A galeria dos vice-reis em Velha Goa concentra uma colecção única de iconografia das mais importantes figuras portuguesas na Índia entre os séculos XVI e XIX.
Para António Candeias, químico de formação e fundador do Laboratório HERCULES da Universidade de Évora, a galeria foi também uma obsessão. Há mais de uma década que a história deste curioso património artístico interessa ao investigador que se aliou ao conservador-restaurador Miguel Mateus, entretanto desaparecido, e à investigadora Teresa Reis, para explorar a sua atribulada história através de fontes documentais e testemunhos orais.
ANTÓNIO LUÍS CAMPOS
Para estudar as pinturas, foi preciso deslocá-las para o piso térreo, onde foram submetidas a exames de raios X, numa sala isolada. Este quadro com uma representação de Luís de Mascarenhas esconde "por baixo" uma segunda versão de João Saldanha da Gama.
A equipa chegou a entrevistar Adriano Moreira, ministro do Ultramar entre 1961 e 1963, apurando pormenores minuciosos sobre a operação de resgate dos soldados portugueses em cativeiro na Índia e de como o agente Jorge Jardim recuperou também o quadro de Afonso de Albuquerque, desde então exposto no Museu Nacional de Arte Antiga.
Com a participação de investigadores dos Laboratórios José de Figueiredo e HERCULES, desvendaram-se os segredos desta colecção de pinturas repintadas e alteradas ao longo da história. O prémio desta perseverança, que implicou tanto conhecimento científico como diplomacia ao mais alto nível, teve como fruto, entre outras descobertas, a identificação da pintura original de Afonso de Albuquerque.
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ANTÓNIO LUÍS CAMPOS
Na fotografia, o químico António Candeias faz os últimos ajustes para um exame completo de macro-XRF ao retrato de Nuno Álvares Botelho, sob o qual, na verdade, está a representação do conquistador de Goa.
Artigo complementar à reportagem "Os Palimpsestos de Goa". Ambos os artigos foram publicados originalmente na edição de Julho de 2023 da revista National Geographic (nas bancas).