Jefrin Bayona já está atrasado para a escola e pouco passa das 6 horas da manhã. “Mal dormi esta noite”, confessa o aluno de 15 anos. “O bebé acordou--me às 10, à meia-noite e às quatro da madrugada.” Nesta região das planícies rurais do Noroeste da Colômbia, as aulas começam cedo. Jefrin esfrega o rosto cansado com a mão enquanto dá goles no seu chocolate quente. “Estiven”, o seu filho pequeno, está sentado, em silêncio, numa cadeirinha de bebé no chão da modesta sala de estar.
Felizmente para Jefrin, esta incursão precoce na paternidade termina hoje: é um dos participantes num programa de imersão total organizado pela sua escola com o objectivo de evitar a gravidez entre adolescentes. “Estiven” é, na verdade, um bebé robótico, concebido para simular as necessidades de um bebé com um mês de vida – chorando em intervalos programados para incitar os alunos a alimentá-lo, fazê-lo arrotar ou mudar-lhe a fralda. As reacções são monitorizadas e registadas e os alunos são avaliados pela rapidez com que reagem. Um bebé que permanece demasiado tempo sem atenção desliga-se e reduz a nota do aluno.
Jefrin cuida do bebé há 48 horas e este adolescente, geralmente extrovertido e animado, mostra-se visivelmente exausto. Chega à escola cinco minutos depois de a campainha tocar e entrega o bebé à colega Alexandra Guerrero, de 15 anos, a mãe atribuída para o próximo turno de dois dias.
Cerca de 17 milhões de raparigas adolescentes dão à luz anualmente em todo o mundo, enfrentando riscos de saúde durante a gravidez e desafios económicos para o resto da vida – para si e as suas famílias. Educação e sonhos de futuro são frequentemente abandonados por estas jovens mães. A América Latina tem a terceira maior taxa de gravidez adolescente do mundo. Embora a taxa global tenha diminuído na última década, na América Latina o ritmo de decréscimo é menor do que nas restantes regiões. Na Colômbia, uma em cada cinco mães tem entre 15 e 19 anos. As adolescentes rurais pobres correm maiores riscos de gravidez precoce.
E é isso que nos traz às salas de aula de uma escola pública na vila colombiana de Tame.
O programa no qual Jefrin, Alexandra e 100 colegas do nono ano, com idades compreendidas entre 14 e 16 anos, participam – com o consentimento dos pais – visa prevenir a gravidez precoce. Além do exercício de dois dias com o simulador de bebé, os alunos frequentam um curso de 30 horas que abrange os princípios essenciais da educação sexual, o uso de contraceptivos, debates sobre estereótipos e papéis de género, violência doméstica e orçamentos familiares. Os alunos têm de ser aprovados num exame final sobre estes tópicos e escrever um ensaio ou fazer um vídeo sobre as suas experiências com os bebés.
“A educação sexual e a simulação são importantes e reforçam-se mutuamente”, diz Camila Guzmán, directora do programa Bebé? Pensa bem nisso! “O objectivo não é assustar os alunos. Queremos desenvolver uma consciência em relação ao sexo e à gravidez. É claro que podem ter filhos… quando estiverem prontos.”
Os bebés robóticos foram concebidos nos Estados Unidos há mais de 20 anos e o programa já foi implementado em todo o mundo. Contudo, é relativamente caro. Custa cerca de oitenta euros por aluno na Colômbia e exige vários instrutores. Isso levanta questões de adaptabilidade nos países em desenvolvimento com escassez de recursos. Em contrapartida, revela-se eficaz. Num estudo que envolveu mais de 1.400 alunos, o programa reduziu a taxa de gravidez adolescente em 40%.
Após o curso de uma semana, Alexandra, que planeia formar-se em engenharia na faculdade, está determinada em adiar a maternidade. “Não quero ter um filho agora. Não sou capaz de cuidar dele”, afirma. “Talvez quando tiver 25 ou 26 anos, depois de concluir os estudos.”