Todos os anos, o Prémio Nobel é atribuído a uma personalidade eminente do mundo em cada uma destas seis categorias: Química, Física, Fisiologia ou Medicina, Literatura, Paz e Economia. É um prémio internacionalmente reconhecido que representa uma das mais altas honras que um indivíduo, ou um grupo de indivíduos, pode receber, e que destaca os feitos extraordinários em várias disciplinas desde o início do século XX. No entanto, por detrás desta pormenorizada e prestigiada cerimónia de entrega de prémios, existe um meticuloso processo de selecção e avaliação que raramente é exposto ao público.
NOMEAÇÕES E JÚRI
O processo de selecção do Nobel começa com as nomeações. O órgão responsável por regular esta fase é o chamado Comité Nobel norueguês, um grupo de cinco intelectuais seleccionados por votação no Parlamento norueguês. Este grupo de indivíduos é responsável, todos os anos, por escolher as diferentes personalidades a serem nomeadas para os Prémios Nobel de cada categoria.
Assim, em Setembro do ano anterior ao ano em que os prémios são atribuídos, o Comité envia convites a diferentes especialistas em cada área para actuarem como jurados. Estes podem ser professores universitários, especialistas nas diferentes áreas do conhecimento ou anteriores laureados com o Prémio Nobel. É de salientar que cada um deles está totalmente proibido de se nomear a si próprio como candidato e deve apresentar as suas nomeações antes do início do ano seguinte.
Assim, são responsáveis por seleccionar as personalidades que consideram merecer receber o prémio nesse ano. Embora as regras variem de categoria para categoria, em geral não há limite para o número de nomeações que cada nomeador pode fazer, o que é ideal para que as figuras com um conhecimento profundo de uma área possam nomear tantos candidatos quantos considerem adequados. E, embora os números variem de ano para ano, estima-se que, para cada prémio, o Comité Norueguês receba pelo menos 200 nomes para cada uma das categorias.
Fundação José Saramago
Cerimónia de entrega do Prémio Nobel de 1998 na Academia Sueca.
A AVALIAÇÃO
Uma vez que o Comité dispõe de uma extensa lista de candidatos, inicia-se a fase mais crítica e minuciosa do processo: a avaliação das propostas. Assim, para cada uma das categorias, é constituído um comité de selecção específico, composto por especialistas altamente qualificados em cada uma das áreas de conhecimento e com uma vasta reputação no seu ramo. O comité de selecção é responsável pela análise exaustiva de todos os méritos de cada candidato. Para tal, estudam em profundidade as suas contribuições, publicações, investigações, descobertas, realizações literárias, projectos humanitários, esforços de paz ou avanços económicos, conforme o caso.
O âmbito deste processo é internacional. Ou seja, estes comités de selecção incluem normalmente peritos de todo o mundo, o que é essencial para garantir que a avaliação é um processo imparcial, abrangente e global. Além disso, o comité segue critérios rigorosos que variam consoante a categoria. Por exemplo, na ciência, a originalidade do trabalho e o impacto na investigação são altamente valorizados, enquanto na literatura é dada mais importância à qualidade do trabalho e à influência na cultura literária a nível mundial.
Ao longo do processo de avaliação, que dura meses, é normal que os comités de selecção se reúnam em várias ocasiões para discutir as suas opiniões sobre os diferentes candidatos e as suas realizações. Estas reuniões tornam-se momentos cruciais na selecção dos vencedores, uma vez que permitem a partilha de opiniões e a elaboração de uma pequena lista de potenciais vencedores. Esta selecção detalhada de alguns nomes é transmitida às instituições responsáveis pela atribuição do Prémio Nobel em cada categoria.
O SEGREDO MAIS BEM GUARDADO
Sabia que as nomeações não podem ser tornadas públicas até 50 anos após a entrega de cada prémio? Este é, sem dúvida, um dos aspectos mais enigmáticos do prémio, uma vez que o número de candidatos, as nomeações feitas pelos nomeadores e a pequena lista de potenciais vencedores têm de permanecer secretos durante cinco décadas. Trata-se de um método para garantir a confidencialidade do processo e, em parte, acrescentar um certo mistério ao processo de selecção.
Para verificar que esta regra é levada à risca, os nomeadores, os comités de selecção e as instituições responsáveis pelo Prémio Nobel têm de fazer um juramento de sigilo absoluto, segundo o qual se comprometem a não revelar qualquer informação sobre as nomeações ou sobre as discussões de eleição aos candidatos ou a outras pessoas à sua volta.
CC
Alfred Nobel, inventor e químico sueco que utilizou a sua fortuna para fundar a Fundação Nobel, com a condição de que esta atribuísse uma série de prémios anuais às pessoas que mais contribuíssem para diferentes categorias: os Prémios Nobel.
Como se isso não bastasse, após a apresentação dos vencedores, todas as nomeações são guardadas num arquivo fechado sob a protecção da Fundação Nobel, na Suécia. Aí, a informação é arquivada durante 50 anos, um período de tempo marcado no testamento de Alfred Nobel para garantir a integridade do processo.
OS VENCEDORES
O ponto alto dos prémios é, sem dúvida, a eleição dos vencedores. E, talvez fique surpreendido por saber que, apesar do longo processo de escolha dos candidatos e das recomendações do comité de selecção, as instituições responsáveis por cada categoria podem optar por seguir essas recomendações à letra ou, no final, tomar decisões completamente independentes com base na sua própria avaliação.
No entanto, qualquer que seja a decisão, uma vez seleccionado um vencedor para cada categoria, a escolha é tornada pública. Assim, no início de Outubro de cada ano, em dias diferentes, os nomes dos vencedores são publicados como resultados decisivos e sem possibilidade de recurso. Finalmente, no dia 10 de Dezembro, são entregues os prémios – o Prémio Nobel da Paz em Oslo e os outros prémios em Estocolmo.
PORQUÊ UM PRÉMIO EM DOIS PAÍSES?
Nem a própria página oficial do Prémio Nobel dá uma resposta peremptória a esta pergunta: "Ninguém sabe ao certo porque é que Alfred Nobel queria que o Prémio da Paz fosse atribuído por um comité norueguês – ou o que o levou a incluir a Noruega no processo do Prémio Nobel", podemos ler no cabeçalho do artigo "Porquê a Noruega?".
Porém, aquele que foi até 2014 director do Instituto Nobel norueguês, o historiador Geir Lundestad, avançou com várias hipóteses a que chamou "inferências informadas". Quais? Apesar de sueco, o químico, engenheiro e filantropo redigiu o seu testamento no Clube Sueco-Norueguês de Paris, numa altura em quea Noruega e a Suécia eram uma união. Nobel nutria ainda uma especial admiração pela ficção norueguesa, particularmente pelo escritor Bjørnstjerne Bjørnson, um activista pela paz na década de 1890, período em que o parlamento norueguês procurava uma solução pacífica para a tensão entre uma Suécia militarizada e uma Noruega desarmada. O "pai" do Prémio Nobel não viveu, contudo, para presenciar à dissolução, em 1905, dos Reinos Unidos da Suécia e da Noruega cuja fundação remontava ao ano 1814.