Os fenómenos eléctricos começaram a ser estudados na Antiguidade, mas só no início do século XVII foram analisados numa perspectiva científica.
William Gilbert (1544-1603) distinguiu o efeito produzido por pedaços de magnetita da electricidade estática que surgia ao esfregar uma peça de âmbar. Daí a sua denominação “electricidade”, que procede do termo grego élektron, que significa “âmbar”. No entanto, apenas em 1646, os termos “eléctrico” e “electricidade” surgiram pela primeira vez na obra Pseudodoxia Epidemica, do escritor inglês Thomas Browne. Um século depois, começaram a ser feitas novas abordagens por investigadores, como os britânicos Henry Cavendish e William Watson, o francês Charles-François de Cisternay du Fay ou o holandês Pieter van Musschenbroek. Paralelamente, o americano Benjamin Franklin defendeu, pela primeira vez, que a electricidade era uma força que circulava entre pólos de cargas positivas e negativas e que os raios das tempestades eram uma forma de electricidade. Uma teoria que seria desenvolvida graças ao trabalho de cientistas como Luigi Galvani, Charles Coulomb e, acima de tudo, Alessandro Volta.
Um cientista precoce
Volta nasceu em Como, uma cidade da região italiana da Lombardia, no dia 18 de Fevereiro de 1745. A mãe pertencia à pequena nobreza local e o pai era um abastado proprietário de terras da zona, que faleceu quando Alessandro tinha apenas 7 anos de idade. Esta circunstância fez que o futuro físico crescesse sob os cuidados da sua família materna, que lhe proporcionou uma esmerada formação académica, com o objectivo de fomentar nele a curiosidade humanística e conseguir que seguisse uma carreira dedicada às leis. Foi em vão. Grande observador, desde muito jovem, sentiu-se atraído pelos fenómenos da natureza; logo na adolescência, levou a cabo algumas experiências e, com apenas 18 anos, mantinha uma fiuida correspondência com os principais cientistas europeus interessados em electricidade. O resultado do seu interesse e da troca de opiniões foi a publicação do seu primeiro trabalho, em 1769: Sobre a força atractiva do fogo eléctrico.
Templo Voltiano. Localizado na sua Como natal, o Templo Voltiano é um edifício neoclássico de Federico Frigerio construído durante o centenário da morte de Alessandro Volta. Hoje é um museu que conserva tanto os objectos pessoais como os instrumentos ou as baterias utilizadas pelo cientista.
O nome de Volta começou a soar nos meios científicos. O reconhecimento tornou-se oficial quando, em 1774, foi nomeado professor de Física da Escola Real de Como. Apenas um ano mais tarde, depois de intensas e laboriosas horas em laboratório, Volta conseguiu fabricar o que seria a sua primeira invenção: um aparelho relacionado com a electricidade que, na realidade, era uma versão aperfeiçoada do electróforo, um dispositivo utilizado para gerar electricidade estática construído pelo físico sueco Johan Carl Wilcke. Consistia em três discos metálicos, separados por um condutor húmido e ligados a um circuito externo, com o qual conseguiu, pela primeira vez na história, produzir corrente eléctrica contínua. A sua descoberta recebeu o nome de “electróforo perpétuo”, ou seja, um dispositivo que, uma vez carregado de electricidade, poderia transferi-la para outros objectos ao mesmo tempo que gerava electricidade estática.
A sua inquietação intelectual e o seu interesse pela ciência em geral levou-o a mudar parcialmente o seu objectivo e dedicar-se à investigação química. No entanto, não abandonou o estudo da electricidade e dos fenómenos relacionados com ela. Depois de horas de laboratório, os seus esforços foram recompensados quando, a partir da observação dos campos eléctricos da atmosfera, Alessandro Volta começou a fazer experiências com a ignição de gases num recipiente fechado utilizando o procedimento de fazer surgir uma faísca eléctrica no seu interior. O resultado do seu trabalho foi a descoberta, em 1778, de um hidrocarboneto gasoso viria a denominar-se “metano”.
O seu nome estava bem cotado, pelo que a Universidade de Pavia solicitou os seus serviços e, em 1779, nomeou-o professor titular da cátedra de Física Experimental na Faculdade de Ciências.
O encontro com Galvani
O novo cargo viria a abrir-lhe o caminho para o sucesso, pois foi precisamente na Universidade de Pavia que conheceu o homem que o levou a desenvolver a sua grande invenção: Luigi Galvani. O médico e fisiólogo italiano Luigi Galvani realizara uma série de estudos que lhe permitiram determinar a natureza eléctrica do impulso nervoso e, a partir de 1780, passou a incluir nas suas dissertações académicas algumas experiências práticas que demonstravam aos estudantes a natureza e propriedades da electricidade. Numa delas, aplicou uma pequena corrente eléctrica na espinal medula de uma rã morta, cujas pernas se contraíram ao recebê-la. Foi o resultado de uma descoberta casual: enquanto dissecava a perna de uma rã, o seu bisturi roçou no gancho de bronze do qual pendia a perna, que, como consequência da descarga, se contraiu espontaneamente.
Volta continuou a estudar este resultado até que, ao cabo de várias experiências, ficou convencido de que havia uma “electricidade animal” que identificou como a força que os músculos da rã impulsavam.
Alessandro Volta confirmou os resultados de Galvani, mas algo lhe dizia que as suas conclusões não estavam totalmente correctas. Essencialmente, faltava demonstrar quais eram os motivos pelos quais o músculo se contraía ao receber a descarga eléctrica. A teoria era, evidentemente, que a electricidade estava na origem do impulso nervoso, mas era necessário demonstrar como se transmitia e de onde vinha. Até então, Galvani encenara a sua teoria através de inúmeras e espectaculares experiências, que incluíam aplicar electricidade em cadáveres humanos para os fazer convulsionar. Estava convencido de que a origem da descarga não provinha do exterior, mas que era gerada dentro do próprio organismo vivo e que, mesmo morto, conservava a capacidade de conduzir o impulso e de lhe reagir. Galvani formulou, assim, a sua teoria da bioelectrogénese e Volta mostrou-se em total desacordo com ele. Para demonstrar as razões da sua oposição, a partir de 1794, começou a fazer experiências exclusivamente com metais, até chegar à conclusão de que o tecido animal não era necessário para produzir corrente eléctrica.
O confronto científico entre os princípios expostos respectivamente por Galvani e Volta ocupou todos os cenáculos da comunidade científica europeia durante mais de uma década. Por fim, Volta conseguiu construir a primeira bateria eléctrica da História, constituída por uma combinação de folhas de prata e zinco, entre as quais se introduzia um pedaço de cartão embebido em salmoura. Com isso, Alessandro Volta conseguiu demonstrar que não apenas as suas hipóteses relativas à origem da electricidade estavam correctas, como também oferecia, pela primeira vez, um instrumento com o qual os seus contemporâneos do mundo da ciência poderiam fazer experiências com correntes eléctricas implantadas por um circuito; ou seja, com electricidade dinâmica.
Em 1800, a criação da inovadora pilha voltaica encerrou a controvérsia entre Galvani e Volta e definiu os alicerces que permitiriam, a partir daí, utilizar a electricidade de forma massificada no mundo moderno.
A bateria eléctrica de Volta
Com o apoio de grande parte da comunidade científica, no dia 20 de Março de 1800, Alessandro Volta escreveu a Sir Joseph Banks, presidente da Royal Society de Londres, para lhe comunicar a descoberta daquilo a que chamou de “pilha voltaica”. Três meses depois, em 26 de Junho de 1800, Banks não perdeu mais tempo e leu a comunicação publicamente numa sessão ordinária da instituição. Posteriormente, vários cientistas da Royal Society comprovaram por si próprios a viabilidade do invento de Volta e, uma vez devidamente verificado, foi reconhecida a sua autoria e a experiência foi certificada.
Volta iniciou, então, uma série de exposições públicas do seu invento. Em 1801, fê-lo no Instituto de França, em Paris, a convite de Napoleão Bonaparte, que se tornou no seu primeiro defensor. Poucos meses mais tarde, os membros mais destacados da Academia das Ciências do Instituto Francês, tal como fizera a Royal Society experimentaram eles próprios o projecto de Volta e emitiram o correspondente relatório, que o validava perante a comunidade científica internacional.
A bateria. A primeira bateria unia uma série de pares de discos separados por pedaços de papelão ou feltro impregnados de salmoura (Templo Voltiano, Como).
Volta permaneceu em França até à queda do regime napoleónico em 1815. Nessa altura, o governo imperial de Viena nomeou-o director da Faculdade de Ciências da Universidade de Pádua, situada nas possessões austríacas de Veneto. Pouco depois, em 1816, os seus trabalhos científicos foram publicados, num total de cinco volumes, em Florença. Só viria a exercer como docente durante três anos. Em 1819, decidiu retirar-se da vida pública e refugiar-se em Camnago, perto de Como. Ali faleceu no dia 5 de Março, de 1827, com 82 anos.
A sua memória continuou viva em Itália e na ciência. Mais de cinquenta anos depois da sua morte, em 1881, o Congresso Internacional de Electricidade, realizado em Paris, escolheu o seu apelido para designar a unidade de medida da força eléctrica: o volt.