Mazouco é uma pequena localidade com menos de duzentos habitantes, mas entrou no mapa graças à gravura rupestre de um equídeo. A sua descoberta deu-se num planalto xistoso entre a ribeira da Albargueira e o imenso rio Douro, revelando um conjunto de figuras datadas do Paleolítico, entre as quais sobressaem nitidamente os contornos de um cavalo de dimensão relativamente reduzida. Não tem mais do que 62 centímetros, mas atesta a arte criativa de quem o gravou – provavelmente com lascas de granito que abundam na margem oposta da ribeira. O sentido artístico, atendendo à época, é notável, pois denota uma dinâmica nas patas produzida pela capacidade de gravar com a técnica a contorno.

Esta figura é apenas a gravura central de um puzzle que se estende em redor, como se de uma peça de teatro se tratasse: na totalidade, existem mais quatro figuras bastante desgastadas pela erosão, mas que indiciam, pelos vagos traços que o tempo consumiu, que representariam também equídeos.

O que torna o cavalo de Mazouco algo tão diferente em relação a outras é o facto de se encontrar ao ar livre, fugindo à normalidade conhecida. Na era glaciar, os artistas da pré-história, legitimamente, executavam muitas das suas criações ao abrigo das grutas onde habitavam. E é igualmente mais provável que sobrevivesse até aos nossos dias arte rupestre de grutas e abrigos do que as produções ao ar livre, mais sujeitas a erosão e desgaste.

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Provavelmente, o cavalo de Mazouco… era uma égua, uma vez que o ventre é desenhado em duas linhas que formam uma curvatura, uma sugestão de que se trataria de uma fêmea grávida. Cabe ao visitante tentar decifrar a dúvida, seguindo as linhas que foram traçadas há mais de dez mil anos.

Afinal, uma égua grávida ou a tentativa de dar realce à imponência do animal são questões difíceis de deslindar tantos anos depois. Certo é que, visitando o cavalo de Mazouco, não é difícil imaginar um grupo nómada dos nossos antepassados distantes assentarem acampamento entre dois cursos de água vitais para a sua sobrevivência e gravarem nos painéis vizinhos a realidade com que conviviam.

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