seu país e das suas forças armadas e nutrem uma admiração genuína pelos seus governantes”, disse.
Como é óbvio, a viagem turística é realizada no interior de uma bolha de previsibilidade e calma. Não foram autorizadas quaisquer deslocações repentinas, nem surpresas. Houve visitas sob supervisão a uma mercearia, a uma pista de bowling, a uma cervejeira e a um circo. Ninguém mencionou as ameaças nucleares do país, nem a troca de palavras entre Kim Jong-un e Donald Trump. Durante a viagem, realizada em finais de Agosto, as forças armadas da Coreia do Norte dispararam um míssil sobre o Japão, desencadeando protestos da comunidade internacional. David soube do caso no Twitter, através da cobertura limitada de 3G do seu telemóvel. Nenhuma das pessoas do grupo, incluindo os guias, sabia disso.
No entanto, era possível sentir a tensão. Segundo o repórter, os norte-coreanos pareciam mais tensos do que em visitas anteriores. Junto das estradas viam-se mais cartazes de propaganda do que o normal e estes visavam os Estados Unidos. No aeroporto, uma obra de arte representando crianças a construírem mísseis com blocos de construção parecia adequada.
A digressão incluiu uma visita à Zona Desmilitarizada (DMZ). Para os turistas norte-americanos, a iminente proibição de viajar também conferiu mais urgência à compra de recordações. As lembranças especialmente populares eram os cartazes de propaganda antiamericana.