Larnakes

Sob a urna, na rocha, uma cavidade cheia de cinzas permitiu concluir que as duas larnakes eram urnas cinerárias.

O Museu da Lucerna de Castro Verde é o fiel depositário de uma enorme quantidade de materiais da I Idade do Ferro (séculos V e IV a.C.) encontrados no concelho. Todo o espólio prova que as influências culturais dos povos que se desenvolveram no Mediterrâneo Oriental chegaram a este ponto do interior ibérico.

Numa das estações arqueológicas de Castro Verde, designada por Neves I, foram recolhidas na década de 1980 pelo autor e por Maria Maia duas peças em que é nítida a influência das culturas do Mediterrâneo sobre as sociedades desta região. Trata-se de duas larnakes (urnas cinerárias) de forma aproximadamente paralelepipédica, estando as peças sobrepostas.

Larnakes

A primeira era constituída por uma caixa de fabrico pouco cuidado, mas com uma tampa que evoca a pele de boi estendida. A pele de boi era a forma dos lingotes de bronze que circulavam no Egeu em finais do segundo milénio antes de Cristo como moeda e pesavam cerca de 27,5 quilogramas. Já no primeiro milénio a pele de boi torna-se um símbolo do poder. Ligada à rainha Dido, que tendo fugido de Tiro aportou no Norte de África, aí entrou em negociações com os habitantes desta região e pediu o terreno que caberia numa pele de boi. A população autóctone aceitou a proposta e a rainha mandou cortar a pele de boi numa linha muito fina que usaria para marcar a área ocupada pela cidade de Cartago. Hoje, pensa-se que a pele de boi seria, na realidade, um lingote de cobre.

A larnax encontrada sob a anterior, tinha também uma forma paralelepipédica, mais cuidada, com abas decoradas com volutas e no interior, ao centro, tinha um vaso sem fundo manufacturado, fazendo parte da mesma peça. A forma das caixas e a existência de cinzas neste contexto sugere que se tratava da sepultura dos chefes daquele aglomerado habitacional nas imediações de Castro Verde, que escreveram para a posteridade uma página memorável.